“Acredito muito que as pessoas já nascem com seu destino traçado. E o meu destino era a dança.” É assim que Rosana Abubakir define os seus quase 40 anos de dedicação à sua escola de balé, que, em quase quatro décadas, representou a realização de um sonho de criança. Nesse período, ela contribuiu para a educação e formação de milhares de crianças, porque, como diz a própria Rosana, “a dança é um segmento da educação.”
Depois de um ano de quarentena, após muito refletir, Rosana, com a certeza de ter cumprido a sua missão, e juntamente com sua diretoria, decidiram encerrar as atividades do Ballet Rosana Abubakir. A pandemia, claro, contribuiu para a decisão, que já vinha sendo amadurecida nesses três últimos anos. “Nesse momento tão incerto para todos, seria um grande risco e desafio, que não estou mais disposta a encarar nessa etapa da minha vida. Seria expor nossas(os) alunas(os) a um risco iminente por conta da pandemia, e também porque a dança não pode ser limitada! A dança é intensa, é a maior expressão do corpo, da alma e da mente. É liberdade!”
E, se ela já vinha pensando no fechamento da escola, por que foi adiando a decisão? Ciente do seu papel, Rosana é objetiva: “Eu não queria interromper os sonhos dos alunos e alunas e nem de suas famílias” Mas o sonho não era só das alunas: era, principalmente, da própria Rosana. “Desde menina, tinha o sonho de dançar e de expandir esse sonho para outras pessoas. Sempre gostei muito de dançar e, fui muito incentivada por minha irmã Marília que também dançava, e foi quem me criou desde cedo, ainda criança, quando perdi meus pais.”
Muito determinada desde cedo, depois de ter iniciado seus estudos em Salvador, ela foi para Inglaterra, onde obteve sua formação nas escolas mais renomadas de Londres. Participou de várias apresentações, destacando-se no balé “O Lago dos Cisnes”.
Depois dos estudos na Inglaterra, Rosana voltou decidida a abrir sua própria escola. Assim nasceu a Ebarte – Escola Bahiana e Ballet e Arte, que funcionou por três anos no Jardim dos Namorados, na Pituba. Diante da demanda, sempre determinada, tomou coragem para dar um passo bem maior: construir uma escola de balé com todos os requisitos básicos para a prática da dança. Ela queria mais!! Com a experiência vivida em Londres, onde pôde ver o respeito que a dança merece, ela teve certeza de que essa é uma profissão tão importante quanto qualquer outra.
Rosana quis trazer tudo isso como referência de dança, na sua própria escola. Tudo isso pensando na formação e capacitação de seus alunos e futuros profissionais, ela quis construir uma sede própria, totalmente projetada com o que existisse de mais moderno e eficiente e que fosse voltada para essa prática, a exemplo de salas amplas com pé direito alto para aulas de Pas de Deux; acústica adequada; barras móveis e fixas; piso contra impacto… ou seja, uma escola como as dos grandes centros de balé. Foi instalada então a sua sede própria, o BALLET ROSANA ABUBAKIR, que funcionou até o encerramento da escola.
Em todos esses anos, Luciano David, o seu marido e então sócio, foi fundamental par a realização desse projeto. Administrador de formação, ele fez esse sonho sair do papel e se tornar realidade. Foi mais ou menos assim diz Rosana “Eu sonhava e ele como uma contenção, buscava concretizar sempre com segurança esses meus sonhos. Foi um casamento que deu certo.”
Caprichosa, Rosana nunca se interessou em ter uma segunda sede porque queria que sua escola fosse especial, com qualidade, diferenciada, que fosse única!! Tendo inclusive recusado convites para instalar uma outra sede num grande shopping de Salvador.
Mas a nova sede não era o bastante. Rosana queria mais desafios e, aprofundando seus estudos, decidiu trazer para a Bahia, sendo pioneira, o método cubano de balé, pois tinha a convicção que era o mais adequando às condições físicas, à musicalidade e à expressão corporal latinas.
Embora perfeccionista, Rosana sempre quis que na sua escola todos os alunos pudessem ter oportunidades de aprender e dançar. O Ballet Rosana Abubakir não era uma escola só para talentos. Era para aqueles que nasceram com o dom e também para todos os que tivessem limitações. Mas que, quando as cortinas se abriam, todos dançavam, todos brilhavam, cada um com seu talento ou limitação.
