“As chuvas foram suficientes para garantir uma situação tranquila e confortável. A maioria dos reservatórios está em mais de 85% da capacidade, a exceção é o Cantareira, mas ainda temos 40 dias de chuvas pelas frente”, afirmou o superintendente da unidade de produção de água da Sabesp na Região Metropolitana de São Paulo, Marco Antônio Lopez Barros. E completou: “Não há nenhum tipo de preocupação com o abastecimento para este ano. O risco é zero de uma crise hídrica”.
Apesar de ter chovido cerca de 10% menos do que o esperado de outubro a janeiro, em fevereiro as chuvas vieram com força. “Se continuar chovendo assim, atingiremos as médias”, explica Barros.
A Sabesp abastece 21 milhões de pessoas na Região Metropolitana de São Paulo. O acompanhamento dos 7 mananciais e das 28 represas é feito diariamente. Nesta quarta-feira (18), o sistema Cantareira, que é o maior de São Paulo, operava com 54% da capacidade de armazenamento, Alto Tietê (86,1%), Guarapiranga (84,4%), Cotia (102,1%), Rio Grande (95,6%), Rio Claro (100%) e São Lourenço (99,2%).
Com relação ao índice pluviométrico, a situação mais complicada é em São Lourenço, uma vez que no mês choveu 68,6 milímetros, quando a média histórica é 232,8 mm. Em contrapartida, nos sistemas Rio Grande, Cotia e Guarapiranga as chuvas já superaram as médias para fevereiro.
De acordo com o superintendente da Sabesp, mesmo com pouco mais da metade da capacidade de armazenamento, “as condições são boas no Cantareira”, que pode reservar até 982 bilhões de litros de água. “Quando terminar o período das chuvas, em maio, devemos ter entre 60 e 70%, e é suficiente e razoável para mantermos o abastecimento durante a estiagem”, disse.
Já o professor de recursos hídricos e saneamento do Mackenzie, Antônio Eduardo Giansante, ressaltou que a “situação do Cantareira é segura, mas não confortável. Não pode haver desperdício”.
Cantareira
O Sistema Cantareira é o maior produtor de água da Região Metropolitana de São Paulo. De acordo com a ANA (Agência Nacional de Águas), o reservatório utiliza 33 m³ por segundo de água para abastecer 46% da população. É formado por cinco reservatórios (Jaguari, Jacareí, Cachoeira, Atibainha e Paiva Castro), conectados por túneis subterrâneos e canais.
Por ser o maior sistema, nele tudo é grandioso: “Ele pesa muito no abastecimento porque representa quase metade de toda nossa reservação. As represas são maiores, se tira mais água dele, por isso ele também demora mais para responder e atingir a capacidade máxima de armazenamento”, revela o superintendente da Sabesp.
De 2013 a 2015, época da crise hídrica, a Sabesp passou a usar o chamado volume morto, uma reserva técnica de água que até então não era usada para abastecimento da população. Segundo Luciano Zanella, pesquisador do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas), “o Cantareira não recuperou ainda a capacidade total de armazenamento desde o stress hídrico durante a crise. O volume reservado está subindo, mas é aos poucos devido à sua grandiosidade”.
O segundo sistema em capacidade de reservação é o Alto Tietê (560 bilhões de litros de água), ainda assim ele representa pouco mais da metade do tamanho do Cantareira, o terceiro é a Guarapiranga, que é um terço do Alto Tietê, com capacidade de 171 bilhões de litros de água. O menor sistema é o Rio Claro, com reserva máxima de 13 bilhões de litros de água.
De acordo com o professor Antônio Giansante, o problema não é só a falta (crise de desabastecimento), mas também o excesso de água (enchentes): “fenômenos extremos indicam mudanças climáticas”. Ele lembra ainda que quando os reservatórios ultrapassam o limite máximo de armazenamento, é necessário abrir as barragens. “Para evitar acidentes, a água precisa ser descartada porque não pode passar por cima das pontes, daí a importância da fiscalização das barragens”, argumenta.
Para se ter uma ideia, em 2019, de acordo com a Sabesp, o consumo per capita de água foi de 129 litros por habitante/dia. O consumo é 24% menor que os 169 litros por habitante/dia registrados em 2013, antes da crise hídrica.
Obras e perdas
De acordo com a Sabesp, nenhuma grande obra que aumente a capacidade de reservação dos sistemas está prevista para este ano. Marco Antônio Lopez Barros afirmou que várias obras de longo prazo foram antecipadas por causa da crise hídrica e já estão em operação.
Há apenas uma pendente: a transposição de água do rio Itapanhaú, em Bertioga, litoral paulista, para a represa Biritiba-Mirim (Alto Tietê). O superintendente da Sabesp explica que o projeto “nasceu na crise, mas há entraves com o impacto ambiental da obra”.
Desde os anos de racionamento e crise hídrica, os sistemas passaram a ser mais integrados na perspectiva de que “um ajuda o outro”. O professor de recursos hídricos, Antônio Eduardo Giansante, destaca os altos custos com a produção da água, como energia elétrica (a Sabesp é um dos maiores consumidores de energia do estado) e produtos químicos, além da logística, uma vez que a água é retirada de locais distantes.
” É preciso combater as perdas, fraudes e vazamentos. Precisamos investir cada vez mais na troca de redes, ramais prediais e adutoras. É caro produzir água e não podemos despediçar. Isso não ocorre de forma rápida e costuma gerar transtornos à população, mas é essencial”, justifica Giansante.
O solo é a reserva natural da água, por isso é fundamental proteger os mananciais. Os especialistas ressaltam também a importância de que a população seja consciente no uso da água.
R7