Pesquisa do Instituto Oncoguia alertou para o uso de medicações ineficazes no tratamento de pacientes com melanoma (câncer de pele) metastático no Sistema Único de Saúde (SUS). Entre 2015 e 2017, 4.338 pacientes foram tratados na rede pública, 99,2% com quimioterápicos. O levantamento utilizou dados públicos do Ministério da Saúde.
“A maioria dos pacientes com câncer de pele metastático acaba morrendo. Até uns seis ou oito anos atrás, o tratamento tradicional usava quimioterápicos que sabidamente não tinham grande eficácia, mas eram a única opção. Além dessas quimioterapias, a gente usava imunoterapia antiga, que também não era muito eficaz, mas ajudava alguns pacientes retardando a progressão da doença”, explicou Rafael Kaliks, oncologista do hospital Albert Einstein e diretor científico voluntário do Oncoguia.
De acordo com o profissional, terapias modernas deram até mesmo a chance de cura aos pacientes. São a imunoterapia e a terapia-alvo. No entanto, os medicamentos não são oferecidos no sistema público de saúde brasileiro, apesar de aprovados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
“O mundo inteiro adotou isso. A partir do momento que se passou a usar terapia-alvo e imunoterapia para melanoma metastático, deixou-se de usar tratamentos antiquados, como quimioterapia, que não eram eficazes de qualquer maneira e tóxicos”, pontuou o especialista. “Em melanoma metastático, existe uma fração pequena, talvez de 15% dos casos que, apesar da doença metastática, acabam tendo uma resposta completa, ou seja, desaparecimento completo da doença. Quando a gente não oferece imunoterapia, a gente está privando o paciente da chance de ser curado”.
Segundo o Oncoguia, a justificativa do Ministério da Saúde para a não-inclusão seria o valor elevado dos tratamentos. No entanto, ele acredita que isso poderia ser contornado em benefício da população. “Se o Ministério fosse comprar a preço corrente essa imunoterapia, gastaria até 15 vezes mais. A imunoterapia é realmente muito cara, mas o que precisa é usar a força de barganha do ministério, que é imensa, para baixar brutalmente o preço. Eles fizeram isso com outras medicações”, argumentou Kaliks.
De acordo com o Instituto, o levantamento apontou a existência de prescrições de drogas reconhecidamente sem nenhuma eficácia para melanoma, como Etoposide, Irinotecano e Clicofosfamida, somando 1,4% do total. O segundo e maior grupo, representando quase 98% das prescrições, inclui medicações que, embora tenham sido historicamente as únicas alternativas para tratamento, são sabidamente pouco eficazes. Neste grupo se incluem quimioterápicos isolados ou em combinação (como dacarbazina, carmustina, platinas, taxanos, vimblastina) e imunoterápicos antigos, como Interferon. Entre os tratamentos considerados eficazes – o que representa apenas 0,71% do total analisado – figuram vermurafenibe, nivolumabe, ipilimumabe e interlucina em associação com quimioterapia (bioquimioterapia).
Para Luciana Holtz, presidente do Instituto Oncoguia, é um dever do SUS oferecer o melhor tratamento possível para a população. “O governo sempre fala que quer investir em drogas que podem curar as pessoas, que vão fazer a diferença na vida das pessoas. A gente tem esse medicamento hoje, então isso precisa acontecer”.
O Bahia Notícias entrou em contato com o Ministério da Saúde, mas não houve resposta até a publicação desta matéria.
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