Mais de 300 mil toneladas de plástico são produzidas anualmente em todo o mundo e cerca de 8 milhões de toneladas são lançados nos mares e oceanos. As consequências dessa poluição e algumas soluções para o problema são temas da exposição Out to the sea? The Garbage Project (Para o mar? O Projeto de Lixo Plástico, em tradução livre), aberta nesta semana em Montevidéu.
Para o uruguaio Daniel Toranza, 40 anos, funcionário público, o mais surpreendente não é a quantidade de lixo plástico apresentada na mostra, mas os números. “O que mais me impressionou foram as cifras. Porque isso (amontoados de lixo) nós vemos todos os dias. Tem praias aqui em Montevidéu, pertinho, onde se vê essa quantidade de lixo. Não temos que ir a um quilômetro daqui. A costa, sobretudo a baía de Montevidéu, os cursos de água a céu aberto, estão cheios de lixo. Mas as cifras são arrepiantes”, afirmou.
Daniel lembra, por exemplo, que, a que a cada ano, a maioria dos 8 milhões de toneladas de plástico lançados nos mares e oceanos vai parar no fundo do mar. Cerca de 15% ficam boiando na superfície e mais 15% ficam presos em algum lugar da costa. Ou que, atualmente, não há nem um único quilômetro quadrado de água de mar que esteja livre de partículas de plástico.
Cerca de 600 bilhões de sacolas plásticas são produzidas em todo o mundo a cada ano, e um cidadão europeu usa, em média, 500 por ano. Geralmente, elas são usadas apenas uma vez, o que contrasta fortemente com sua longa vida útil.
Estima-se que no ano 2020 a produção de plástico terá aumentado 900% em relação a 1980. Aproximadamente 700 espécies marinhas, algumas em perigo de extinção, são afetadas pelo lixo plástico que flutua.
A exposição
Ao entrar no prédio onde está instalada a exposição, o visitante se depara com uma montanha de lixo plástico proveniente, sobretudo, do Pacífico. São caixas, garrafas, cordões, bolas, tonéis, redes, sacos, tubos, canudos e uma infinidade de outros objetos. Essa montanha de plástico equivale à quantidade de resíduos lançados nos oceanos a cada dez segundos.
Quando a reportagem da Agência Brasil visitou a mostra, havia grupos de dois colégios, com alunos entre 10 e 12 anos, em visita guiada. Enquanto a monitora explicava que cada pessoa gera aproximadamente 35 quilos de lixo de plástico por ano, e que em alguns países da Europa esse valor chega a 90 quilos, os alunos reagiam com espanto. “Cada um de nós? Impressionante!”, exclamou uma menina, atenta às explicações.
Nesse momento, a professora que acompanhava o grupo lembrou a quantidade de lixo que se pode gerar, por exemplo, em uma festa de aniversário, entre balões, pratinhos, garfinhos e copos descartáveis. A monitora concordou e lembrou dos canudinhos, já proibidos em muitas cidades. “Podemos evitar os canudos, não necessitamos deles para tomar um suco ou refresco, certo?”, questionou.
A professora voltou a intervir, contando aos alunos sobre uma iniciativa da Faculdade de Arquitetura de Montevidéu, que fabrica ecobricks. Os ecobricks são uma espécie de “tijolo” feito com garrafas de 6 litros de água, recheadas de plástico compactado e reaproveitadas em algumas construções.
Os alunos percorreram a exposição, que tem uma sessão que ensina como classificar os resíduos em casa, como e onde devem ser descartados e o que acontece depois que o caminhão de lixo os recolhe.
Há também uma ampla parte da exposição dedicada a mostrar o problema do impacto do lixo plástico para os animais e para os humanos. Como o plástico comum não é biodegradável, ele acaba por partir-se em pequenos pedaços que são ingeridos por plânctons, aves ou peixes e vão acabar nos nossos pratos, trazendo graves consequências para a saúde humana. As redes e linhas de pesca também são armadilhas mortais para criaturas marinhas. Peixes, mamíferos marinhos e tartarugas se enredam e morrem sufocados ou de fome. Essas redes, que geralmente formam grandes massas, também representam sério perigo para a navegação.
Em outra seção são apresentadas soluções para recuperação, reutilização, redução e reciclagem de resíduos.
A exposição é gratuita e está instalada no edifício da Casa Central do Banco da República, no bairro Cidade Velha, centro de Montevidéu. Produzida pelo Museum für Gestaltung Zürich, a exposição, que fica no Uruguai até 18 de outubro, pode ser vista pela primeira vez na América do Sul.
Agência Brasil