A obesidade infantil é um problema a ser enfrentado, no Brasil e no mundo, que se tornou ainda mais crítico durante a pandemia. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que em 2025 o número de crianças obesas no planeta chegue a 75 milhões. De acordo com o Atlas da Obesidade Infantil no Brasil (Ministério da Saúde – 2019), três a cada 10 crianças de 5 a 9 anos estão acima do peso no país.
O excesso de peso entre bebês e crianças de até 12 anos de idade compromete a saúde e o desenvolvimento da criança, que é identificada como obesa quando seu peso corporal ultrapassa em 15% o peso médio correspondente a sua idade.
“O peso em excesso aumenta o risco de a criança desenvolver problemas de saúde, tais como diabetes, pressão alta, dificuldade respiratória, distúrbios do sono, colesterol alto ou problemas no fígado etc”, alerta Dr. Rafael Placeres, pediatra da Clínica Personal da Central Nacional Unimed.
Fatores genéticos, comportamentais e hábitos podem contribuir para o surgimento da obesidade infantil. “Se o consumo de calorias é maior que o gasto energético, há aumento do depósito de gordura no corpo, e em decorrência disso, o aumento de peso”, destaca o pediatra.
No contexto da pandemia
Dr. Rafael Placeres ressalta que o isolamento imposto pela pandemia predispõe ao maior sedentarismo. “Há o distanciamento social, a proibição de frequentar parques, praias e áreas de lazer”. Para agravar ainda mais o quadro, houve aumento do consumo de alimentos industrializados, como os enlatados (ricos em sódio) e processados (maior validade). “As pessoas acabam fazendo opção por esse tipo de alimento, para reduzir a quantidade de idas ao supermercado”, pontua o médico.
“Além disso, o confinamento pode agravar questões emocionais. Como a obesidade pode se associar a maior risco de ansiedade e depressão, em crianças e adolescentes, essas merecem observação especial de seu comportamento e humor, por parte dos familiares”, alerta o pediatra.
Alimentação balanceada e atividade física
A nutricionista Maura Cora, da Clínica Personal da Central Nacional Unimed, concorda que o confinamento, gerado pela pandemia, agravou o problema dos maus hábitos alimentares e da obesidade.
“Sem dúvida, já foram publicadas algumas pesquisas mostrando o aumento de peso da população e infelizmente as crianças também estão incluídas nessa estatística. A falta do convívio social, tão importante no desenvolvimento das crianças, contribui para o aumento da ansiedade, e consequentemente aumenta o risco para a obesidade.
Entretanto, a dificuldade de manter hábitos alimentares saudáveis é anterior à pandemia. “Os hábitos alimentares familiares mudaram e das crianças também. O ambiente contribui mais do que a genética no ganho de peso excessivo. Já é muito claro que houve aumento do consumo de alimentos práticos, com baixo poder de saciedade (o que leva a maior ingestão), altamente palatáveis (ricos em gordura, açúcar e sal) e menor ingestão de alimentos mais naturais, como verduras, legumes e frutas, além da redução nas atividades físicas, brincadeiras, e em contrapartida maior tempo de tela, desde a mais tenra idade”, pondera a nutricionista.
“As mulheres saíram para o mercado de trabalho e isso foi uma grande conquista, porém, o ônus é menos tempo para se dedicar ao preparo dos alimentos para a família, e no Brasil esse papel acaba sendo quase sempre da mãe, embora hoje muitos pais gostem de cozinhar. Então, os alimentos industrializados acabam sendo opção”, afirma a nutricionista Maura Cora.
Ela lembra que o alimento ainda tem um papel na afetividade em nossas vidas e isso começa na infância. “Supre de forma imediata sentimentos de ansiedade, que as crianças também sofrem, assim como os adultos”.
Questões emocionais
A psicóloga Paula Diniz Vicentini, da Clínica de Atenção Integral à Saúde da Central Nacional Unimed, lembra que a obesidade é considerada uma síndrome multifatorial. “Na qual a genética, o metabolismo e o ambiente interagem, assumindo diferentes quadros clínicos, nas diversas realidades socioeconômicas. Como mostra a literatura, a obesidade está relacionada a fatores psicológicos, como o controle, a percepção de si, a ansiedade e o desenvolvimento emocional de crianças e de adolescentes. Portanto, sem dúvida, há na obesidade um quadro de sintomatologia ansiogênica, de timidez, medos excessivos e a rejeição social”, explica.
Ela também concorda que na pandemia esse problema é ainda mais desafiador. “A necessidade do isolamento social, a escassez do brincar fora de casa, do não contato com seus pares, e o tempo de homeschoolling exacerbaram os riscos de ganho de peso para muitas crianças no país. As famílias também estocam alimentos estáveis nas prateleiras, e acabam comprando alimentos ultraprocessados e densos em calorias”, alerta.
