Tommie Smith já foi um dos homens mais rápidos do planeta, mas foi o protesto protagonizado por ele no Jogos Olímpicos de 1968, na Cidade do México, que o tornou símbolo da era dos direitos civis.
Depois de quebrar o recorde mundial de 200 metros, Smith e seu colega John Carlos – terceiro lugar na prova – subiram ao pódio de meias pretas e permaneceram de cabeça baixa e punhos com luvas pretas, fechados e erguidos, durante toda a execução do hino nacional dos Estados Unidos (EUA).
A imagem se tornou um símbolo duradouro da turbulenta década de 1960 e da luta pela igualdade racial. Foi interpretada como uma saudação ao poder negro, em referência ao Movimento Panteras Negras, grupo ativista que, na época, lutava contra o racismo nos EUA. Tempos depois, Smith a descreveu como uma “saudação aos direitos humanos”.
Smith e Carlos, que disseram que usavam meias pretas para representar a pobreza negra, foram suspensos da equipe olímpica norte-americana e enviados para casa, onde receberam ameaças de morte e cartas com mensagens de ódio.
“Eu sabia que isso teria um impacto, mas não sabia até onde isso iria”, disse Smith à agência de notícias Reuters em 2018, antes do 50º aniversário do protesto.
“Foi um pedido e eu pude fazê-lo … Muitas pessoas morreram por uma questão de igualdade. Essa foi a minha chance. Eu tinha uma plataforma”, afirmou o ex-atleta.
O protesto, que ocorreu pouco depois do assassinato do pastor Martin Luther King Júnior, custou caro a Smith e a Carlos, pois eram heróis de seus contemporâneos, mas párias para o establishment.
Por décadas, os dois velocistas foram deixados à margem do movimento olímpico oficial dos Estados Unidos. A visita de 2016 à Casa Branca – governo do presidente Barack Obama – junto com os líderes do Comitê Olímpico dos EUA, marcou o primeiro evento oficial do qual eles participaram desde a suspensão em 1968.
“Sem sacrifício, não há movimento para a frente”, disse Smith em 2018. “Você precisa desistir de algo antes de receber algo e, geralmente, é algo muito melhor”.
Membro de uma família de 12 crianças que cresceram no estado do Texas, Smith tinha o perfil ideal para para uma longa carreira como velocista: conseguia acelerações e excelentes marcas por trecho percorrido, que o tornaram um dos velocistas mais versáteis da história.
Smith estabeleceu 11 recordes mundiais, incluindo as marcas de 200 e 400 metros, e tinha apenas 24 anos quando sua carreira foi interrompida.
Na Cidade do México, Smith completou os 200 metros em 19s83 – tempo que durou 11 anos até ser superado – e revelou, na ocasião, que poderia ter sido ainda mais rápido se não tivesse perdido velocidade, levantando os braços para comemorar o triunfo nas passadas finais.
Uma figura imponente com o dom da velocidade, Smith chegou a ser escolhido para defender o Los Angeles Rams, na Liga Nacional de Futebol Americano (NFL, sigla em inglês), em 1967. Dois anos depois, ele assinou contrato para jogar pelo Cincinnati Bengals, onde atuou por três anos no time de treino, na posição de recebedor. Durante a temporada de 1969, ele jogou em dois jogos, recebendo um passe por 41 jardas (o equivalente a 37,5 m).
Em novembro passado, Smith e Carlos receberam a maior honra do Comitê Olímpico e Paralímpico dos EUA ao serem inseridos no Hall da Fama da organização.
Agência Brasil