Muitos pacientes que recebem alta hospitalar da Covid-19 têm um novo desafio: superar as marcas deixadas pelo novo coronavírus. Para alguns, a dificuldade de andar e o cansaço extremo; para outros, a falta de ar. Falar e voltar a se alimentar da mesma maneira de meses atrás também pode ser um martírio para aqueles que precisaram de traqueostomia ou que seguem sem olfato e paladar; enquanto a dor de cabeça forte e os sinais de abalo psicológico rondam a mente de muitas pessoas e até mesmo de seus familiares.
Para garantir uma melhora na qualidade de vida e para que os pacientes que venceram a Covid-19 superem as sequelas, o Hospital Universitário Cajuru, em Curitiba (PR), em parceria com a PUCPR, montou um ambulatório especializado nesse tratamento para atender a população por meio do Sistema Único de Saúde (SUS). Dependendo da sequela, os pacientes recebem atendimento especializado de cardiologista, nefrologista, fonoaudiólogo, neurologista e nutricionista. Junto ao corpo clínico também atuam alunos de Medicina e Fisioterapia da PUCPR. São profissionais que, desde o começo da pandemia, formam uma força-tarefa de pesquisadores para entender o coronavírus e contribuir com formas de combater a Covid-19 e melhorar a assistência e a qualidade de vida dos pacientes infectados.
O serviço é oferecido às sextas-feiras no ambulatório do Cajuru, no período da tarde. Primeiro é feito o agendamento e, então, o paciente passa por uma consulta e uma série de exames. Com os resultados prontos, o paciente retorna para avaliação médica e é feito o encaminhamento necessário.
Sintomas e tratamentos
O gerente médico do Hospital Cajuru, José Augusto Ribas Fortes, um dos responsáveis pela coordenação do ambulatório, conta que há um maior índice de pacientes com fadiga crônica, dificuldade cognitiva, persistência de dores no corpo e, principalmente, sequelas psicológicas como transtorno do estresse pós-traumático. “Essa doença tão nova tem nos mostrado desafios diários. No primeiro momento, passamos pela complexidade de entender as formas de contágio, depois veio a luta para encontrar os melhores tratamentos (situação que ainda segue) e agora precisamos avaliar as sequelas e as melhores formas de tratá-las”, analisa.
A manicure Ruthe Plefka, de 59 anos, recebeu a confirmação do contágio no dia 24 de fevereiro e, cerca de duas semanas depois, foi internada e ficou intubada por 8 dias. “Para mim, no começo, foi como uma crise de rinite alérgica. Fui até uma farmácia e fiz o exame que deu positivo. Depois disso, eu procurei o postinho e, por estar com falta de ar, fui internada e intubada. Duas semanas depois eu melhorei e fui para o quarto, mas com muita dificuldade devido ao tempo de internação”, diz.
No caso de pessoas que ficaram internadas para tratamento contra o coronavírus, as consequências também apresentam agravantes, como é o caso de Ruthe que, após receber alta da UTI, teve o novo desafio de recuperar o equilíbrio e voltar a andar. “Quando eu saí do hospital, eu não conseguia nem ficar em pé. Perdi muita massa muscular no tempo que fiquei internada e, com isso, só ia de um lugar para outro com ajuda de um andador ou cadeira de rodas. Nos primeiros dias em casa, até para tomar banho eu precisava de ajuda e o auxílio de uma cadeira apropriada”, conta.
Além do impacto físico, o abalo psicológico tem se mostrado uma das grandes sequelas para aqueles que passam pelos sintomas mais graves da Covid-19 e o acompanhamento especializado é essencial nessa nova fase. “Eu fui para o ambulatório do Hospital Cajuru algumas semanas após receber alta e me surpreendi com o atendimento. Foram cerca de oito médicos especializados em áreas diferentes que me atenderam da melhor forma possível. Para mim, foi extremamente importante ter esse acompanhamento porque eu estava muito preocupada com as sequelas que poderiam ficar e pude fazer todos os exames de forma gratuita. Para aqueles que não têm condições de pagar pelo serviço, é essencial. Além disso, pude conversar com a psicóloga. Hoje meu maior medo é pegar Covid-19 de novo e voltar para a UTI”, revela.
O gerente médico do hospital reforça a importância dos ambulatórios nesse momento, principalmente aqueles prestados pelo SUS. “Nós queremos permitir que essas pessoas superem os traumas, a dor, tanto as sequelas físicas quanto psicológicas. Com um serviço 100% SUS, alcançamos os pacientes que apresentam alguma sequela após o contágio, mas que não tem condições financeiras para fazer o tratamento e acompanhamento necessário”, revela o médico.
Sobre o Hospital Universitário Cajuru
O Hospital Universitário Cajuru é uma instituição filantrópica com atendimento 100% SUS. Está orientada pelos princípios éticos, cristãos e valores do Grupo Marista. Vinculado às escolas de Medicina e Ciências da Vida da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), preza pelo atendimento humanizado, com destaque para procedimentos cirúrgicos, transplante renal, urgência, emergência, traumas e atendimento de retaguarda a Pronto Atendimentos e UPAs de Curitiba e cidades da Região Metropolitana.