A maratona de grandes eventos sediados pelo Rio de Janeiro entre 2012 e 2016 fez com que o número de quartos nos hotéis da cidade saltasse de 30 mil para 60 mil. Com o fim dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos, entretanto, a rede hoteleira carioca passou a enfrentar dificuldades para manter todos esses quartos ocupados. Quase três anos depois, já chega a 14 o número de hotéis fechados na capital fluminense, lista que inclui estabelecimentos tradicionais como o Hotel Novo Mundo, no Flamengo.
Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Hotéis no Rio de Janeiro (ABIH-RJ), o pior já passou, e o momento atual é de retomada, após um réveillon “excepcional”, e um carnaval com 88% de taxa de ocupação – um crescimento de dois pontos percentuais em comparação ao ano passado.
O presidente da associação, Alfredo Lopes disse que as experiências de Barcelona e Londres já demonstravam que, após um grande evento como a Olimpíada, a taxa de ocupação cai pelo crescimento da oferta de quartos. A solução para lidar com esse movimento também já havia sido apontada pelos britânicos: investir pesadamente em promoção do turismo. Para Lopes, faltou essa iniciativa no caso do Rio de Janeiro.
“Há 30 anos, o Brasil derrapa em 6 milhões de turistas [por ano] por falta de investimento no turismo”, disse. Segundo ele, faltaram campanhas de promoção da cidade no exterior após a Olimpíada. “O governo, mesmo tendo investido esses bilhões [na preparação dos jogos], não botou um centavo em campanhas depois”.
Para Alfredo Lopes, notícias negativas sobre a violência e as sucessivas crises no país poderiam ter sido contornadas com esse investimento. “Notícia negativa acontece em qualquer lugar do mundo. Para você colocar coisas boas [na mídia], tem que pagar. É assim que funciona. Como não pagamos e não botamos campanha, só as coisas ruins chegam lá fora”, afirmou. Ele citou, como exemplo, cidades como Nova York, Londres e Paris, que investem em campanhas para melhorar imagem. “Em Nova York, Paris, Londres, quando acontece atentado, derruba [o turismo], mas depois o turista volta, porque eles têm campanhas recorrentemente”.
A ausência de promoção turística por parte do governo levou hotéis, shoppings, promoters e outros membros da iniciativa privada a investirem juntos na divulgação do calendário de eventos do Rio em 2019. Serão cerca de R$ 40 milhões investidos na promoção de acontecimentos já consagrados como o Rock in Rio (outubro), a Bienal do Livro (agosto) e o Réveillon (dezembro/janeiro) e também outros que são novidades, como o festival Villamix (novembro) e a Final da Copa América (julho).
“Estou otimista porque a iniciativa privada chegou à conclusão de que não adianta esperar o governo”, disse Lopes.
Poder público
Procurada pela Agência Brasil, a Empresa de Turismo do Município do Rio de Janeiro (Riotur) disse que não houve repasse de verbas para a divulgação do Rio nem investimento na participação de feiras internacionais e nacionais, das quais a cidade está fora há dois anos. “Porém, vale ressaltar que, mesmo com esse cenário desfavorável, a Riotur realizou o melhor Réveillon e também o melhor Carnaval de todos os tempos, com ampla e fundamental participação da iniciativa privada e números recordes de ocupação hoteleira, turistas na cidade e também movimentação na economia”, diz a resposta da Riotur, que destacou que esses eventos estão se traduzindo em maiores taxas de ocupação hoteleira.
O secretário estadual de turismo, Otávio Leite, também chamou a atenção para a importância de investir na divulgação dos eventos já programados para a cidade e na captação de novos. Leite lembrou que o governador, Wilson Witzel, vem chamando o turismo de “o novo petróleo” do Rio de Janeiro e afirmou que o governo está trabalhando em uma programação para a promoção do Rio dentro e fora do Brasil. “O Rio vive um momento de retomada, virando a página e apontando para o futuro com muita perspectiva de alcançar o status que merece, de vitrine e porta de entrada do Brasil no exterior e objeto de desejo e consumo de todos os brasileiros”.
