O presidente da França, Emmanuel Macron, disse que o país não vai medir esforços para reconstruir a Catedral de Notre-Dame, que foi parcialmente destruída por um incêndio de grandes proporções na noite desta segunda-feira (15). “O pior já foi evitado”, afirmou Macron em uma coletiva de imprensa.
“Esta catedral, vamos reconstruí-la todos juntos”, disse o presidente francês. “Vamos apelar para os maiores talentos e vamos reconstruir. Porque é isso que os franceses esperam, porque é isso que a nossa história merece. Foi um drama terrível e quero agradecer a todos os bombeiros que trabalharam aqui”.
O governo descartou inicialmente a hipótese de um incêndio criminoso e o mais provável é que as chamas tenham começado por causa da reforma que acontecia no topo da catedral.
Resistindo aos séculos
Desde o início da sua construção, em 1163, a Catedral de Notre-Dame resistiu a mais de 856 anos de história, guerras e revoluções, até o incêndio que quase a destruiu em 2019. O mau estado de conservação do prédio mais visitado de Paris pode ter sido decisivo para o incidente.
Com cerca de 13 milhões de visitantes anuais, a catedral estava passando por uma reforma que ainda estava nos primeiros estágios. Graças a isso, as estátuas que ficavam no telhado foram retiradas na semana passada e escaparam do incêndio.
Desvio de função
Após a Revolução Francesa, em 1789, a catedral foi tomada da igreja e se tornou um centro dos chamados Culto à Razão e Culto ao Ser Supremo, religiões estatais sem divindades estabelecidas pelo governo revolucionário para substituir o cristianismo.
Nesse período, o prédio foi dilapidado e vários de seus tesouros e obras de arte foram roubados ou destruídos. Eventualmente, o prédio foi perdendo a função e chegou a se tornar um depósito de comida.
Em 1801, Napoleão devolveu a catedral para a igreja e ela voltou a ser usada para fins religiosos, mas continuava depredada. Napoleão a usou como palco de sua coroação como imperador em 1804 e de seu casamento em 1810.
Reforma mal feita
A prefeitura de Paris chegou a cogitar demolir Notre-Dame, devido ao mau estado de conservação do prédio, mas a catedral foi salva pelo corcunda Quasímodo. O sucesso do livro “O Corcunda de Notre-Dame”, lançado por Victor Hugo em 1833, foi tão grande que a igreja voltou a ser alvo de visitantes.
No texto, Victor Hugo descrevia o péssimo estado de conservação da catedral. “Atrás de cada ruga na face desta velha rainha das nossas catedrais você encontra cicatriz”, escreveu o autor.
Em 1844, o rei Luís Filipe I ordenou a restauração do prédio. Sem muitos recursos, no entanto, a reforma foi feita ao longo de quase 30 anos, com materiais de baixa qualidade e usando até cimento para reparar juntas.
Tempos recentes
Depois do século 19, a última grande intervenção foi uma reforma na fachada e nas gárgulas no início da década de 1990, que não chegou a corrigir os problemas estruturais da catedral mais famosa da França.
Nos últimos anos, a arquidiocese e a prefeitura de Paris não conseguiam se entender sobre as reformas que deveriam ser feitas no local, até que os trabalhos começaram na parte superior da catedral, no fim do ano passado.
Com o incêndio, não há ainda uma previsão de quanto tempo a reconstrução de Notre-Dame vai demorar, mas a comoção já fez pelo menos um bilionário francês prometer uma verba de 100 milhões de euros (cerca de R$ 487 milhões) para recuperar um dos principais patrimônios de Paris.
R7