A retirada dos cerca de 2 mil soldados americanos na Síria,anunciada pelo governo do presidente Donald Trump na última quarta-feira (19), indica uma mudança na estratégia dos Estados Unidos para a região.
A dita vitória sobre o Daesh acabou sendo um pretexto para os Estados Unidos deixarem o país sem o estigma da derrota.
Do ponto de vista econômico, os prejuízos começaram a se acumular, em uma região mais sintonizada com a Rússia. Não estava sendo um bom negócio para os Estados Unidos insistirem em se manter no papel de intruso.
A manutenção das tropas americanas, que chegaram ao país em 2014, gera altos custos. O ex-chefe do Estado-Maior Conjunto dos Estados Unidos, general Martin Dempsey, há alguns anos, alertou para o fato de que qualquer intervenção americana no país não custaria menos do que US$ 1 bilhão (R$ 3,91 bilhões) cada.
Exemplos anteriores, como no Iraque, durante a Segunda Guerra do Iraque, entre 2003 e 2008, e até mesmo no Vietnã, entre 1955 e 1975, mostraram que incursões mais longas trazem mais prejuízos do que benefícios ao país.
Com a saída americana, a Rússia e o Irã firmam-se como os principais atores dentro da política naquele país. Na visão do governo americano, não vale a pena bater de frente com a Rússia em uma área na qual ela tem sua influência fincada.
Neste sentido, o governo Trump está usando a máxima do ex-Secretário de Estado americano, Henry Kissinger (1973-1977).
“A falta de alternativas clarifica maravilhosamente a mente.”
Influência à distância
Isso não quer dizer, porém, que os Estados Unidos perderam toda a influência na região. A visão do governo americano é a de que, uma saída neste momento significa dar um passo atrás para ter a chance de, em seguida, dar dois para a frente.
Para tanto, além de os Estados Unidos contarem com Israel como um aliado, a venda de armas para alguns países que buscam a hegemonia regional, como a Arábia Saudita e o Egito, é uma maneira de manter a influência americana, mesmo sem a presença de tropas.
E, caso a situação ameace sair do controle, por exemplo, sob o pretexto de utilização de armas químicas por parte do governo de Bashar al-Assad, nada impedirá que os militares americanos voltem a atacar a região, sem, no entanto, necessitar da manutenção de um grande número de oficiais por lá.
Há ainda o fator Turquia. Não é do interesse da administração Trump intensificar o conflito diplomático com o governo de Recep Tayip Erdogan.
A Turquia, que é membro da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), tem sido um fiel da balança na região, tendo costurado acordos para instalação de usina e compra de aviões da Rússia.
Os americanos buscam manter o governo turco como aliado, mas a relação estava sendo arranhada por causa da parceria americana com o grupo curdo YPG (Unidades de Proteção Popular) no combate ao Daesh na Síria. Agora, não mais.
R7