Tabichi causou uma grande euforia no Quênia no último mês de março ao ganhar o prêmio Global Teacher Prize 2019, que lhe rendeu US$ 1 milhão (cerca de R$ 3,8 milhões).
Valorização dos professores
Ao receber a Agência Efe, Tabichi disse que tenta aproveitar a repercussão do prêmio para fazer uma defesa da valorização do trabalho dos professores e professoras no mundo todo.
“Os professores importam e podem ser grandes impulsores da mudança. Merecem o mesmo reconhecimento que médicos ou artistas”, opinou.
“Não se trata apenas do sucesso acadêmico, mas também de fazer deles pessoas que possam se encaixar na sociedade, cidadãos globais”, acrescentou sobre seus alunos este professor de 37 anos que, além de docente, é irmão franciscano.
Global e local
Embora possa parecer incongruente usar o adjetivo “global” em um lugar como a aldeia de Pwani — afastada, frequentemente castigada pela seca e assolada pela pobreza —, Tabichi usa tecnologia e métodos educacionais inovadores para ampliar o horizonte de seus alunos.
Este queniano, nascido no condado de Nyamira, cresceu no seio de uma família de docentes, “em um contexto muito humilde”, e experimentou na própria pele os métodos obsoletos da educação tradicional, algo que encarou como um “desafio”.
“Era uma educação mais baseada na teoria. Só podiam desenhar a flor ao invés de nos mostrar uma de verdade”, lembrou Tabichi.
Ensinando com bom humor
Agora, no entanto, Tabichi brinca com seus alunos durante as aulas em salas simples de paredes de tijolos. Para ensinar os elementos da matéria, convida os alunos a se levantar, a vibrar ou permanecer paralisados como fariam diferentes tipos de partículas.
Os alunos perguntam e explodem em gargalhadas, porque tudo cabe nas lições do jovem professor. Seu ensino, inclusive, transborda o ambiente escolar e o leva a visitar frequentemente as famílias dos seus alunos.
“Nesta manhã, por exemplo, visitei algumas casas antes de vir ao colégio, é algo que me permite entender o cenário completo, ver as coisas escondidas”, declarou o mestre.
Luta dos estudantes
Ainda que o condado de Nakuru, onde fica Pwani, não faça parte das áreas mais pobres do país, cerca de 95% de estudantes do colégio onde Tabichi trabalha vem de famílias pobres e quase um terço são órfãos ou só têm um dos pais, segundo a organização que concede o prêmio anualmente, a Fundação Varkey.
Alguns alunos têm que percorrer toda amanhã longas distâncias por caminhos de terra para frequentar a aula, como Salome Njeri, que caminha cerca de 50 minutos.
Esta jovem de 20 anos participa do Clube de Ciência do colégio, fundado por Tabichi, e foi uma das alunas selecionadas para a Feira de Ciência e Engenharia do Quênia de 2018, após inventar um dispositivo que permite que pessoas cegas meçam objetos.
Esse projeto também foi selecionado para a Feira Internacional de Ciência e Engenharia, que aconteceu este ano no Arizona (Estados Unidos), onde obteve o primeiro prêmio da sua categoria.
“Peter Tabichi foi nosso mentor desde o princípio, porque existe esta crença de que as meninas não podem fazer nada, e enfrentamos muitos problemas, como o fato de nossos companheiros, especialmente os meninos, nos desanimarem. Ele sempre nos disse que podíamos chegar longe”, relatou Njeri sobre este professor “único”.
Luta pelas mulheres
Tabichi sabe dos obstáculos adicionais que suas alunas podem encontrar nesta sociedade pelo simples fato de serem mulheres.
“Quando você quer empoderar a sociedade, tem que identificar onde esse empoderamento é mais necessário e há algumas normas que, realmente, proíbem as meninas de fazer certas coisas”, criticou o professor.
