A nova redução da taxa Selic para 5% e a publicação de novos indicadores da economia na última semana indicam que o país segue em um ritmo de recuperação, mas com velocidade lenta, segundo economistas ouvidos pelo R7.
Além da redução da taxa de juros oficial do país pelo Comitê de Política Monetária (Copom) para o menor patamar da história, a semana registrou um pequeno crescimento do faturamento da indústria em 0,4% e a manutenção da taxa de desemprego do país em 11,8%, com aumento da informalidade.
Para Alex Agostini, economista-chefe da agência de classificação de risco Austin Rating, os indicadores confirmam a tendência de recuperação lenta, alinhada com a projeção de crescimento de 1% do Produto Interno Bruto (PIB). O crescimento ainda é difuso, no entanto, com os setores variando seu desempenho de forma constante.
Ele afirma que a queda dos juros estimula a tomada de crédito e favorece a compra de produtos duráveis, como automóveis, favorecendo à indústria. E isso, aliado a uma inflação ainda baixa do período da crise e aos recursos de FGTS e PIS/Pasep liberados, favorece a economia.
“Dá para comemorar, mas não dá para soltar rojões. Com o crescimento baixo, o impacto no emprego ainda é lento. Mas a confiança dos empresários vem aumentando, há uma expectativa de retorno do investimento, e as empresas começarão a precisar de mais contratações. Nesse cenário, podemos ter uma melhora do emprego em 2020”, afirma.
Ele aponta que a reforma da Previdência foi apenas um primeiro passo de uma série de ajustes que precisam ser feitos para estancar a sangria das contas públicas no médio e longo prazo. O próximo passo, defende, é melhorar a relação entre despesas e receita, já que o país ainda gasta muito com a máquina pública.
A melhora da receita virá através de novos investimentos, privatizações e concessões como os leilões do pré-sal. Um megaleilão prevê arrecadar até R$ 106 bilhões no dia 6.
Já o ajuste de despesas passa por uma série de medidas que o ministro da Economia, Paulo Guedes, tentará introduzir na economia, como o projeto para desindexar o Orçamento – eliminar amarras. O governo também prevê realizar as reformas tributária e administrativa, o que também ajudará na recuperação, segundo Agostini.
Mesmo com todas essas medidas, explica, o caminho ainda é longo para a recuperação completa. “O acumulado de recessão de 2015 e 2016 foi uma queda no PIB de 6,7%. Se nós colocarmos no cálculo só o que aconteceu em 2017 e 2018, o crescimento acumulado é de 2,2%. Ainda temos muito terreno para crescer e pagar a conta dos anos da crise” diz.
Confiança
Segundo Rodolpho Tobler, economista do FGV IBRE, os novos índices também apontam para uma recuperação gradual. “O ano de 2018 terminou com uma expectativa muito forte. O primeiro semestre se mostrou muito frustrante. No segundo semestre tivemos aceleração em algum ou outro segmento.
Ele defende que um desafio o país tem trilhado que é a redução da incerteza, para estimular os investimentos privados. A avaliação da confiança dos empresários feita pela FGV mostra um cenário perto de neutralidade, em que pelo menos já não há o pessimismo registrado nos últimos anos.
Ele defende que é preciso prosseguir com as reformas como a tributária, mantendo a inflação controlada, para dar novos passos nessa recuperação.
“A previsão é que a recuperação seja mais forte se mantido o atual cenário e conseguirmos seguir avançando nos ajustes necessários. Viemos de uma recessão muito longa, e um desafio é agora conseguir trazer os investimentos necessários para o país”, afirma.
R7