“Os pais, e em nossa cultura especialmente as mães, têm enfrentado uma jornada tripla de trabalho, em que elas próprias estão em home office e, segundo as pesquisas, trabalhando muito mais, o que dificulta o preparo de alimentos saudáveis. Além das atividades sedentárias, tempo de tela e uso de videogames expandidos”, adverte.
Dicas úteis
Para driblar os desdobramentos da pandemia, a psicóloga acredita que é importante criar uma rotina com a criança e estipular horários para as refeições. “Envolver as crianças e adolescentes em atividades como quebra-cabeças, jogos, massinha, desenhos, pinturas e envolvê-los no preparo de alimentos saudáveis”.
“Filtrar as notícias que elas recebem também pode ajudar. Evitar que sejam bombardeados com informações que geram medo, insegurança e ansiedade”, diz.
A psicóloga Paula Diniz Vicentini lembra que essa é uma fase e que em breve vai passar. “Se pudermos manter hábitos saudáveis, atividades físicas e cuidados com a saúde mental, passaremos por esse momento com menor prejuízo possível. Trabalhoso, é verdade, nada fácil, mas possível”, ensina.
Tratamento
Para maior efetividade, o tratamento da obesidade infantil deve envolver uma equipe multidisciplinar, formada por pediatra, nutricionista e muitas vezes até psicólogo, explica Dr. Rafael Placeres. “Isso porque temos que enxergar a criança como um todo, e não simplesmente apenas focar na doença. Como chegamos até aquele momento, nas coisas que influenciaram, nem sempre as causas são apenas orgânicas, muitas delas têm como causa alterações comportamentais, e até mesmo estruturais, dentro de casa”, pontua o pediatra. O modelo de cuidado de Atenção Primária à Saúde pode contribuir muito com o tratamento.
A nutricionista Maura Cora explica que o tratamento para obesidade infantil prevê mudanças na alimentação da família e aumento dos níveis de exercício físico, de preferência de forma prazerosa e de acordo com cada faixa etária.
É fundamental envolver a família, “porque a criança é fruto do meio em todos os sentidos, inclusive em relação aos hábitos alimentares. Ela aprende a comer o que a família come. Se ofertarmos alimentos muito palatáveis ficará mais difícil a aceitação dos alimentos mais naturais”. A nutricionista explica que a obesidade na infância é muito mais grave que na fase adulta, “pois o que ocorre é o aumento do número de células de gordura, que chamamos de hiperplasia, e esse número não diminui, só reduz o tamanho da célula. Já no adulto que foi uma criança magra e engorda, só ocorre aumento do tamanho das células”.
“Além disso, o tempo de exposição a fatores de risco, com uma alimentação que chamamos de mais inflamatória (fast foods, pizzas, lanches com embutidos, doces, biscoitos recheados, salgadinhos, refrigerantes) é maior quando inicia nessa fase de vida”, explica.
“O trabalho do nutricionista é criar estratégias para melhorar a oferta de alimentos mais saudáveis, dinâmicas para atenção plena no momento da refeição, um fator importe quando pensamos em saciedade, melhor digestibilidade e absorção dos alimentos e seus nutrientes. A medicalização em algumas situações, muito bem avaliadas, é definida pelo médico, mas nunca deverá ser realizada sem o tratamento nutricional. O medicamento poderá ser um fator coadjuvante no tratamento da obesidade infantil, mas sempre com uma avaliação muito criteriosa, o principal sempre será a reeducação alimentar”, conclui.
Sobre a Central Nacional Unimed
A Central Nacional Unimed é a operadora nacional dos planos de saúde empresariais da marca Unimed. Sua carteira é composta por cerca de 1,7 milhão de clientes de grandes corporações brasileiras. A operadora atua também com PME e foco regional em Salvador, Feira de Santana, Santo Antônio de Jesus, Itabuna, Ilhéus, São Luís, Brasília e São Paulo. No desempenho dos negócios, em 2019, a Central Nacional Unimed registrou receita de R$ 7,6 bilhões (+35,9% em relação a 2018). Em 2020, mesmo diante do cenário econômico crítico, a cooperativa conquistou um faturamento de R$ 8,24 bilhões, o que corresponde a uma alta de 8,3% em ingressos totais em relação ao período anterior. O resultado líquido da operadora atingiu R$ 520,2 milhões, 90% superior ao ano de 2019, evidenciando a manutenção da boa performance. A Central Nacional Unimed esteve ainda entre as dez operadoras que mais cresceram em vidas no País, com o maior faturamento e market share de 2020, de acordo com a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). É considerada uma das melhores empresas para se trabalhar (Guia 150 Melhores Empresas para Trabalhar), para se iniciar a carreira (Guia Melhores Empresas para Começar a Carreira) e a melhor companhia de prestação de serviços de saúde em 2020 (Ranking “Melhores e Maiores”). Faz parte do Sistema Unimed, composto por 345 cooperativas médicas presentes em todo o território nacional, que compartilham os valores do cooperativismo e o trabalho para valorização dos médicos e da medicina.