“A criança ainda não tem maturidade de defesa no trato digestivo. Quando um adulto engasga, ele tosse, um reflexo para expulsar o alimento da traqueia, mas a criança, muitas vezes, não tem esse reflexo estabelecido”, afirma.
Já a pediatra Célia Regina Bocci, do Sabará Hospital Infantil, em São Paulo, ressalta que, como bebês ainda não têm pré-molares, os dentes da mastigação, eles não conseguem mastigar e alguns alimentos, como uva, milho e amendoim, escorregam para a traqueia.
“Não são apenas alimentos, peças de brinquedos soltas também merecem atenção”, diz. “A criança engasga porque o objeto ou alimento é maior que a traqueia. Pipoca só é recomemdável após os 4 anos. No caso de carne, o ideal é que comece com pedaços desfiados, depois pequenos e só então um pouco maiores. É importante que a criança coma sentada e não em pé, correndo. É preciso apredender que tem que mastigar para engolir”, completa.
Ambas as especialistas concordam que, principalmente ao ser aplicado o método BLW (Baby-Led Weaning), o “desmame guiado pelo bebê”, é preciso que a criança seja “altamente” supervisionada enquanto se alimenta.
Nessa nova abordagem, utilizada na introdução alimentar aos 6 meses, a comida não é dada com colherinha na boca, mas acessada pela própria criança, que pega os alimentos, em cortes maiores, com as mãos.
Nem sempre o bebê tosse
O primeiro passo para salvar uma criança que esteja engasgada é saber identificar quando o problema acontece. Nos recém-nascidos, os sinais são mais sutis, segundo Célia. “Quando o engasgo é parcial, ele respira mais rápido, fica ofegante e chora. Se chora, significa que a respiração está presente. Já no caso de engasgo total, ele não tosse nem chora, fica roxinho e mais molinho”, explica.
A orientação é manter a calma, ligar para a emergência (SAMU 192 ou Bombeiros 193) e iniciar imediatamente, nos dois casos, a conduta para reverter o problema. “Nunca sacuda a criança nem use a mão para retirar o alimento da garganta, pois pode acabar empurrando-o mais para dentro”, alerta.
Técnica aplicada varia conforme a idade
As médicas explicam que há duas técnicas para desengasgar uma criança: uma específica para bebês até 1 ano e outra para crianças a partir dessa idade.
A primeira consiste em colocar o bebê de bruços, deitado sobre seu antebraço. O antebraço pode estar apoiado em sua perna ou outra superfície firme. A cabeça do bebê deve estar mais baixa que o corpo. Com a mesma mão, use os dedos médio e indicador para manter a boca dele aberta enquanto com a outra, você dá cinco tapas em suas costas, entre os ombros.
Em seguida, vire o bebê para você, deitado no mesmo apoio, e faça cinco compressões com os dedos médio e indicador no meio do peito, entre os mamilos. Afunde os dedos de dois a três dedos de altura, o que corresponde a cerca de 4 cm. Se ele chorou ou tossiu, significa que desengasgou. Caso contrário, repita o primeiro procedimento. Segundo Débora, o ideal é que já se encaminhe para o hospital ou recorra à ajuda do Corpo de Bombeiros enquanto faz essa segunda tentativa. “Às vezes, precisará de uma broncoscopia [exame que remove objetos estranhos do pulmão]”, diz.
Quando a criança fica inconsciente, é preciso passar para a manobra de reanimação. Em uma superfíci firme, como uma mesa, comprima 30 vezes os dois dedos sobre seu peito – aperte e volte. Depois dessas 30 compressões, abra a sua boca, encha de ar e assopre pegando o nariz e a boca do bebê, até perceber que o tórax do bebê levantou.
“A ventilação serve para oxigenar o corpo e a massagem para manter a circulação sanguínea”, explica Célia.
Já a partir de 1 ano até a fase adulta, o recomendado é utilizar a chamada manobra de Heimlich. Essa técnica é aplicada com a criança em pé. Ajoelhe-se atrás dela e encoste o punho fechado na boca do seu estômago. Coloque a outra mão aberta sobre o punho e faça cinco compressões. O movimento deve ter o formato da letra J. “Após a manobra, ela deve expelir o objeto ou vomitar. Quando o engasgo é parcial, você pode pedir primeiramente para a criança tossir, o que muitas vezes funciona”, diz Célia.
Ela ressalta que uma lei, criada no ano passado, exige que funcionários e professores de escolas de ensino básico, tanto públicas quanto privadas, se capacitem em curso de primeiros socorros para saber como lidarem com sufocação.
Chamada de Lei Lucas 13.722/2018, foi criada depois da luta da mãe do garoto, um menino de 10 anos que morreu durante um passeio da escola ao se engasgar com salsicha.
Deve-se esperar 20 minutos após arroto
Para evitar engasgo em recém-nascidos, Débora orienta a não colocar o bebê no berço ou no moisés logo depois de arrotar. “Espere em torno de 20 minutos com ele no colo, pois existe um refluxo fisiológico até os 6 meses. Às vezes, o recém-nascido engasga e não tosse, levando a uma parada cardíaca, a chamada síndrome da morte súbita”, afirma. Ela destaca que ele deve ser colocado no berço de barriga para cima.
“Às vezes, o bebê fica agitado e tem insônia por causa de refluxo”, completa.
Outra dica é usar travesseiro antirefluxo com 30 graus de elevação. “Mas o mais importante não é a elevação, mas sim colocá-lo para arrotar e esperar entre 20 e 30 minutos para colocá-lo no berço”, frisa.
primeiros-socorros para desengasgar bebês
Arte R7
Arte R7
R7