Ao longo de quase 40 anos, Rosana se firmou no cenário artístico e cultural da Bahia, com um calendário extenso com diversas apresentações, como: Festivais Anuais, sendo este o ponto alto da escola. Com temas e histórias criados pela própria Rosana, além dos balés de repertório, exclusivamente para suas alunas. Com o requinte no figurino rico e variado, criado por sua irmã Marília; Noite de Gala: trazendo vários convidados especiais, bailarinos consagrados nacional e internacionalmente, como: Fernando Bujones, Maximiliano Guerra, Carlos Acosta, considerados maiores bailarinos do mundo, para dançar com o Corpo de Baile da sua escola, além dos bailarinos Anita Magyari, Karina Olmedo, Tiekka Schofield, Ana Botafogo, Cecília Kerche, Marcelo Misaillidis, todos, principais de companhias nacionais e internacionais, e também o Ballet Clássico de Havana.
Trabalhos Sociais
A responsabilidade social é outra marca forte da escola, que não abre mão de valores humanos, tais como a solidariedade e amor ao próximo incentivando seus alunos através de tais espetáculos, como: Projeto Cultural Rosana Abubakir, destinado a escolas públicas de Salvador, com apresentações no TCA; O Aluno faz o Show, patrocinado pela escola e produzido pelas alunas , destinado para as Obras Assistenciais de Irmã Dulce; Mini Show, entre outros e o Mais Dança, último projeto da escola criado para formação de plateia, com o objetivo de divulgar, promover e incentivar a arte da dança.
Cursos e Concursos
Promoveu vários cursos e concursos com professores, metodólogos e maîtres de balé, nacionais e internacionais, como também o respeitado “Pas de Cuba”
Premiações
Foi premiada em diversos festivais de dança do País. Conquistou a Medalha de Prata no I Concurso Internacional de Dança Alicia Alonso ( Cuba ); lhe foi conferido pelo Conselho Brasileiro de Dança ( C B D D ), órgão vinculado ao Conséil Internacional de La Danse ( C.I.D – UNESCO ) a Medalha de Mérito Artístico, única no mundo que tem na sua galeria artistas de projeção internacional como: Galina Ulanowa, Rodrigo Pederneiras, Alicia Markova, Serge Lifar, Maurice Béjart, entre outros, em reconhecimento aos serviços prestados à dança ao longo de sua carreira artística e profissional. Foi nomeada oficialmente pelo CBDD como sua Delegada Regional, atuando em todo o Estado da Bahia; Foi condecorada também, por unanimidade, pela Câmara Municipal de Vereadores de Salvador, com a Medalha Maria Quitéria, em reconhecimento pelo seu trabalho desenvolvido em prol da arte e da cultura em nossa cidade.
Seu legado e realização, pessoal e profissional
Rosana resume os quase 40 anos de dedicação ao BRA: “Me sinto plena e realizada. Tenho consciência de que sempre fiz o melhor que pude, dediquei desde cedo a minha vida, de corpo e alma à dança. Sei que errei e acertei muito, mas sempre procurando melhorar. Amei e fui amada por meus alunos e alunas, com quem tive a sorte de conviver. Como com qualquer pessoa, não é fácil dividir a direção de uma empresa. Portanto, não foi uma tarefa fácil e sei que ninguém consegue nada sozinho.Tive muitos desafios!! Tive total apoio do meu marido Luciano, de minha irmã Marilia, minha equipe de professores preparados, formados e com pensamentos iguais aos meus, que abraçaram a filosofia do BRA. Prefiro não mencionar nomes, pois, por quase 40 anos, foram muitos que estiveram comigo e, não quero correr o risco de esquecer algum. Me sinto privilegiada pois, à frente do BRA, fiz tudo que sonhei. Ou seja, tudo que uma diretora de escola de balé pode realizar, graças a Deus, eu realizei, e por encerrar a escola como comecei, sempre quis ser única, apenas uma sede, apenas uma etapa da minha vida”.
Rosana deixou um legado com muitas histórias, mas só quem passou pelo BRA pode entender.
“Agora chegou o momento de descansar e relaxar um pouco, porque diferente do que muitas pessoas podem pensar, trabalhar com dança no Brasil, na Bahia, não é uma tarefa muito fácil”, diz Rosana. “E chega uma hora que, assim como uma bailarina ou até mesmo um jogador de futebol, existe o momento de saber parar e buscar novos caminhos na sua profissão. E eu não sou diferente! A pandemia foi a gota d’água onde eu pude refletir e tomar essa decisão de não retornar. Torço muito para que possamos vencer essa guerra, esse momento tão difícil que estamos passando”
Novos passos do Ballet Rosana Abubakir
As cortinas se fecham, mas, como diz a própria Rosana, “a paixão nunca acaba”. Os próximos atos do BRA acontecerão nas redes sociais, saindo assim do mundo real, para o mundo digital. Sigam o BRA: Twitter, Facebook, Instagram, Youtube e pelo site oficial.