Duas medalhas olímpicas, cinco títulos, um vice-campeonato e duas medalhas de bronze em mundiais. Essas são apenas algumas das principais conquistas que o velejador Bruno Prada conseguiu durante sua longa trajetória no esporte. Poucas pessoas têm mais autoridade e conhecimento de causa do que o atleta de 48 anos para fazer uma previsão sobre o desempenho da equipe brasileira de vela nos Jogos Olímpicos de Tóquio.
É natural que a primeira pergunta da entrevista que ele concedeu à Agência Brasil fosse sobre o antigo parceiro Robert Scheidt (os dois velejaram juntos por 12 anos e conquistaram uma prata nos Jogos de Pequim, um bronze nos Jogos de Londres e três mundiais na classe Star). Com 47 anos, Scheidt já garantiu a vaga para o torneio da classe Laser dos Jogos de 2021, a sétima olimpíada da carreira do atleta (um recorde no Brasil). Aliás, mais um. Porque ele já é o maior medalhista olímpico nacional, com cinco conquistas. Mas, para Prada, o amigo deve ter muitas dificuldades em 2021.
“Somos muito amigos, muito mesmo. Mas acho que ele não tem a menor chance de conseguir uma medalha no ano que vem. É minha opinião. Minha base é o histórico dele nos últimos quatro anos. Nesse período, ele raramente foi ao pódio. E, desde 2018, quase não esteve no pódio. Pode acontecer. Torço muito, mas é difícil. Tem a questão da idade também. Os top 10 da classe são, em média, 15 anos mais novos. No alto rendimento, mínimos detalhes fazem de você um medalhista ou te deixam em oitavo. Ele é um super-homem, mas, na prática, não o vejo nem entre os dez primeiros”, disse.
Além de Robert Scheidt, na vela o Brasil tem, até o momento, outros dez atletas classificados para os Jogos de Tóquio: as duplas Fernanda Oliveira e Ana Barbachan (na classe 470), Kahena Kunze e Martine Grael (na classe 49er FX), Gabriel Borges e Marco Grael (na classe 49er) e Gabriela Nicolino e Samuel Albrecht (na classe Nacra 17). Além deles, Jorge Zarif (na classe Finn) e Patrícia Freitas (na classe RS:X) estão garantidos.
Para Bruno Prada, esse grupo deve retornar ao Brasil com uma medalha: “A Kahena Kunze e a Martine Grael são campeãs olímpicas e vice-campeãs mundiais, vêm em um ciclo muito bom. Colocaria uma medalha no peito delas. No mais, temos times bons que precisam surpreender. Ninguém fez coisas incríveis nesse ciclo. Acredito que, se voltarmos com uma medalha de lá, estará de bom tamanho”.
Após a conquista da medalha de bronze nos Jogos de Londres, em 2012, Bruno Prada desfez a dupla com Robert Scheidt com a saída do programa olímpico da classe Star, na qual eles velejavam.
“Já fiquei muito mal com essa história. Estava no auge em 2016, no ano dos Jogos do Rio de Janeiro. Fui campeão mundial com o americano Augie Diaz. Depois de Londres, já sabíamos que dificilmente a Star seguiria nos Jogos. Foi muito ruim não poder correr uma Olimpíada em casa. Tínhamos uma chance enorme de conquistar uma medalha. Seria a minha terceira e a sexta do Robert. Precisamos ser muito fortes para suportar aquela decisão. Não teve muito sentido. Tenho uma mágoa muito grande das pessoas que retiraram a Star dos Jogos Olímpicos”, declarou.
Em busca do hexacampeonato mundial
São três títulos mundiais ao lado do Robert Scheidt: Cascais (2007), Perth (2011) e Hyeres (2012). E mais dois com parceiros diferentes. Em 2016, com o americano Augie Diaz em Miami, e em 2019 com o polonês Mateusz Kusznierewicz, em Porto Cervo (Itália).
“Foi um privilégio velejar com o Scheidt. Ele é um cara muito determinado. A metodologia dele é ser o primeiro a entrar na água e o último a sair. Muito treino. Mas tenho uma história muito legal também com outros parceiros. Além do Scheidt, todos são medalhistas olímpicos ou mundiais. Caras do mais alto nível. Foi uma escola muito grande. Hoje sou um atleta muito melhor do que era na época olímpica”, afirma Prada.
E é assim que ele que parte para tentar escrever mais um capítulo na história da classe Star, se tornar hexacampeão mundial. Atualmente, Bruno Prada está ao lado do americano Lowell North.
“Em novembro desse ano, teoricamente teremos um mundial em Miami. Quem sabe ainda terei um pouco de gás para conquistar mais um troféu. Ainda não sei como ficará essa questão da pandemia do novo coronavírus. Um evento dessas dimensões é sempre mais complicado. Se fosse hoje, os brasileiros nem poderiam entrar nos Estados Unidos. Mas, se der tudo certo, quero chegar lá e brigar por esse título. Seria uma honra muito grande para mim. Já temos quase um século de mundiais de classe Star, e esse é um dos troféus mais desejados da vela mundial, talvez junto com a America´s Cup”, finaliza Bruno Padra, que completa 49 anos no dia 31 de julho.
Agência Brasil