Os Estados Unidos são o maior mercado de picapes do mundo, mas os modelos movidos a eletricidade das marcas Ford, Rivian e Tesla só serão lançados por lá em 2021. Enquanto isso, podemos dizer que o Brasil larga na frente dos norte-americanos com a estreia da primeira picape elétrica de produção em série já feita.
A chinesa JAC iEV330P já é vendida em seu país de origem e chega por aqui em outubro por R$ 289.900. A marca admite que o preço é salgado, mas explica que a sua estratégia está focada nas vendas a empresas e frotistas.
No entanto, nada impede que uma pessoa interessada compre esta primeira picape elétrica do mundo. Porém, a JAC avalia que a iEV330P não atenderia esse consumidor com a mesma eficiência de um modelo movido a diesel.
“A iEV330P atende muito bem o uso profissional no dia a dia, mas a sua autonomia é limitada para o uso recreativo. O consumidor que utiliza a picape para o lazer ou viajar roda distâncias muito superiores a 320 quilômetros, sem contar que ele poderia ter dificuldades para recarregar as baterias em locais mais afastados”, diz Sergio Habib, presidente da JAC Motors do Brasil.
O executivo explica também que o desenvolvimento de uma picape elétrica com autonomia para viajar longas distâncias exigiria diversas mudanças no projeto e, consequentemente, elevaria consideravelmente o preço final do veículo.
“A engenharia teria de redesenhar o chassi para instalar baterias de maior capacidade, e a estrutura reforçada exigiria dois motores mais potentes para empurrar todo esse peso. Nesse caso, podemos falar em uma picape que chegaria custando cerca de R$ 600 mil”, acredita.
Adaptações
Feita para pegar no batente, a iEV330P sofreu algumas mudanças em relação ao modelo vendido na China para atender às exigências de clientes brasileiros ouvidos pela JAC. A principal delas é a caçamba de 1,80 metro de comprimento, cerca de 30 centímetros maior que a das demais picapes de cabine dupla.
Diferentemente do visual mais futurista dos carros elétricos, a iEV330P segue um estilo um tanto conservador, que destoa da tecnologia escondida sob o capô apoiado por um par de amortecedores pressurizados e da longa carroceria de 5,61 metros de comprimento.
O interior também segue um desenho mais tradicional, que parece ter buscado inspiração em alguma picape da década passada. Ainda assim, o acabamento pode ser considerado mais que satisfatório para um veículo de trabalho, com peças bem alinhadas, material macio ao toque sobre o painel e apliques plásticos que imitam metal escovado no console central. Já o tecido marrom de boa qualidade que reveste os bancos dão um ar mais sofisticado ao ambiente.
A lista de equipamentos é mais enxuta que as das versões topo de linha das picapes médias, que ultimamente ganharam mais assistências de condução e recursos de segurança. Porém, a iEV330P traz itens triviais, como direção elétrica, ar-condicionado, central multimídia, trio elétrico, além de faróis com iluminação diurna de LED e os obrigatórios airbags frontais e freios com ABS.
Primeiras impressões
Antes de dar a partida, o motorista consegue encontrar a posição ideal de dirigir com certa facilidade devido à boa amplitude da regulagem do banco. No entanto, a falta de ajuste de distância do volante obriga os condutores mais altos a ficarem com os braços um pouco esticados.
Em um primeiro momento, é normal estranhar o silêncio e a falta de vibração dos motores a diesel após girar a chave no contato. A inscrição “Ready” acesa no painel indica que a picape está pronta para seguir em frente. Na hora de engatar a “primeira marcha”, basta colocar em Drive a alavanca tipo joystick (parecida com a dos carros da BMW) e acelerar.
A iEV330P não usa os 33,6 kgf.m de torque instantâneo do motor elétrico de 150 cv de potência para arrancar com o vigor típico dos carros movidos a bateria. A picape se vale dessa força para executar a tarefa de veículo de carga, capaz de carregar até 800 kg.
Durante o teste, realizado com um protótipo em um condomínio fechado na Grande São Paulo, foi possível notar que a picape atende bem a sua proposta de rodar em centros urbanos ou dentro de grandes empresas sem emitir poluentes. Ela encarou bem algumas subidas sem exigir muita pressão no pedal do acelerador, mas não foi possível avaliar a picape com algum peso na caçamba.
Segundo a JAC, a velocidade máxima da iEV330P é limitada a 97 km/h para economizar a carga da bateria de 67 kWh.
O comportamento dinâmico típico de picapes médias proporciona um rodar até macio nos trechos de asfalto liso, mas compromete um pouco o conforto dos passageiros ao passar sobre as ondulações do asfalto – principalmente quando a traseira começa a quicar com a caçamba vazia.
Na tomada
A iEV330P oferece dois modos de recarga. O primeiro, que leva até 8 horas, permite conectar a picape a uma tomada comum de 110 volts ou 220 volts por meio de um cabo ligado a um plugue no motor. O mais rápido “abastece” a bateria na metade do tempo, porém, exige o uso de um carregador (que será vendido separadamente), conectado a um bocal na lateral da picape.
A JAC diz que rodar com a iEV330P custa cerca de R$ 11 a cada 100 quilômetros (20 kWh). É praticamente um quarto do que uma picape convencional gastaria para percorrer a mesma distância, considerando-se um consumo médio de 10 km/l e ao custo de R$ 4 o litro do diesel.
Além disso, a marca destaca que os custos de manutenção são consideravelmente inferiores pelo fato de a picape elétrica não ter componentes de veículos a combustão, como correias, filtros, radiador, velas e transmissão. A JAC fala em um custo operacional até seis vezes mais baixo.
Ainda é muito cedo para colocar a JAC iEV330P em alguma comparação, pois é a picape picape elétrica do mundo e a primeira também vendida oficialmente em nosso mercado. Apesar do preço elevado, a impressão inicial foi boa, uma vez que a utilização estritamente comercial possa ser suprida com a autonomia de pouco mais de 300 quilômetros.
R7