Existe um limiar entre o “consumo saudável” para o quadro de alcoolismo?
O hábito de consumir bebidas alcoólicas está presente entre 55% da população brasileira, de acordo com o Instituto Brasileiro do Fígado (Ibrafig). Os soteropolitanos saltam em primeiro lugar no ranking de adultos com maior proporção de consumo de álcool com frequência semanal, em comparação com outras capitais. De cada 10 pessoas, quatro bebem uma vez por semana, segundo a última pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Mas afinal, existe um limiar entre o “consumo saudável” para o quadro de alcoolismo?
Para o psiquiatra, especialista em tratamento das adições, Mateus Freire, não há como definir por quantidade ou frequência se uma pessoa tem ou não uma adição ao álcool. Ele explica, que ao invés da quantidade ingerida, cujos efeitos podem variar muito de pessoa para pessoa, o que ajuda a definir a existência de uma síndrome de dependência é a tolerância, ou seja, se o indivíduo precisa de doses maiores a cada vez que consome para alcançar o efeito esperado que, no caso dos usuários de álcool, é o estado subjetivo da embriaguez.
“Outros sinais importantes para se atentar são: vontade muito intensa pela substância ou efeito esperado; dificuldades em controlar ou interromper o uso; abandono de outras atividades cotidianas ou de lazer em função deste consumo e a presença da chamada síndrome de abstinência. Estes são sinais a ter atenção e que ajudam no diagnóstico de síndrome de dependência, sendo que essas características podem também ser observadas nas adições a outras substâncias psicoativas”, detalha o psiquiatra da clínica Elpis, especializada em tratamento das adições, em Salvador.
Pedir ajuda é o primeiro passo
O alcoolismo não é um adoecimento simples e, por sua vez, o tratamento pode ser mais demorado quando o indivíduo não se enxerga com um problema. Para o psicólogo Ciro Arão, especialista em tratamento das adições, o primeiro passo é a pessoa admitir o problema e pedir ajuda. “ O grupo que normalmente o alcoolista recorre é a família, que passa por um grande desafio de ver sua coesão fragilizada e não conseguir ter segurança nas decisões que toma quanto à interação com pessoa alcoolista. Na Elpis, oferecemos suporte ao indivíduo, mas também a família, através de terapias em grupo, pois entendemos que o sofrimento gerado por este adoecimento atinge a todos”, explica o psicólogo.
18 de fevereiro – Dia Nacional de Combate ao Alcoolismo
A data é um alerta aos riscos e problemas ligados à saúde decorrentes do consumo de álcool. Segundo a Organização Pan-Americana da Saúde/Organização Mundial da Saúde (OPAS/OMS), em todo o mundo, aproximadamente três milhões de mortes são causadas, por ano, pelo uso nocivo do álcool, um número que representa 5,3% de todas as mortes, além de ser fator causal para mais de 200 doenças e lesões .
O médico, Mateus, ressalta, que “é importante lembrar que o álcool etílico, substância que contém nas bebidas alcoólicas, é tóxica para o organismo e responsável por efeitos no psiquismo e danoso para todos os órgãos e sistemas do corpo. É muito comum as pessoas chegarem para atendimento somente após desenvolverem problemas graves, como insuficiência hepática, gastrite ou úlcera péptica, pancreatite, crises convulsivas, déficits cognitivos, dentre outras complicações do alcoolismo crônico”, menciona o especialista em tratamento das adições, que salienta a importância de perceber os sinais da dependência e procurar ajuda profissional.
Serviço gratuito em Salvador
Na capital baiana, as Obras Sociais Irmã Dulce oferecem gratuitamente um atendimento a pessoas com problemas relacionados ao uso abusivo e à dependência de etílicos, através do Centro de Acolhimento e Tratamento de Alcoolistas (CATA). Há também os CAPS AD Gregório de Matos, Gey Espinheira e Pernambués, que fornecem atendimento gratuito voltado para dependência ao álcool e outras drogas.
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