Método de estimulação da bexiga com agulha de acupuntura será apresentado no Congresso Norte Americano de Urologia em maio
Um estudo inédito desenvolvido por um grupo de pesquisadores da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública (EBMSP) é a base de uma nova forma de tratar a Bexiga Hiperativa, doença caracterizada pela dificuldade em segurar o xixi. Com menos efeitos colaterais e maior eficácia quando comparado a outros métodos, o tratamento foi testado e aprovado em crianças, mas também pode beneficiar adultos que sofrem com a incontinência urinária. A nova conduta terapêutica, que já está sendo utilizada com resultados positivos em crianças na Bahia, será apresentada no Congresso Norte Americano de Urologia em maio.
Conhecido como Percutanea Electrical Nerve Stimulation (PENS), o tratamento neuromodular da urgência miccional desenvolvido pelos pesquisadores apresenta a mesma taxa de sucesso dos tratamentos convencionais (60 a 70%), com vantagens associadas. “O PENS não apresenta os efeitos colaterais dos medicamentos habitualmente utilizados no tratamento da Bexiga Hiperativa, tais como retenção urinária, rubor facial, boca seca, constipação intestinal (prisão de ventre), entre outros. Ao contrário, ajuda também no esvaziamento intestinal”, destaca o urologista pediátrico Ubirajara Barroso Jr, um dos responsáveis pelo estudo piloto que será apresentado nos Estados Unidos no próximo mês e criador da nova técnica de tratamento.
O PENS também apresenta vantagens sobre o Transcutaneous Electrical Nerve Stimulation (TENS), outro método bastante utilizado para tratamento da incontinência urinária. “Ao realizar o PENS, nós fazemos a estimulação da bexiga por meio de uma agulha de acupuntura em regiões mais próximas aos nervos, o que causa menos incômodo do que no TENS. Além disso, ao longo do tratamento com o PENS, o procedimento só precisa ser feito uma vez por semana enquanto no TENS é necessário repetir a estimulação três vezes por semana. Nem todos os pacientes têm essa disponibilidade e para as crianças, especialmente, ter que ir tantas vezes ‘ao médico’ costuma deixá-las nervosas ou entediadas”, detalhou o urologista.
Ainda segundo o médico Ubirajara Barroso Jr, cerca de 10% da população mundial sofre de incontinência urinária. Em Salvador, esta taxa é menor, aproximadamente 7% das pessoas apresentam o problema que gera impactos diretos na qualidade de vida dos pacientes. O uso de fraldas descartáveis por crianças grandes ou adultos costuma gerar constrangimentos, incômodos e uma despesa ‘extra’ significativa, entre outros inconvenientes. Sem fralda em um evento social, por exemplo, uma pessoa com bexiga hiperativa pode passar por situações traumáticas.
Pesquisa – O estudo desenvolvido pelo Dr. Ubirajara, juntamente com seu grupo de estudos na EBMSP, foi realizado nas cidades de Salvador-BA e Juiz de Fora-MG através da observação aleatória de 800 crianças divididas em três grupos distintos: o primeiro, composto por pacientes com incontinência urinária e constipação intestinal; o segundo, por crianças com incontinência urinária, mas sem constipação intestinal; e o terceiro, formado por pacientes saudáveis, que não apresentavam nenhum dos dois problemas.
Ao longo da pesquisa, verificou-se que pelo menos 50% das crianças com incontinência urinária apresentaram influências psicológicas negativas em decorrência da doença. “As que mais apresentaram o problema no estudo populacional foram as crianças com constipação intestinal”, frisou o médico. Os resultados estimularam o desenvolvimento do PENS, que teve como mentor o Dr. Ubirajara Barroso Jr. “O novo tratamento soluciona a incontinência urinária na maioria dos casos sem causar efeitos adversos como a prisão de ventre”, destacou o especialista.
O grupo de estudos que criou o PENS é o que mais publica artigos sobre neuromodulação para distúrbios da micção em todo o mundo. Este tipo de tratamento, que visa melhorar o funcionamento ou a sensibilidade de um ou mais órgãos através da estimulação dos seus nervos, se dá através de estímulos elétricos, que agem diretamente nos nervos, modificando o funcionamento ou a sensibilidade dos órgãos acometidos por problemas, a exemplo da bexiga. A estimulação desses nervos produz uma resposta biológica que melhora os sintomas do paciente.
“O PENS é uma forma de neuromodulação sacral que, acreditamos, será consolidada como alternativa importante no tratamento da bexiga hiperativa e da incontinência urinária em crianças e adultos”, frisou o médico Ubirajara Barroso Jr, Professor Livre-Docente, Chefe da Disciplina e Unidade do Sistema Urinário da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e Presidente da Sociedade Brasileira de Urologia- Seção Bahia (SBU-BA).