No momento em que as montadoras de veículos sofrem com a falta de peças, o mercado de carros seminovos vive um aumento da demanda que puxou para cima o preço dos automóveis anunciados.
Ao comentar os resultados de 2020 do setor automotivo, a Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) disse que as montadoras têm o “pior nível de estoque da história”.
O presidente da entidade, Luiz Carlos Moraes, afirma que o atual volume de veículos é suficiente para apenas 12 dias de faturamento. Ele atribui o movimento à falta de insumos para a produção, que puxou o preço dos 0km para cima.
“A questão de preço tem um efeito da desvalorização da moeda, que afeta toda a cadeia de fornecedores, que precisam repassar isso. Além disso, insumos importantes, como alumínio, aço e outros componentes foram afetados“, destacou Moraes.
O presidente da Webmotors, Eduardo Jurcevic, avalia que o atual cenário do setor forma uma “equação perfeita” que justifica o aumento dos valores dos seminovos. “A alta dos preços existe por essa oferta e demanda, mas também pelo aumento do preço dos usados devido à falta de insumos. A gente percebeu essa alta em torno de 2 pontos percentuais, que varia muito entre os segmentos”, afirma ele.
Jurcevic observa ainda que o aumento da procura por veículos foi impulsionado por uma aversão ao uso do transporte coletivo e a redução de gastos dos trabalhadores que não tiveram a renda afetada pela pandemia.
“O brasileiro gosta de carros, olha isso como um bem. A gente acredita que parte dos gastos que não foram destinados a restaurantes e viagens foram direcionados para a compra de veículos, inclusive na geração mais nova, que tinha muito desinteresse na compra”, destaca o presidente da Webmotors.
Jurcevic, no entanto, descarta que a alta de preços coloque em descrença a tabela Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), referência do setor. “A tabela demonstra sempre com atraso essas altas de preço, porque coleta os valores conforme eles se movimentam”, afirma.
“O mercado se ajusta. Se você for conversar com as concessionárias, muitas já pagam 100% da Fipe, mas o mercado já está se ajustando para cima, o que vai fazer o patamar subir devido a essa falta no mercado de usados”, completa Jurcevic. Procurada pelo R7, a Fipe afirmou apenas que “observa o mercado de automóveis pelo lado dos preços, não realizando análises das quantidades produzidas ou demandadas”.
R7