As mudanças na rotina causadas pela pandemia do novo coronavírus abalaram pessoas de todas as idades. Ao mesmo tempo em que as crianças foram impedidas de frequentarem as escolas, pais e responsáveis precisaram descobrir uma nova rotina de trabalho, construindo assim um renovado cenário de relações e reconhecimento.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 86% dos brasileiros sofrem com algum tipo de transtorno mental, como depressão ou ansiedade, que se desenvolvem ainda na infância. Com a mudança de hábitos, ocasionada pelo isolamento social, as crianças tendem a ficar mais ansiosas e agitadas, especialmente as com desenvolvimento atípico. Para evitar essas alterações comportamentais, especialistas recomendam que a família tome cuidados e preze pela manutenção da consistência comportamental e da previsibilidade em relação ao dia a dia da criança.
Segundo a psicóloga Samanta Cavalcanti, mestre em Psicologia Experimental pela PUC-SP, e responsável pelo Viver – Instituto de Habilidades para Vida, “Os pais precisam ser fiéis aos sentimentos e conversar com suas crianças sobre o momento atual. Principalmente sobre as incertezas e as dúvidas, dando a maior quantidade de previsibilidade possível. Isso pode ser demonstrado através de um calendário, uma história social ou algo que as façam entender o que está ocorrendo no mundo. Ensinando sempre que a criança tem controle em relação ao que irá acontecer na rotina dela e aos acontecimentos e dando noção de temporalidade, ainda que seja voltar ou não para escola este ano”, enfatiza.
Ensinar é a melhor forma de garantir uma aprendizagem eficiente e diminuir sentimentos como ansiedade e medo. Para que as crianças diminuam os comportamentos improdutivos relacionados à falta de compreensão dos acontecimentos, possam entender o contexto atual e aquilo que se passa na vida dos pais e no mundo, o melhor caminho é adequar ferramentas individuais de acordo com a idade, habilidade e momento de cada família.
Crianças aprendem de formas diferentes, sendo necessário observar quais são as habilidades a serem ensinadas e quais as melhores ferramentas para garantir o ensino e a compreensão na especificidade de cada uma. Iara Pereira (38), mãe de Benjamin (6), está usando o tempo de quarentena para ficar ainda mais próxima do filho. “Temos conversado bastante sobre a importância da higiene, e eu tenho colocado alguns vídeos para assistirmos juntos. Ele aprende muito de forma visual. Por isso tenho recorrido aos desenhos e ilustrações do vírus, assim ele tem aproveitado bastante e tem me surpreendido com a aprendizagem. Além de nos aproximar, essas atividades vêm ajudando na manutenção da nossa rotina”, revela.
Atualmente algumas regiões do Brasil já trabalham com um calendário para retomadas das atividades presenciais nas escolas. Em Manaus, por exemplo, foi permitido desde o último dia 6 de julho, com base em um decreto estadual, que creches, escolas e faculdades particulares voltassem às aulas.
Contudo, a pandemia pegou o mundo de surpresa, e nem todas as escolas contam com a eficiência e assertividade de aplicativos profissionais de comunicação, sem contar que o modelo virtual diminui ainda mais a possibilidade de individualização do ensino, focando em habilidades e dificuldades específicas. Com experiências negativas sobre aulas remotas e também com a insegurança mediante a possibilidade de retorno das aulas presenciais, alguns pais de crianças têm dado preferência ao cancelamento das matrículas. “Cancelei a matrícula do Benjamin, mas não vejo isso como um ano perdido, mas sim como uma oportunidade de ensinarmos, e fazê-lo aprender no tempo dele”, finaliza Iara.
O processo de aprendizagem deve ser personalizado, mediante uma avaliação sobre qual repertório precisa ser desenvolvido, quais os pontos chaves que serão trabalhados e qual a melhor forma de ensiná-los.
Levando sempre em consideração que cada criança aprende de forma diferente e a aprendizagem só acontece mediante ensino específico, as ferramentas de ensino devem contemplar todo repertório comportamental do indivíduo. Dando destaque ao emocional, o motor, social e por fim, o acadêmico. Gerando assim, maiores possibilidades no desenvolvimento de habilidades para a nova realidade.
“Uma ferramenta muito eficaz nesse período, além da observação atenta ao comportamento do seu filho, é a inserção de um calendário que o faça acompanhar a passagem dos dias e do tempo de forma visual, e um quadro de rotina individual para que ele tenha compreensão, previsão e controle dos acontecimentos, assim como uma noção de temporalidade, ressalta Samanta.
Para mais informações sobre as ferramentas disponíveis para o processo de desenvolvimento de habilidades ao “novo normal”, acesse: www.habilidadesparavida.com.br.