Haverá vacina para todos os 210 milhões de brasileiros? O virologista Flávio Guimarães, do Centro de Tecnologia em Vacinas da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), explica que, imediatamente, não. “Autoridades falam em escolher grupos prioritários, como idosos e outras pessoas que também fazem parte do grupo de risco para a covid-19 assim que for disponibilizada a vacina, como profissionais da saúde e aqueles que prestam serviços essenciais, pois estarão mais expostos ao vírus”, ressalta. O Instituto Butantan, que vai produzir a vacina Coronavac junto à empresa chinesa Sinovac, anunciou na quarta-feira (22) que planeja produzir 240 milhões de doses com o apoio de doações. No entanto, essa quantidade ainda não seria suficiente para atender toda a população, pois cada pessoa precisaria receber duas doses do imunizante. Já em relação à vacina de Oxford, que, assim como a Coronavac, está sendo testada e deve ser disponibilizada no país, a estimativa é de 100 milhões de doses.
O que está mais próximo: uma vacina ou um remédio que cura a covid-19? A vacina é mais importante do que a descoberta de um remédio eficaz? “Há um tempo, diria que o remédio certamente viria antes porque sempre foi assim com outras doenças, mas isso não está se mostrando real no caso da covid-19. Tudo leva a crer que a vacina vai surgir antes”, pondera o especialista. De acordo com ele, essa perspectiva é boa, pois um remédio não consegue bloquear a epidemia, ele apenas trata pessoas que já estão doentes. Já a vacina faz esse bloqueio porque previne a doença ao ativar uma reação adequada do sistema imune e, assim, corta o ciclo de transmissão do vírus.
Qual a vantagem de ser um país cobaia da vacina e por que o Brasil foi escolhido para os testes? A grande vantagem é que o Brasil ficará melhor colocado na fila de espera por essas vacinas, de acordo com Guimarães. A vacina de Oxford tem demanda mundial. Primeiro o Reino Unido vai atender a demanda interna, depois seriam priorizados os países aliados da Europa, e o Brasil poderia ficar em uma posição muito ruim”, exemplifica. “Não sei se seremos equiparados a aliados, mas seremos contemplados em uma eventual distribuição”, completa. O Ministério da Saúde afirmou que, caso seja aprovada, 30 milhões de doses da vacina de Oxford estarão disponíveis até dezembro de 2020 e janeiro de 2021. O restante deve ser fabricado até junho de 2021 pela Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), no Rio de Janeiro.
Quando liberarem a vacina, a vida voltará ao normal? “Depende do que você chama de normal. A imunização de um país inteiro não vai acontecer de um dia para o outro. Mesmo que alguma dessas vacinas se comprove eficaz, não sabemos quando poderemos usá-la e quantas doses serão disponibilizadas”, pondera. “Mas a vacina é o melhor caminho para que a gente volte ao ‘normal’, só não sei se será igual ao de antes”, completa. Além da vacina de Oxford, a Coronavac está na última fase de testes em humanos inclusive no Brasil.
Quando houver vacinas contra a covid-19, poderei tomar duas diferentes? Reforçaria a proteção? Não, isso é inadequado. “Pode criar problemas graves de saúde porque bagunça a resposta imunológica do organismo”, alerta o virologista. Ele explica que, ao optar por uma vacina, o Ministério da Saúde vai inclui-la no Calendário Nacional de Vacinação. “Duas estão sendo testadas no Brasil. Em algum momento, elas serão comparáveis a partir dos dados disponibilizados, que permitirão avaliar aspectos como eficácia, possibilidade de oferta e distribuição de doses, então uma delas será escolhida”, afirma.
R7