O ex-presidente do Flamengo Eduardo Bandeira de Mello revelou, nesta terça-feira (4), que não tinha conhecimento de relatório que sustenta o seu indiciamento na Polícia Civil do Rio de Janeiro em inquérito que investiga as causas do incêndio no CT Ninho do Urubu, tragédia que está prestes a completar um ano. O dirigente argumenta que o documento foi entregue ao clube após o término do mandato.
“Era datado de 2018 e foi citado no relatório do delegado como se eu deveria ter conhecimento. Esse relatório só foi entregue ao Flamengo em 2019, depois do meu mandato. Não poderia tomar conhecimento, embora não tivesse nada de muito grave. Mas é aquela coisa”, afirmou Bandeira de Mello em entrevista exclusiva ao R7.
Segundo Bandeira de Mello, — que foi eleito presidente em dezembro de 2012 e reeleito em 2015 para o triênio de 2016 a 2018 — o relatório citado tratava das instalações do centro de treinamento do clube, mas se referia à área do contêiner utilizado como alojamento dos jogadores das categorias de base. “Acharam um extintor de incêndio vencido. Mas não era naquela área que pegou fogo”, complementou.
Confiança na inocência
O ex-presidente flamenguista garantiu que aguarda a conclusão do inquérito aberto da 42ª DP (Recreio dos Bandeirantes) com confiança no trabalho das autoridades policiais e da Justiça. A investigação havia sido remetida ao MP, mas foi reaberta para novas diligências a pedido da Promotoria, no dia 18 de dezembro do ano passado, por um prazo de 45 dias.
“Considero [o indiciamento] uma injustiça. Até porque estava sendo citado na época por esse relatório que não tinha conhecimento. E também pelo fato de a prefeitura ter supostamente interditado o CT. Só que esse documento de interdição nunca chegou a mim, nem [nas mãos] ao alto escalão do clube, da prefeitura ou mesmo da imprensa”, criticou Bandeira de Mello.
Ação anterior
O ex-mandatário flamenguista reconheceu também da existência de uma uma ação civil pública, impetrada em 2015 pelo Ministério Público estadual, órgão que fez diversas inspeções e pareceres sobre as condições de habitabilidade dos menores. “Todos os relatórios foram positivos, [indicavam] que estava tendo progresso”, ressaltou.
“Depois, fiquei sabendo de outro relatório que relata um pequeno retrocesso, era datado de 2018 e foi citado no relatório do delegado como se eu deveria ter conhecimento. Esse relatório só foi entregue ao Flamengo em 2019, depois do meu mandato. Não poderia tomar conhecimento, embora não tivesse nada de muito grave. Mas é aquela coisa. Relatório datado de 2018 e entregue ao clube em 2019”.
Contêineres
Eduardo Bandeira de Mello entende que o uso de contêineres são muito comuns em diversos tipos de estabelecimentos. No entanto, admite que é preciso haver um rigoroso esquema de manutenção na estrutura para evitar acidentes como o ocorrido no Ninho.
“Todas as unidades de pronto-atendimento da prefeitura são de estrutura de contêiner, hotéis mundo afora. Até o próprio alojamento do Corpo de Bombeiros é de contêiner. O que precisa fazer, não somente em instalações de contêineres, como alvenaria, madeira, é fazer manutenção adequada de ar-condicionado. Talvez tenha sido isso que tenha provocado [o incêndio]”, disse.
Tristeza pelos meninos do Ninho
A morte dos dez garotos da base rubro-negra chocou o ex-presidente do clube carioca. Eduardo Bandeira de Mello relembrou o contato com os jogadores, seus familiares, e demonstrou pesar pelas vidas perdidas no episódio que classificou como a malhor tragédia da história do Flamengo.
“Meu sentimento continua sendo de tristeza, porque conhecia a maioria dos meninos. Sempre fui extremamente dedicado ao futebol de base, tanto que construímos dois centros de treinamento. É uma questão de dor pessoal também. Conhecia os meninos, tinha conversado com os pais deles. É muito triste você perder crianças dessa faixa etária, de 14, 15 anos. É a dor por perder os meninos”, lamentou.
Acordos
Com relação à polêmica negociação das indenizações aos parentes dos atletas, Bandeira de Mello frisou que não tem poder de influência sobre a atual cúpula para mudar os valores propostos pelo clube. Mas o ex-dirigente espera que a diretoria chegue a uma solução que preserve a reputação do Flamengo.
“Fico numa um pouco delicada, porque a atual diretoria não gosta de mim. Me expulsaram do clube. Acho que a gente tem que respeitar a dor das famílias e entendo que, além da solidariedade, humanidade e o respeito e o respeito a quem perdeu crianças, tem também a tanto a coisa da responsabilidade social do clube, da condição de clube que custou muito a recuperar a sua credibilidade e que um evento como esse pode colocar tudo a perder”, avaliou Eduardo Bandeira de Mello.
R7