O ex-diplomata norte-coreano Thae Yong-ho afirmou nesta terça-feira (19) diante da cúpula entre Pyongyang e Washington da próxima semana que o regime não tem intenção alguma de se desnuclearizar e que a meta é ser reconhecido como Estado nuclear pelos Estados Unidos.
“Não há dinheiro suficiente no mundo para convencer a Coreia do Norte a abandonar seu programa atômico”, afirmou com contundência Thae no Clube de Correspondentes Estrangeiros de Seul por ocasião da cúpula que será realizada entre 27 e 28 de fevereiro entre o líder norte-coreano, Kim Jong-un, e o presidente dos EUA, Donald Trump.
Segundo o funcionário de maior categoria do regime a desertar à Coreia do Sul nas duas últimas décadas, Kim traçou desde sua chegada ao poder em 2011 uma estratégia para que a comunidade internacional acabe vendo o programa de armas norte-coreano como um recurso indispensável para a sobrevivência do país.
“Eu tive constância que o plano passava por acrescentar a ameaça de uma guerra para justificar a existência do programa. E funcionou, porque Kim Jong-un conseguiu convencer ao mundo que um conflito nuclear com os EUA era possível”, explicou o ex-diplomata.
Nesse sentido, Thae, que foi encarregado de negócios da Embaixada norte-coreana em Londres antes de desertar em 2016, considerou que o discurso de Trump diante da ONU em setembro de 2017, no qual ameaçou “destruir totalmente” a Coreia do Norte em plena escalada armamentista do regime, “foi um grande erro estratégico”.
Thae acredita que Pyongyang está tentando convencer Washington que, se forem eliminadas as sanções, é capaz de eliminar determinados ativos de seu programa – sem se desnuclearizar totalmente – e deste modo deixar de representar uma ameaça direta para território americano.
Se alcançar este propósito, diz o ex-funcionário norte-coreano, o país asiático conseguiria deste modo acabar ser reconhecido extraoficialmente pelos EUA como Estado nuclear, como ocorreu com países como o Paquistão.
Thae também acredita que o regime está disposto a desmantelar instalações de seu centro de pesquisa nuclear de Yongbyon porque na realidade são “como um carro velho que já nem funciona” e advertiu da dificuldade de verificar o desarmamento em um complexo que conta com “mais de 390 edifícios”.
Espera-se que a cúpula que Kim e Trump em da semana que vem em Hanói (o Vietnã) possa servir para conseguir algum avanço nas conversas sobre o desarmamento de Pyongyang.
Na sua primeira cúpula de junho em Singapura, ambos líderes acordaram trabalhar para conseguir a desnuclearização da península coreana, mas o processo quase não mostrou avanços diante da falta de um roteiro.
R7