O Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP investiga 28 casos de pacientes com suspeita de reinfecção pelo novo coronavírus. Destes, 16 são investigados em São Paulo e 12 em Ribeirão Preto, no interior de SP.
Um caso já havia sido confirmado pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto no início de agosto. Uma técnica de enfermagem de 24 anos foi reinfectada pelo coronavírus no intervalo de 50 dias. O primeiro diagnóstico positivo ocorreu em 13 de maio e o segundo, em 2 de julho.
“Os sintomas e testes positivos em dois períodos diferentes poderiam ser explicados por outra virose por um vírus diferente, que causaria confusão porque haveria ainda fragmentos inativos do vírus que causa covid-19 [SARS- CoV-2] que permaneceram no corpo do paciente, pela longa permanência do vírus no corpo, com período de inatividade e posterior reativação ou também por uma possível reinfecção”, explicou, em nota, o HC de São Paulo.
Há 20 dias, em 26 de agosto, a unidade da capital paulista tinha apenas sete pacientes com suspeita de reinfecção. Em entrevista para a Rádio USP, o coordenador do laboratório de reinfecção do HC na capital, Igor Max Lopes, informou que a maioria são profissionais de saúde.
“São pessoas que ficaram doentes duas vezes, com dois testes RT-PCR positivos e um período no meio [entre os dois exames] em que elas ficaram bem”, afirmou. De acordo com ele, o intervalo entre os resultados positivos dos exames é de 2 a 4 meses.
Para confirmar um caso de reinfecção, é preciso sequenciar o material genético do vírus e verificar se existem diferenças entre o que foi encontrado na primeira e na segunda infecção. Isso impõe um desafio: ter acesso a amostras virais coletadas nos dois episódios, para compará-las.
Foi o que aconteceu em Hong Kong, onde o primeiro caso de reinfecção pelo coronavírus no mundo foi relatado. Os cientistas afirmaram ter encontrado 23 nucleotídeos diferentes, estruturas que compõem o RNA (material genético) do vírus. Na Holanda e Bélgica também houve casos de reinfecção confirmados.
“A dificuldade maior é ter a amostra inicial, porque não obrigatoriamente elas foram guardadas”, destaca Lopes. “Mesmo quando o laboratório guardou, pode ser que a quantidade de material biológico do vírus restante é pequena a ponto de não permitir fazer esse sequenciamento”, completa.
Outro desafio é a lentidão com que o novo coronavírus se transforma. A média é de uma a duas mutações por mês, segundo o pesquisador.
Em entrevista ao R7, a infectologista Ingrid Cotta da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo, explicou ainda que o estudo da árvore filogenética, que detalha as relações entre as espécies de vírus e suas mutações, permite ter cereza sobre a reinfecção. De acordo com ela, o novo coronavírus tem poucas possibilidades de mutação.
“Quanto mais distante da origem [da árvore] maior a chance de ser um vírus de linhagem diferente”, disse.
R7