Números
Em 2013, ano da Jornada Mundial da Juventude e da Copa das Confederações, o Rio de Janeiro teve uma ocupação média nos hotéis de 71,9%. No ano seguinte, o da Copa do Mundo, o percentual subiu para 72,4%. A partir daí, o percentual começa a cair com a inauguração de novos hotéis para os Jogos Olímpicos. Em 2015, a média foi de 65%, e, em 2016, quando a cidade já tinha quase o dobro de quartos que em 2013, houve uma ocupação média de 58%, com picos em janeiro (71%) e agosto (76%), meses do Réveillon e dos Jogos Olímpicos.
Em 2017, a taxa de ocupação ficou abaixo dos 50% entre abril e agosto, chegando a 39% em junho e atingindo o máximo de 64% em janeiro. Com esse resultado, a média anual caiu ainda mais, para 52%.
Já em 2018, houve uma pequena melhora nesse indicador. Maio (38%) e junho (39%) registraram percentuais inferiores a 40%, e esse foi o pior momento vivido pela indústria hoteleira carioca, na avaliação de Alfredo Lopes. A partir de julho, os números puxaram a média para cima, elevando a taxa de ocupação anual para 53%.
O excesso de oferta de quartos também baixou o preço das diárias, agravando a situação, segundo a ABIH-RJ. Nesse cenário, o número de quartos disponíveis na cidade caiu de 60 mil para perto dos 50 mil, o que se explica não somente com o fechamento dos 14 hotéis, mas também porque parte das vagas criadas para as Olimpíadas já foi pensada para ser convertida em residências.
Entre os 14 hotéis fechados, nem todos foram literalmente à falência. Parte deles preferiu fechar as portas para obras de modernização. “Muitas cadeias fecharam seus hotéis para, em vez de amargar prejuízos, usar o período para investimento na modernização”, explica ele. Para os que encerraram as atividades de vez, Alfredo Lopes disse que pesaram fatores como estar em partes mais degradadas da cidade e terem como concorrentes hotéis modernos que foram inaugurados para os grandes eventos que o Rio sediou.
Embratur
A Embratur disse, em nota à Agência Brasil, que o setor passa por novo momento com a aprovação da Lei Geral do Turismo na Câmara, a aprovação da entrada de até 100% de capital estrangeiro nas companhias aéreas e a isenção de vistos para originários dos Estados Unidos, do Japão, da Austrália e do Canadá.
“O governo federal já declarou que tem o turismo como agenda prioritária. O presidente Jair Bolsonaro, em Davos, durante o Fórum Econômico Mundial, disse que o turismo pode ser uma ferramenta para aceleração da economia”, diz a nota.
O instituto informou que o orçamento foi reduzido em 88,2% nos últimos seis anos, passando de US$ 72 milhões, em 2013, para US$ 8,5 milhões, este ano. Mesmo assim, segundo a nota, participou no mês passado da Internationale Tourismus-Börse (ITB), a maior feira de turismo do mundo, que acontece todos os anos em Berlim, na Alemanha.
Conferência
Na ITB, a OMT (Organização Mundial do Turismo) confirmou a realização de uma Conferência, em parceria com a Embratur, no Rio de Janeiro, nos dias 2 e 3 de dezembro, com o foco em inovação no setor turístico. Também na feira, anunciou novos voos internacionais para o Rio de Janeiro, representando um aumento de 20 mil assentos anuais.
Ainda no setor da aviação, a Embratur destacou o início dos voos regulares da companhia low-cost Norwegian, em 31 de março, partindo do aeroporto internacional Tom Jobim.
Conforme a nota, a abertura deste voo é resultado de um trabalho conjunto entre o Ministério do Turismo, a Embratur, o Itamaraty e os representantes da companhia, bem como do aeroporto RIOgaleão. “A vinda deste voo para o Rio foi intermediada pela Embratur”, disse o instituto em nota.
Agência Brasil