Familiares de Jean-René Auffray, 50, que morreu em 2016 enquanto corria em uma das praias do balneário, estão processando o estado por não ter promovido uma limpeza adequada.
O homem estava em forma, treinando para uma corrida de longa distância, e não tinha histórico de doenças. A conclusão dos parentes é que ele pode ter se intoxicado com gases emitidos pelas algas.
“Maré verde”
A chamada “maré verde” é um problema nas praias da região há muitos anos, mas vem se intensificando com o aumento da atividade agropecuária.
Em 2016, a Bretanha tinha uma população de 7,8 milhões de porcos para pouco menos de 3 milhões de humanos.
“Essa proliferação é comum em regiões que recebem entrada de agrotóxicos e insumos agrícolas, que liberam uma grande quantidade de nitrogênio e fósforo. Isso vira alimento pra microalgas e elas transformam em toxinas. Em casos extremos, a intoxicação pelo sulfeto de nitrogênio pode até matar”, explica Vinícius Peruzzi, professor do Departamento de Biologia Marinha da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Segundo o especialista, normalmente as toxinas produzidas pelas algas viram problemas quando elas são consumidas por peixes e moluscos, que depois são comidos por humanos.
No entanto, em quantidades maiores, ele tem um forte cheiro de ovos podres — o que acontece quando a alga já está em decomposição — e pode levar à morte.
Sem controle
E a pior parte, segundo Peruzzi, é que o ciclo de vida das microalgas é tão curto que torna o controle por parte do homem quase impossível. Dependendo da quantidade de nutrientes, elas podem se multiplicar em menos de uma hora.
A medida possível seria diminuir o uso de fertilizantes e insumos na região e aguardar a natureza tomar conta do excesso de toxinas.
“Depois que a alga se instalou, não tem como fazer um controle, não tem como filtrar milhões de litros d´água, não existe uma medida eficaz. O que dá para fazer é fechar a praia e evitar que as pessoas sejam expostas à água, que é o que está sendo feito”, esclarece o biólogo.
Fábrica no limite
Perto de Saint-Brieuc, existe uma fábrica de compostagem, para onde são levadas as algas recolhidas na praia. Somente em 2018, a instalação recebeu cerca de 8 mil toneladas de microalgas que foram usadas para fazer fertilizante.
O volume foi se acumulando de tal maneira que o local foi fechado por alguns dias em julho deste ano, devido ao forte cheiro e às reclamações dos moradores.
Pedido ao governo
Um movimento de ecologistas e moradores da região vem pedindo medidas mais efetivas do poder público francês, especialmente visando práticas da agricultura que não tenham tanta produção de nitrogênio.
“A ‘maré verde’ voltou com toda a força este ano. O que não conseguimos entender é como os políticos eleitos não conseguem resolver essa crise ambiental e de saúde que já dura meio século. O governo já gastou milhões de euros e nada aconteceu. O que precisa mudar são as práticas agropecuárias”, diz o manifesto do grupo Parem a Maré Verde na internet.
R7