Apesar do seu tom sereno e longe de fazer reivindicações, este franciscano tem convicções claras que ficaram patentes no dia da entrega do Global Teacher Prize 2019 em Dubai, quando recebeu o prêmio vestido com seu hábito religioso, que não usa diariamente.
“A cor marrom do nosso hábito se associa com a terra, que é um elemento de simplicidade e humildade. Me sinto orgulhoso de estar associado à Mãe Terra”, comentou.
Terra e tecnologia se unem nas lições de Tabichi, que, por um lado, ensina horticultura para combater a insegurança alimentar da região e, por outro, usa as tecnologias de informação e comunicação nas suas aulas.
Pouca estrutura
Por enquanto, a escola conta apenas com um computador e uma precária conexão com a internet, um problema que o professor quer resolver com o dinheiro que recebeu junto com o prêmio.
Apesar da falta de meios deste colégio público, os professores podem ensinar em salas de aula espaçosas e mobiliadas, com paredes de tijolo e sob telhados metálicos pintados de azul como o céu.
Além disso, o local inclui um bucólico e discreto bosque, surgido graças a uma iniciativa de Tabichi: plantar árvores a favor da paz.
Após a violência pós-eleitoral que o Quênia viveu em 2007, alguns estudantes perderam familiares e, com a presença de sete grupos étnicos distintos nas salas de aula do colégio, o professor tinha que buscar uma maneira de uni-los e, assim, fundou o Clube da Paz.
“É algo que pode fazê-los se sentir plenos como cidadãos globais e não como membros de uma etnia específica”, refletiu o professor.
Homenagens e modéstia
O sucesso de Peter Tabichi gerou grande alegria em todo o Quênia — até o presidente Uhuru Kenyatta o felicitou — e lhe rendeu parabéns vindos do mundo todo.
No entanto, para ele, não se trata de um mérito pessoal, mas de “uma conquista da juventude da África”.
No entanto, para ele, não se trata de um mérito pessoal, mas de “uma conquista da juventude da África”.
R7
Tabichi causou uma grande euforia no Quênia no último mês de março ao ganhar o prêmio Global Teacher Prize 2019, que lhe rendeu US$ 1 milhão (cerca de R$ 3,8 milhões).
Valorização dos professores
Ao receber a Agência Efe, Tabichi disse que tenta aproveitar a repercussão do prêmio para fazer uma defesa da valorização do trabalho dos professores e professoras no mundo todo.
“Os professores importam e podem ser grandes impulsores da mudança. Merecem o mesmo reconhecimento que médicos ou artistas”, opinou.
“Não se trata apenas do sucesso acadêmico, mas também de fazer deles pessoas que possam se encaixar na sociedade, cidadãos globais”, acrescentou sobre seus alunos este professor de 37 anos que, além de docente, é irmão franciscano.
Global e local
Embora possa parecer incongruente usar o adjetivo “global” em um lugar como a aldeia de Pwani — afastada, frequentemente castigada pela seca e assolada pela pobreza —, Tabichi usa tecnologia e métodos educacionais inovadores para ampliar o horizonte de seus alunos.
Este queniano, nascido no condado de Nyamira, cresceu no seio de uma família de docentes, “em um contexto muito humilde”, e experimentou na própria pele os métodos obsoletos da educação tradicional, algo que encarou como um “desafio”.
“Era uma educação mais baseada na teoria. Só podiam desenhar a flor ao invés de nos mostrar uma de verdade”, lembrou Tabichi.
Ensinando com bom humor
Agora, no entanto, Tabichi brinca com seus alunos durante as aulas em salas simples de paredes de tijolos. Para ensinar os elementos da matéria, convida os alunos a se levantar, a vibrar ou permanecer paralisados como fariam diferentes tipos de partículas.
Os alunos perguntam e explodem em gargalhadas, porque tudo cabe nas lições do jovem professor. Seu ensino, inclusive, transborda o ambiente escolar e o leva a visitar frequentemente as famílias dos seus alunos.
