Focos infecciosos na boca podem afetar outros órgãos e causar parto prematuro, bebês de baixo peso e até problemas cardiorrespiratórios, segundo o cirurgião-dentista Ricardo S. Jahn, integrante da Câmara Técnica de Periodontia do CROSP (Conselho Regional de Odontologia de São Paulo).
Problemas periodontais — inflamações que acontecem em volta dos dentes, nas gengivas — são que mais evoluem para outras áreas.
“Se você juntar a área inflamada da mucosa da boca, você pode ter uma área de inflamação do tamanho da palma de uma mão, com áreas ulceradas [feridas]. Um paciente com uma área de inflamação desse tamanho em qualquer outra parte do corpo vai ter cuidados especiais, quando é na boca ele nem vai ao dentista”, afirma o cirurgião-dentista.
Jahn explica que a inflamação faz com que o corpo libere mediadores químicos, proteínas que o organismo produz frente a um desafio microbiano (citocina e metaloproteinase).
Essas proteínas se combinam com moléculas de colesterol de baixa densidade e entram na parede do do vaso sanguíneo formando um ateroma. Isso dificulta a passagem de sangue e aumenta o risco do paciente, que já tem predisposição para esse tipo de problema, ter um entupimento das veias.
Além disso, algumas citocinas são marcadores de risco para o parto prematuro e nascimentos de bebês com baixo peso.
Outro risco que os problemas bucais podem causar é o alastramento da infecção para outros órgãos.
O cirurgião-dentista Mário Cappellette Jr., presidente da ABO-SP (Associação Brasileira de Odontologia Seção São Paulo), afirma que aproximadamente 40% das endocardites, infecção do revestimento interno do coração, são oriundas de focos infecciosos bucais.
A bactéria que normalmente se aloja na boca, a estafilococos, tem afinidade com a válvula do coração e pode se alojar lá também.
Ele também alerta que atletas, que possuem lesões repetitivas na boca, podem ter outros problemas por conta das infecções dentárias.
“Por exemplo, um atleta que estava com canelite, tipo de tendinite na canela, tratou um foco infeccioso por canal e ao recuperar o equilíbrio bucal, melhorou também, da canelite”, comenta Cappellette.
Isso acontece pois as bactérias da boca, podem também, afetar os músculos, fazendo com que o paciente fique mais propenso a outras doenças.
Outra infecção comum decorrente de problemas dentários é a pneumonia nosocomial, associada à ventilação mecânica.
Segundo Jahn, pacientes que possuem problemas periodontais e sofrem um acidente, usando esse tipo de ventilação, pioram o padrão de higienização. Por esse motivo a placa bacteriana aumenta, coloniza os tubos de respiração e chega aos alvéolos causando a pneumonia.
“Isso aumenta muito o risco de complicações hospitalares, aumenta o tempo do paciente e o uso de medicamentos. Se conseguirmos evitar esse problema, economizaríamos muito em saúde pública”, afirma o cirurgião-dentista.
Ele diz que colocar cirurgiões-dentista nas equipes multidisciplinares de hospitais, incluidndo as UTIs (unidades de terapia intensiva) é uma pauta da odontologia hoje.
A infecção na boca, assim como em outras partes, pode se espalhar para qualquer outro órgão e inclusive, provocar uma sepse, infecção generalizada.
Apesar de rara, a sepse acontece quando as bactérias invadem os tecidos e caem na corrente sanguínea, causando, primeiro, uma bacteremia. Uma vez circulando, a inflamação pode atingir vários órgãos. O paciente que apresenta esse quadro precisa de socorro médico imediato, uma vez que a sepse pode levar a óbito.
Os dentistas recomendam visitar o dentista a cada seis meses de forma preventiva e sempre que apresentar os seguintes sintomas: dor, alteração na mordida, alteração de cor, textura e brilho nos dentes, gengivas sangrando e ferida na boca que não cicatriza em mais de dez dias.
Fumantes, pessoas que consomem muito açúcar ou não possuem um bom padrão de higienização devem aumentar a frequência de idas rotineiras para três ou quatro meses.
Jahn explica que o problema do consumo do açúcar, do ponto de vista odontológico, é a frequência. “O ideal reduzir o contato com açucar fora do horário de refeições, tomando café com açúcar, comendo balas, chicletes e outras guloseimas”, ele afirma.
R7