A agenda de um presidente da República, o aparato de segurança e o constante acompanhamento da imprensa não deixam muita margem para férias, lazer ou algo que todos nós podemos fazer, uma trivial ida a restaurante ou cinema, por exemplo.
Apesar do monitoramento em tempo integral, os presidentes acabam dando “escapadas”, algumas vezes driblando até a segurança, para passeios, cinema ou para uma volta de moto.
Ficou famosa a aventura de Dilma Rousseff sobre duas rodas pelas ruas de Brasília na garupa de um cúmplice, o ex-ministro Carlos Gabbas. A história foi revelada pela própria presidente a outro ministro e, depois da confidência, o chefe da segurança presidencial disse que a presidente havia sido acompanhada à distância pela segurança.
Bolsonaro tem sido até agora o mais assíduo nas escapadas dos últimos presidentes. Dilma deixava pouco a agenda oficial. De Temer só se sabe de encontros políticos fora da agenda, nada de lazer. Lula também driblava a imprensa para encontros fora da agenda e o mais peculiar de todos era Itamar Franco, que gostava de ir ao cinema, com certa frequência, como se trabalhador comum fosse.
Nas últimas semanas, Bolsonaro driblou a imprensa que o acompanha em tempo real duas vezes para almoçar na Vila Planalto, antigo bairro operário da construção de Brasília e que fica poucos quilômetros da Praça dos Três Poderes. No dia 11 de janeiro, o presidente foi almoçar em um restaurante popular acompanhado dos ministros Augusto Heleno (GSI), Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo) e Jorge Oliveira (TCU).
Dois dias depois, em 13 de janeiro, saiu novamente, antes mesmo da bandeira que fica hasteada no Palácio do Planalto, indicando que o presidente está no local, ter sido retirada. Foi novamente para a Vila Planalto, para outro restaurante, maior e desta vez com o filho Carlos Bolsonaro e os ministros Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo) e Fábio Faria (Comunicações), assessores e parlamentares.
Bolsonaro já disse em entrevistas que sente falta “de comer pastel e tomar caldo de cana” sem o rígido protocolo de segurança. Ele nega suas saídas sejam populismo. “Eu faço porque eu gosto. É uma maneira de fazer algo diferente”, disse a jornalistas no final de 2019, antes, portanto da pandemia.
Nem a pandemia, aliás, afastou Bolsonaro das ruas, o que gera críticas. Em geral sem máscara, o presidente promove aglomerações toda vez que ele sai dos palácios, a exemplo do que se viu no final do ano em Santos.
Veja abaixo algumas das recentes escapadas do presidente. Nenhuma delas consta na agenda oficial do presidente da República e algumas são em período de férias.
Escapadas:
– Dia 22 de dezembro: Bolsonaro teve um curto período de férias em meio às pressões sobre a estratégia de vacinação contra a covid-19 e foi para Santa Catarina. Na ocasião, em um dos dias, curtiu pescaria ao lado do apresentador Ratinho e do ministro das Comunicações, Fábio Faria.
– Dia 26 de dezembro: presidente, acompanhado por seguranças, foi a uma lotérica em Cruzeiro, bairro de Brasília. Após fazer um jogo, esteve em uma padaria local.
– Dia 30 de dezembro: Bolsonaro, hospedado no Forte das Andradas, em Guarujá (SP), aproveitou o dia para passear de moto aquática. Acompanhado da filha Laura, de 9 anos, esteve também em São Vicente (SP) e Praia Grande (SP). Em um dado momento, desembarcou na areia e cumprimentou banhistas que estavam no local e tirou fotos.
– Dia 10 de janeiro: presidente deixou o Palácio da Alvorada para fazer um passeio de moto em Brasília. Fez diversas paradas: Torre de TV Digital, campo de terra e, em seguida, posto da PRF (Polícia Rodoviária Federal). Antes de voltar para a residência oficial parou ainda em um quiosque na beira do lago Paranoá.
– Dia 13 de janeiro: Bolsonaro e sua comitiva almoçaram no restaurante Braseiro, localizado na Vila Planalto. Entre os presentes, estavam o filho Carlos, ministros Eduardo Ramos (Secretaria de Governo) e Faria, além de parlamentares e seguranças.
– Dia 16 de janeiro: presidente compareceu a uma festa de aniversário do Clube Naval, em Brasília, acompanhado de seu filho Carlos, em meio à panelaços contra o governo por causa do colapso no sistema de saúde de Manaus (AM), onde há relatos de que pessoas, diagnosticadas com covid-19, morreram por falta de oxigênio nas unidades hospitalares.
R7