Nesta quinta-feira, o presidente licenciado do SindMotoristas (Sindicato dos Motoristas e Trabalhadores em Transporte Rodoviário Urbano de São Paulo) e deputado federal, Valdevan Noventa (PSC), havia falado em “paralisação total” e “começo de uma batalha”. “Precisamos agir com estratégia e inteligência. Hoje (quinta), os motoristas levam os trabalhadores para casa, mas a partir da meia-noite, nenhum ônibus vai rodar. A partir das 8h (de sexta), vamos trazer os trabalhadores da categoria para um protesto na frente da prefeitura”, declarou. Ele disse que a paralisação seguirá por tempo indeterminado até que a Prefeitura decida negociar com a categoria.
Mas, depois, o Sindicato dos Motoristas e Trabalhadores Rodoviários Urbanos de São Paulo informou que vai acatar a decisão do Tribunal Regional do Trabalho de operar, nesta sexta-feira, com 70% da frota de ônibus da cidade durante os horários de pico, das 7h às 10h e das 17 às 20h, e 50% da frota durante o chamado interpico.
O protesto desta quinta-feira teve início por volta de 10h30, na rua Pirapitingui, na Liberdade, bairro onde está localizada a sede do sindicato. Horas depois, os corredores de ônibus na avenida 23 de Maio, rua da Consolação e avenida 9 de Julho, por exemplo, ficaram travados.
Devido à manifestação, a circulação dos ônibus foi prejudicada em 23 terminais. São eles: Amaral Gurgel, Aricanduva, A. E. Carvalho, Água Espraiada, Bandeira, Barra Funda, Campo Limpo, Capelinha, Guarapiranga, Grajaú, Jardim Ângela, Lapa, Mercado, Parque Dom Pedro II, Pinheiros, Princesa Isabel, Sacomã, Santana, Santo Amaro, São Miguel, Sapopemba, Varginha e Vila Carrão.
Como consequências, usuários de aplicativos de transporte denunciaram a alta dos preços das corridas, estações de metrô superlotadas e trânsito caótico. A Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) registrou índices de congestionamento acima da média durante a paralisação. Por volta das 17h, o órgão registrou 112 km de engarrafamento (a média é de 57 a 95 km). Cerca de 40 minutos depois, as métricas eram de 113 de trânsito, com média de 63 a 99 km. Às 18h, meia hora depois do anúncio do término do protesto, 120 de entupimento de veículos, para uma média de 67 a 105 km.
Na tentativa de reduzir o caos que se instaurou na capital, a prefeitura suspendeu o rodízio. Dessa forma, os veículos com as placas final 7 e 8 puderam transitar no centro expandido entre 17h e 20h. Nesta sexta, o rodízio também foi suspenso – a ação vale para carros com final 9 e 0.
Enquanto os ônibus não retomavam a circulação, os usuários improvisavam jeitos de retornar para casa. À espera da linha Cohab Educandário, cinco pessoas que não se conheciam até então tiveram tempo de fazer amizade e estavam articulando um plano para dividir um Uber, já que iriam na mesma direção. Parte desse grupo recém-formado, a copeira Edineide de Jesus, 33, havia saído do trabalho na Vila Olímpia de trem até o terminal Pinheiros e precisava continuar viagem até sua casa no Jardim João XXIII. “Amanhã nem saio de casa, a menos que a empresa pague o Uber. Não vou ficar no prejuízo. Já coloquei isso para minha supervisora no nosso grupo de Whatsapp.”
Quando o relógio apontava 17h30, o SindMotoristas anunciou a retomada dos motoristas aos postos de trabalho, mas a situação ainda era de uma São Paulo travada, somado a chuva que caía na cidade. “Agora, estamos retornando por causa da população, mas foi realizada uma assembleia e manteve a decretação de greve a partir de 0h no sistema”, afirmou Juscelino Medeiros, advogado do SindMotoristas.
Uma reunião entre membros do sindicato e a secretaria municipal de Transportes foi feita à tarde desta quinta. Valmir Santana da Paz, presidente interino do movimento, disse ter saído “entristecido”. “Nenhuma das nossas questões foi resolvida. Não vamos deixar trabalhadores perderem seus empregos. Não vamos rodar amanhã”, disse. A prefeitura, por sua vez, não havia se manifestado até o fechamento desta reportagem.
O motivo da paralisação, segundo a categoria, é a gestão de Bruno Covas (PSDB). O sindicato se manifesta contra o que considera o “desmonte” do transporte público e exige o pagamento da PLR (Participação nos Lucros e Resultados) por parte das empresas responsáveis pelo serviço na cidade, além da redução do número de ônibus no sistema. De acordo com a entidade, havia transferência desse dinheiro prevista para esta quinta, o que não teria ocorrido. Ainda segundo o sindicato, 450 veículos foram retirados de circulação e a previsão é de que outros 1.000 sejam retirados recolhidos até o fim do ano.
A administração pública não travou somente uma briga com os motoristas, mas com a Justiça. Desde 2013, a licitação de ônibus vem sendo questionada. No dia 24 de maio, o Judiciário considerou o prazo de 20 anos na prestação do serviço como institucional. A alegação é de que a alteração do prazo (de 15 para 20) estabelecida no contrato não poderia ter sido feita por meio de emenda parlamentar, pois é matéria exclusiva do Executivo. Outro ponto destacado pelo Tribunal de Justiça é que a lei original tratava, unicamente, de concessão dos terminais de ônibus, e não do serviço de transportes. A licitação paulista é uma das maiores do país, totalizando R$ 71 bilhões.
O sistema que a prefeitura quer implantar resume a redução do número de ônibus. O projeto, anunciado no dia 24 de abril, prevê diminuição de 146 linhas de coletivos da cidade e uma perda de 646 veículos em operação. Atualmente, são 1.339 linhas e 13.591 ônibus. Por sua vez, a prefeitura diz que irá aumentar a oferta de lugares disponíveis e eficiência e reduzir custos.
Na noite desta quinta-feira, o TRT (Tribunal Regional do Trabalho) concedeu uma liminar determinando que o transporte público seja mantido em no mínimo 70% nos horários de pico da manhã (6h às 9h) e da tarde (16h às 19h). Nos demais horários, a determinação é de que se mantenha no mínimo 50%. No caso de não cumprimento, a multa diária será de R$ 100 mil reais. O sindicato prometeu acatar a decisão.
R7