Um levantamento realizado pela Sociedade Brasileira de Pediatria, com base em dados oficiais do Ministério da Saúde, mostrou que a taxa de letalidade da covid-19 caiu de 8,2% para 5,8% entre crianças e adolescentes que foram hospitalizados por SRAG (síndrome respiratória aguda grave) no comparativo entre 2020 e 2021.
Apesar dos números otimistas, a pediatra Andreza Juliani Gilio explica que os pais devem permanecer atentos com os cuidados para evitar o contágio e a transmissão do vírus por parte das crianças, sobretudo, no retorno às salas de aula.
“Se a criança apresentar algum sintoma, é importante que ela fique isolada, em contato com apenas uma pessoa da família, até sair o resultado do teste. O mesmo vale se alguém da família testar positivo para a covid-19, a criança tem que se afastar da escola por pelo menos 14 dias até que se prove que ela não contraiu o vírus”, explica a médica.
A pediatra ressalta que não há necessidade de cuidados extras dentro de casa, como manter o uso de máscara após a volta da escola, se os protocolos de segurança estiverem sendo seguidos corretamente no ambiente escolar. “Quando a criança chegar em casa é só lavar a mão e trocar de roupa”, afirma.
“É importante destacar o papel dos pais nesse retorno à escola, porque eles também têm a responsabilidade de não ir em festas, de deixar a criança em contato só com pessoas da casa para que ela não corra o risco de se contaminar”, orienta Andreza.
Segundo a pediatra, apesar da incidência da covid-19 ser menor entre crianças, o teste deve ser realizado por aquelas que apresentarem qualquer sintoma gripal, seja coriza, febre, tosse, dor no corpo ou dor de cabeça.
“Algumas crianças com covid só têm febre, então tem que ser testado, ainda mais na pandemia em que a primeira opção vai ser sempre pensar em coronavírus. Além disso, estamos na época de outros vírus circularem, como o influenza e outros vírus respiratórios”, afirma a especialista.
A pediatra destaca que ainda não há estudos conclusivos que expliquem o porquê de a covid-19 encontrar mais dificuldade para se desenvolver de forma grave no organismo das crianças.
“A proteína spike do coronavírus precisa se ligar a um receptor que se chama ECA (enzima conversora da angiotensina) para conseguir entrar na célula humana. Então, a hipótese é de que como nas crianças esse receptor é presente em menor quantidade do que nos adultos, o coronavírus acaba tendo mais dificuldade para entrar no organismo delas”, explica.
A médica também ressalta que as novas variantes do SARS-CoV-2 não impactaram a forma como as crianças contraem o vírus ou na maneira como o organismo delas desenvolve a doença.
“Na observação clínica, não temos visto aumento dos casos em relação às crianças proporcionalmente ao número de adultos”, afirma.
Embora não seja tão letal entre crianças durante a fase aguda, a covid-19 pode provocar a SIM-P (síndrome inflamatória multissistêmica pediátrica). Segundo o Ministério da Saúde, 736 casos da síndrome e 46 mortes associadas a ela foram registradas no Brasil até meados de fevereiro.
Um estudo feito pela Academia Americana de Neurologia concluiu que metade das crianças que tiveram SIM-P após a covid-19 apresentou algum sintoma neurológico.
“Mais estudos são necessários envolvendo mais crianças e acompanhamento delas para ver como essa condição muda com o tempo e se há algum efeito neurocognitivo de longo prazo”, afirmou um dos autores do estudo, o médico Omar Abdel-Mannan, do University College London, no Reino Unido.
R7