Os comerciantes esperam vendas mais altas neste Natal em relação ao ano passado, ainda que muitos consumidores tenham antecipado as compras na Black Friday. Para o economista da Confederação Nacional do Comércio (CNC), Fábio Bentes, apesar do sucesso da data de novembro, a estimativa para o final de dezembro segue de arrecadação de R$ 35,9 bilhões, 4,8% mais do que em 2018.
Bentes explica que na Black Friday costuma-se comprar itens para uso pessoal ou que possam ser compartilhados pelos moradores de casa, como videogames ou aparelhos de TV. “O Natal é um evento tradicional e está ligado a vários presentes, mais baratos, a familiares e amigos. Também não são comuns as grandes promoções nesse período.”
O economista da CNC afirma que o crescimento expressivo das vendas da Black Friday de 2019, em torno de 7% em valores nominais (sem contar a inflação), “desidrata” os resultados do Natal, mas não a ponto de prejudicar a ligeira melhora na economia brasileira e o fato de que os brasileiros, com antecipação do décimo-terceiro salário e com o saque imediato do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), terão um pouco mais de dinheiro nesse fim de ano.
A previsão da CNC é que as famílias deixem nos super e hipermercados cerca de R$ 500, em média. Destes, R$ 270 se destinam a alimentos e bebidas, para presentes ou principalmente para a ceia natalina.
O presidente da Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (Abcomm), Mauricio Salvador, acrescenta que 30% dos consumidores que aproveitaram a Black Friday deste ano admitiram estar antecipando as compras de Natal. “Eles vêm que nessa data há mais ofertas e aproveitam para guardar presentes que vão dar no fim do ano.”
Para Salvador, o país verá uma evolução gradativa das vendas da Black Friday. Isso porque anualmente cresce o número de empresas que aderem aos descontos e também em razão do aumento na quantidade de consumidores on-line, público que mais consome as promoções de novembro.
Só neste ano o Brasil ganhou 4 milhões de compradores via e-commerce, num total de aproximadamente 43 milhões. “Por um lado tem caído o receio das vendas online e, por outro, as empresas estão mais ativas na divulgação de promoções”, observa Salvador.
Ele observa que a percepção de que compras na internet tendem a ser mais baratas do que em lojas físicas é outro diferencial da Black Friday. “As lojas aproveitam essa data para vender produtos que normalmente saem com menos frequência e apostam nesse nicho para dar grandes descontos. O consumidor se beneficia e as empresas renovam seus estoques.”
De modo geral, o comportamento dos brasileiros é o de comprar em novembro produtos que necessitam e só adquirir presentes mais caros, pensando no Natal, se as ofertas realmente forem convidativas. “Às vezes um desconto de 10% já é significativo se a compra for de uma TV caríssima”, comenta o presidente da Abcomm.
Cautela
A coordenadora da FGV-IBRE, Viviane Seda Bittencourt, conta que as empresas têm na Black Friday talvez a única chance de vender produtos mais caros. “O momento da economia ainda é delicado, a cautela dos consumidores para bens duráveis é grande e por isso ele só vai aceitar gastar se sentir que realmente está fazendo um bom negócio.”
Ela diz que as pessoas estão adiando grandes compras enquanto não se sentem seguras para dispender mais dinheiro.
No Natal, diz Viviane, a expectativa é que subam as vendas de produtos mais em conta, como vestuários e calçados e de alimentos nos supermercados.
Pesquisa da Associação Paulista de Supermercados (Apas) demonstra que o Natal de 2019 deve ter um crescimento de 6% nominal quando comparado ao ano anterior. “O mês de dezembro representa um aumento de 24% nas vendas quando comparado com a média dos outros meses”, explica o economista da entidade, Thiago Berka.
Roupas representam 10% dos gastos da Black Friday, e chegam a 40% das compras de Natal.
“Por ter mais dinheiro circulando, com liberação do FGTS e do décimo-terceiro, esses recursos vão para pequenos gastos”, analisa.
Bentes, da CNC, considera o acréscimo de dinheiro na economia válido, mas com fôlego curto. “A longo prazo, só vamos manter o consumo em alta se reduzirmos o número de desempregados. Só assim conseguiremos garantir lojas físicas e on-line aquecidas.”
R7