Pessoas com deficiência têm 3 vezes mais risco de contrair o novo coronavírus, que causa a covid-19. Um dos motivos que contribui para a possibilidade maior é a necessidade de apoio para se locomover.
No caso das pessoas cegas, o tato também serve para identificar o mundo ao redor, o que aumenta ainda mais exposição ao novo vírus, pois a transmissão da covid-19 acontece pelo contato com gotículas de saliva contaminadas e que, na maioria das vezes, são levadas pelas mãos até olhos, boca e nariz. Por isso, quem não enxerga ou possui alguma deficiência visual, deve aumentar os cuidados e adotar medidas específicas de prevenção.
“Elas usam o tato para se locomover e identificar as coisas. Tocam em portas, elevadores. Então, devem ter mais cuidado ainda com a higienização das mãos”, afirma Eliana Cunha, coordenadora da área de educação inclusiva da Fundação Dorina Nowill para Cegos.
Fábia Mistreta perdeu a visão há três anos por causa de uma doença autoimune chamada neuromielite óptica, que também a coloca no grupo de risco da covid-19.
Há 70 dias, ela não sai de casa para não correr o risco de pegar o novo coronavírus. “Tá difícil manter uma rotina diversificada, meu entretenimento tem ficado todo na internet”, conta. A navegação na web é possível graças a um software que transforma texto em áudio.
A higienização de objetos como carteira, celular e chaves quando seu marido volta da rua se tornou um hábito durante a pandemia. “Não tenho saído para nada. Eu tenho esse privilégio porque como ele sai por causa do trabalho, já resolve tudo”.
“A gente mora em um sobrado. Quando ele chega da rua, vem sempre pela parte da lavanderia e já sobe direto para o banho”, relata.
Fábia não se aproxima do companheiro antes do ritual de higienização. O casal não recebe visitas. “Inclusive datas importantes, como o aniversário do meu neto, teve comemoração virtual”, lembra.
Eliana, da Fundação Dorina Nowill, enfatiza a importância de fazer o isolamento social para evitar a infecção pelo novo coronavírus. No entanto, dá algumas orientações para casos em que seja imprescindível sair de casa. A higienização da bengala, por exemplo, deve ser feita após retornar do ambiente externo com água e sabão ou álcool em gel 70%.
“É preciso higienizar toda vez que sair e voltar para casa. O cuidado que a pessoa vai ter com a bengala é o mesmo com os calçados”, compara. “Apesar de ter uma superfície reduzida, ela está em contato com tudo”, acrescenta.
Ela chama atenção para o hábito comum entre aqueles que usam a bengala dobrável: coloca-lá em cima da mesa ou do sofá. “Isso não é indicado em nenhuma situação e, agora na pandemia, menos ainda”.
Fábia usa esse tipo de bengala, mas em casa a ferramenta não é necessária porque o ambiente é conhecido. “O que a gente faz é não mudar nada de lugar”, afirma.
Quem anda com o auxílio de cão-guia também deve higienizar as patas dos animais antes de entrar em casa.
A ajuda de pessoas que enxergam durante o percuso pelas ruas – principalmente para atravessá-las – e ambientes desconhecidos muitas vezes é essencial. Nessa situação, o voluntário deve oferecer o ombro como apoio.
“Em tempos sem covid-19 podia pegar no braço, mas essa é a região indicada pelos especialistas na hora de tossir e espirrar. Então, a orientação é pegar no ombro”, explica Eliana.
Pessoas cegas ou com deficiência visual também não têm noção de distância, lembra a profissional. Por isso, é dever de quem está à volta delas manter o distanciamento de 2 metros recomendado para prevenir o contágio pelo novo coronavírus.
“Isso de manter distância depende da atitude do outro. Deve haver um cuidado de forma a evitar a contaminação”, pondera.
Nesse contexto, a máscara é item essencial de prevenção e deve ser sempre usada ao sair de casa, como já exigem as autoridades para todos os cidadãos.
R7