O endividamento das famílias em Salvador registrou 65,6% no mês de julho, 1,5% a mais do que o registrado em junho, segundo a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC), da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado da Bahia (Fecomércio-BA).
De acordo com a Fecomércio-BA, a inadimplência atingiu o maior patamar dos últimos sete anos, ao passar de 28,7% em junho para a taxa de 30,2% em julho. Ou seja, três a cada dez famílias não conseguiram pagar a dívida até a data do seu vencimento.
Para a Fecomércio, isso significa que 608,2 mil famílias na capital baiana têm algum tipo de dívida, 168 mil a mais do que no início da pandemia no mês de março.
“O aumento do endividamento em condições normais é saudável, quando as famílias possuem renda para quitar os compromissos. Porém, não está sendo o caso atual. São 280 mil famílias na capital nesta situação, um aumento de 125 mil em apenas quatro meses”, explica o consultor econômico da Fecomércio-BA, Guilherme Dietze.
O economista pontua ainda que o percentual de pessoas que admitem não ter condições de pagar a dívida em atraso, subiu para 13,6%, maior percentual apurado desde junho de 2012. Atualmente, são 126 mil famílias nessa situação mais crítica.
A pesquisa mostra que o tipo de dívida mais frequente continua sendo o cartão de crédito com 92,7%. Apesar do histórico da taxa ser bastante elevado, o atual percentual se situa próximo da maior marca, de 95,8%, que aconteceu em janeiro deste ano.
A modalidade tem uma das mais altas taxas de juros do mercado, de 244% ao ano, segundo o Banco Central. Por isso, a Fecomércio-BA orienta os consumidores a tentarem renegociar dívidas no cartão ou cheque especial para uma modalidade mais em conta como o crédito pessoal ou o consignado que tem juros próximos a 25% ao ano.
Percentual de renda comprometida
Para o consultor econômico Guilherme Dietze, outro dado que preocupa na pesquisa da Fecomércio é que o percentual da renda comprometida com a dívida chegou aos 38,1%, maior relação desde 2012. O percentual considerado como saudável é próximo a 30%.
“Mesmo com uma melhora gradual no mercado de trabalho, as famílias ainda estarão com a corda no pescoço, tendo que renegociar débitos anteriores, para abrir a sua capacidade de consumo no futuro”.
Quando se avaliam os dados por faixa de renda, a pesquisa mostra que a situação é mais danosa para aqueles que ganham até 10 salários mínimos. Para esse grupo, a inadimplência foi de 34,3%, enquanto que para os que ganham mais de 10 salários, a taxa foi de 1,8%.
Com a crise, as famílias com renda mais elevada têm condições de equilibrar mais fácil o orçamento, já que grande parte são investidores com recursos em renda fixa ou variável e que podem se desfazer de alguma operação para liquidar alguma preocupação financeira.
“Por mais que já esteja ocorrendo uma reabertura gradual do comércio e shoppings centers, o cenário ainda é de muita limitação de consumo por parte das famílias. Se não fossem os R$ 600,00 de auxílio emergencial, a situação, certamente, estaria pior. Pode haver um aumento do movimento no comércio, sobretudo, o popular, por alguns motivos: demanda reprimida, utilização do auxílio emergencial e com a falta de emprego, muitos estão comprando produtos para tentar fazer algum negócio e sobreviver à crise”, avalia o economista Guilherme Dietze.
G1