“Nesta manhã, por exemplo, visitei algumas casas antes de vir ao colégio, é algo que me permite entender o cenário completo, ver as coisas escondidas”, declarou o mestre.
Luta dos estudantes
Ainda que o condado de Nakuru, onde fica Pwani, não faça parte das áreas mais pobres do país, cerca de 95% de estudantes do colégio onde Tabichi trabalha vem de famílias pobres e quase um terço são órfãos ou só têm um dos pais, segundo a organização que concede o prêmio anualmente, a Fundação Varkey.
Alguns alunos têm que percorrer toda amanhã longas distâncias por caminhos de terra para frequentar a aula, como Salome Njeri, que caminha cerca de 50 minutos.
Esta jovem de 20 anos participa do Clube de Ciência do colégio, fundado por Tabichi, e foi uma das alunas selecionadas para a Feira de Ciência e Engenharia do Quênia de 2018, após inventar um dispositivo que permite que pessoas cegas meçam objetos.
Esse projeto também foi selecionado para a Feira Internacional de Ciência e Engenharia, que aconteceu este ano no Arizona (Estados Unidos), onde obteve o primeiro prêmio da sua categoria.
“Peter Tabichi foi nosso mentor desde o princípio, porque existe esta crença de que as meninas não podem fazer nada, e enfrentamos muitos problemas, como o fato de nossos companheiros, especialmente os meninos, nos desanimarem. Ele sempre nos disse que podíamos chegar longe”, relatou Njeri sobre este professor “único”.
Luta pelas mulheres
Tabichi sabe dos obstáculos adicionais que suas alunas podem encontrar nesta sociedade pelo simples fato de serem mulheres.
“Quando você quer empoderar a sociedade, tem que identificar onde esse empoderamento é mais necessário e há algumas normas que, realmente, proíbem as meninas de fazer certas coisas”, criticou o professor.
Apesar do seu tom sereno e longe de fazer reivindicações, este franciscano tem convicções claras que ficaram patentes no dia da entrega do Global Teacher Prize 2019 em Dubai, quando recebeu o prêmio vestido com seu hábito religioso, que não usa diariamente.
“A cor marrom do nosso hábito se associa com a terra, que é um elemento de simplicidade e humildade. Me sinto orgulhoso de estar associado à Mãe Terra”, comentou.
Terra e tecnologia se unem nas lições de Tabichi, que, por um lado, ensina horticultura para combater a insegurança alimentar da região e, por outro, usa as tecnologias de informação e comunicação nas suas aulas.
Pouca estrutura
Por enquanto, a escola conta apenas com um computador e uma precária conexão com a internet, um problema que o professor quer resolver com o dinheiro que recebeu junto com o prêmio.
Apesar da falta de meios deste colégio público, os professores podem ensinar em salas de aula espaçosas e mobiliadas, com paredes de tijolo e sob telhados metálicos pintados de azul como o céu.
Além disso, o local inclui um bucólico e discreto bosque, surgido graças a uma iniciativa de Tabichi: plantar árvores a favor da paz.
Após a violência pós-eleitoral que o Quênia viveu em 2007, alguns estudantes perderam familiares e, com a presença de sete grupos étnicos distintos nas salas de aula do colégio, o professor tinha que buscar uma maneira de uni-los e, assim, fundou o Clube da Paz.
“É algo que pode fazê-los se sentir plenos como cidadãos globais e não como membros de uma etnia específica”, refletiu o professor.
Homenagens e modéstia
O sucesso de Peter Tabichi gerou grande alegria em todo o Quênia — até o presidente Uhuru Kenyatta o felicitou — e lhe rendeu parabéns vindos do mundo todo.
No entanto, para ele, não se trata de um mérito pessoal, mas de “uma conquista da juventude da África”.
No entanto, para ele, não se trata de um mérito pessoal, mas de “uma conquista da juventude da África”.
R7