Recentemente, a Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) lançou a campanha “Ponto Próstata” com o objetivo de incluir o tratamento minimamente invasivo para pacientes com câncer de próstata através de cirurgia robótica no Sistema Único de Saúde (SUS). Os resultados de uma consulta pública sobre o tema, encerrada no último dia 28, estão sendo avaliados pela SBU. Embora a primeira plataforma robótica tenha sido instalada no Brasil em 2008, seu custo de implantação e manutenção ainda é muito alto, tornando difícil o acesso da maioria dos brasileiros à tecnologia que agrega diversos benefícios aos pacientes.
“Para mudar esta realidade, nossa sugestão seria criar, através de uma parceria público-privada forte, políticas inteligentes de custeio, baseada em comodatos que permitissem reduzir os custos. Além disso, a ampliação da concorrência entre fabricantes do robô também é importante”, declarou o coordenador científico da SBU-BA e membro fundador do Robótica Bahia – Assistência Multidisciplinar em Cirurgia, Augusto Modesto. O Brasil já conta com mais de 80 sistemas robóticos em funcionamento, sendo três operantes na Bahia, nenhum pelo SUS.
O câncer de próstata é o segundo mais frequente no sexo masculino. Estatísticas apontam que a cada seis homens, um é portador da doença. A estimativa do Instituto Nacional do Câncer (INCA) para o triênio 2020-2022 ultrapassa os 65 mil novos casos por ano. Atualmente, 71,5% dos brasileiros não possuem um plano privado de saúde. Embora os planos também não ofereçam cobertura para a cirurgia robótica, parte dos custos desse tipo de cirurgia, para quem opta por ele, é coberta pelos planos, já que a cirurgia robô-assistida é um tipo de videolaparoscopia, esta sim prevista no rol da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). Para quem depende exclusivamente do SUS, o acesso à cirurgia robótica ainda não é uma realidade.
O tratamento do tumor de próstata depende do estadiamento da doença, da idade e do estado geral de saúde do paciente. “Cada caso deve ser analisado de forma individual, de preferência após um tumor board, discussão minuciosa do caso por uma equipe multidisciplinar integrada por médicos de diferentes especialidades, enfermeiros, psicólogos, fisioterapeutas e nutricionistas”, destacou o uro-oncologista.
Além da cirurgia, a radioterapia e a terapia hormonal são as opções mais utilizadas no tratamento da doença, isoladamente ou combinadas, mas há também a vigilância ativa, entre outras possibilidades. A cirurgia mais frequente é a prostatectomia radical, que inclui a ressecção total da próstata, vesículas seminais e outras estruturas pélvicas acometidas pelo tumor. A incontinência urinária e a disfunção sexual erétil são complicações possíveis. “Estudos mostram recuperação e retorno mais precoce às atividades laborais, menor uso de hemoderivados e menos dor no pós-operatório. Mais recentemente, a recuperação mais rápida da continência urinária tem se mostrado melhor no grupo de pacientes submetidos à técnica robô-assistida quando comparada a outras técnicas”, frisou Augusto Modesto.
Benefícios – Outra vantagem da cirurgia robótica é a visão tridimensional ampliada, que melhora consideravelmente a performance da operação em comparação com outras modalidades cirúrgicas. A robótica agrega, ainda, a vantagem de uma maior precisão nos movimentos do cirurgião, que controla os braços mecânicos do robô através de um console. Com o robô, é possível operar partes do corpo mais difíceis de alcançar nas modalidades aberta (convencional) ou laparoscópica.
Outro diferencial da tecnologia é o filtro de tremor, já que a máquina impede movimentos eventuais de vibração da mão do cirurgião. Como os braços do robô não tremem, o movimento das pinças é completamente focado. Vale destacar que o robô não opera sozinho: é comandado por um cirurgião habilitado e certificado para trabalhar com a tecnologia. “Sempre há um cirurgião auxiliar em contato direto com o paciente. A segurança é um item prioritário nas cirurgias robóticas”, acrescentou o coordenador científico da SBU-BA.
Câncer de próstata – Entre os fatores que aumentam o risco do desenvolvimento do câncer de próstata, destacam-se: idade avançada, histórico familiar, consumo de álcool, tabagismo e obesidade. O rastreamento da doença é feito através de exame de sangue (PSA) e do toque retal, e deve ser feito a partir dos 50 anos por todos os homens ou dos 45 anos no caso de negros ou homens com histórico desse tipo de tumor na família. Quando há alguma alteração no rastreamento, é necessária a realização de biópsia da próstata, para confirmação do diagnóstico.
Segundo dados da Intuitive, empresa responsável pelo maior parque robótico do mundo, a cirurgia robótica está presente em 67 países, onde já foram realizadas mais de 8,5 milhões de operações utilizando a técnica ao redor do mundo. Mais de três milhões de robóticas foram prostatectomias para tratamento de câncer de próstata. Nos Estados Unidos, 92% dos urologistas utilizam a técnica robótica para a realização da prostatectomia radical, que se tornou padrão ouro de tratamento. Em Salvador, onde mais de 600 cirurgias robóticas foram realizadas, existem três plataformas robóticas em funcionamento: uma no Hospital São Rafael (HSR/D’or), outra no Hospital Aliança (HA/D’or) e outra no Hospital Santa Izabel (HSI).
O Robótica Bahia, integrado por cirurgiões de diferentes especialidades, busca democratizar o acesso à tecnologia robótica no estado, facilitar o treinamento e a certificação, além de fomentar o ensino e a pesquisa relacionados a essa modalidade cirúrgica. Mais informações sobre o grupo estão disponíveis no site www.roboticabahia.com.br e nos perfis do RB no instagram (@roboticabahia) e facebook (/roboticabahia). Informações sobre a campanha da SBU estão disponíveis no site www.pontoprostata.com.br.