Um novo estudo, desenvolvido por cientistas espanhóis, encontrou uma relação entre altas temperaturas e a menor propagação do novo coronavírus. No entanto, à semelhança de outros estudos já existentes, os especialistas afirmam que, apesar dessa relação, a aproximação do verão não será suficiente para travar a pandemia.
No momento em que são desconhecidas muitas das características do novo coronavírus, uma das esperanças para conseguir abrandar a sua propagação era o calor. Especulava-se que a aproximação do verão e aumento da temperatura fosse capaz de diminuir a resistência do vírus e travar a sua propagação.
Fernando Belda, da Organização Meteorológica Mundial e porta-voz da Agência Estatal de Meteorologia de Espanha (Aemet), em conjunto com a sua equipe, diz ter encontrado os “primeiros indícios de correlação” entre o frio e a propagação da doença na Espanha.
“Estamos observando um padrão: quanto menor a temperatura, maior o dano”, afirmou Balda ao jornal espanhol El País.
No entanto, tendo em conta os antecedentes históricos e o que está ocorrendo no resto do mundo, os investigadores defendem que o verão não será suficiente para travar a pandemia.
Cientistas espanhóis da Agência Estatal de Meteorologia e do Instituto de Saúde Carlos III, analisaram a temperatura média de cada comunidade autônoma espanhola durante 14 dias e o número de novas infecções diárias por cada 100 mil habitante ao longo desse período. Belda disse que o padrão se repete ao longo do período estudado, desde o início do confinamento até agora.
Além disso, o estudo também indicou que a umidade do ar pode igualmente influenciar a transmissão da doença. “Altas temperaturas e a elevada umidade reduzem significativamente a transmissão da covid-19”, revela a pesquisa.
A epidemiologista Cristina Linares, uma das autoras do trabalho, alerta que “é preciso ter muito cuidado, porque as condições de umidade e temperatura variam muito de uma área geográfica para outra e, é claro, existem muitos outros fatores que influenciam a transmissão e disseminação do novo vírus”.
“Há uma correlação estatística”, admite a epidemiologista ao El País, acrescentando que poderá ser apenas uma ilusão.
“São resultados preliminares. Outros fatores que influenciam a possível sazonalidade da propagação devem ser levados em consideração, além das condições ambientais. A atividade humana, medidas de contenção, densidade populacional, entre outros, exercem influência decisiva”.
Outros estudos
Ao longo das últimas semanas têm sido publicados na Espanha outros estudos que chegaram à mesma conclusão: o verão não irá abrandar a pandemia.
No último dia 8, a Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos aconselhou a Casa Branca a não dar como garantida a capacidade de o calor travar a pandemia: “Existem evidências que sugerem que o vírus da covid-19 pode ser transmitido menos eficientemente em ambientes com temperatura e umidade mais altas. No entanto, dada a falta de imunidade ao vírus em todo o mundo, essa redução na eficiência da transmissão pode não levar a uma queda significativa na propagação da doença sem a adoção simultânea de intervenções na saúde pública”.
Para sustentar essa observação, o estudo menciona os casos da Austrália e do Irã, dois países que estão atualmente na época do verão e enfrentam uma rápida disseminação do vírus. “Além disso, os outros coronavírus que causam doenças humanas potencialmente graves, como Sars e Mers, não mostraram nenhum comportamento sazonal”, argumenta ainda o estudo.
“Não há provas até agora de que o novo coronavírus poderá mostrar uma sazonalidade de inverno”, anunciou o Centro Europeu para o Controle de Doenças no fim de março.
No início da pandemia, um estudo na China sugeriu que, por cada aumento de um grau na temperatura, o número diário de casos confirmados caía entre 36% e 57%, desde que a umidade relativa se mantivesse em cerca de 75%. Os próprios autores desse estudo reconheceram que essa correlação entre o vírus, a temperatura e a umidade não era consistente em diferentes províncias.
Diante das conclusões que reduzem a esperança de a aproximação do verão conter a pandemia, os estudos dão ênfase à importância das medidas de contenção e isolamento social.
Em todo o mundo, a covid-19 já fez mais de 133 mil mortos e infecou mais de 2 milhões de pessoas.
Agência Brasil