Cerca de 30% a 50% dos pacientes com covid-19 em estado crítico têm insuficiência renal. Desses, de 30% a 40% precisam de diálise, segundo o nefrologista Américo Cuvello, coordenador do Centro de Nefrologia e Diálise do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em São Paulo. A diálise é um procedimento no qual uma máquina externa substitui o papel dos rins, quando o órgão exerce menos de 10% da sua função.
Entre todos os casos de covid-19 no país, de 5% a 15% dos pacientes apresentam insuficiência renal, ainda de acordo com o médico.
Ele explica que a covid-19 afeta o rim por meio de diversos mecanismos diferentes. Segundo ele, já foi comprovado em alguns estudos que o coronavírus ataca as células do rim. Além disso, a covid-19 promove uma tempestade citoquímica, ou seja, um aumento brutal de citocinas, proteína produzida por conta de um processo inflamatório generalizado.
“Pacientes com sobrepeso ou obesos já têm as citocinas um pouco aumentadas, é como se fosse uma leve inflamação crônica. Aí com a infecção por covid-19, isso aumenta ainda mais, por isso esses pacientes têm chance maior de ter insuficiência renal.”
A tempestade de citocina afeta os rins, pois proporciona uma cascata de substâncias tóxicas para o órgão, além disso, ela promove a dilatação dos vasos, o que acarreta a diminuição de fluxo sanguíneo. “É um efeito mecânico: diminui a perfusão de sangue e, em consequência, o rim trabalha menos, funciona menos.”
Uma outra maneira de a doença afetar os rins é por conta do acometimento do pulmão. “Nós temos algo na medicina que, quando você tem uma lesão em um órgão, um outro órgão à distância também pode sofrer por tabela. Além disso, se o paciente precisar de ventilação mecânica, isso aumenta a pressão sanguínea no tórax e diminui a perfusão para outros órgãos.”
Por último, é comum que, devido ao excesso de fadiga e cansaço, os pacientes tenham uma menor ingestão de líquido. “Os pacientes costumam chegar desidratados, o que piora ainda mais a função dos rins.”
Cuvello explica que, apesar de em outras doenças que causam o aumento de citocinas haver um acometimento dos rins, a insuficiência renal parece ser, no caso de pacientes da covid-19, uma característica da própria doença. “Na época do H1N1, por exemplo, observou-se pouco esse acometimento, mas o novo coronavírus causa um dano muito maior para o órgão [rim], o aumento das citocinas também é muito maior.”
Não é comum que os pacientes fiquem com alguma sequela, segundo o nefrologsita, mas, apesar disso, a recuperação do órgão é lenta e, normalmente, os sintomas respiratórios melhoram primeiro. “Leva de duas a quatro semanas, depois que o quadro respiratório melhorou, para os rins se recuperarem completamente.”
Agora, para os pacientes que já tinham uma função renal debilitada antes de contrair a infecção, pode haver algumas sequelas. “Principalmente pacientes idosos, com mais de 80 anos, em alguns casos até volta para a mesma função de antes, mas estamos vendo uma piora da disfunção. Felizmente, uma parcela bem pequena precisa de diálise para o resto da vida ou transplante.”
Os pacientes que ficam com sequelas, mas não ao ponto de terem que fazer diálise, precisam fazer um plano de tratamento conservador e seguir com acompanhamento médico, de acordo com o médico. O plano consiste em consultas regulares, evitar desidratação, evitar o uso de determinados remédios, controle de diabetes e hipertensão, entre outras estratégias personalizadas para cada paciente.
Para fazer o processo de diálise, é inserido um cateter em uma veia do corpo, normalmente a jugular ou a da perna. O sangue sai, por meio desse cateter, para uma máquina que possui uma membrana que exerce o papel de filtro, devolvendo o sangue purificado para o corpo.
R7