Aprovado pela FDA, uso de imunoterápico é aguardado pela comunidade científica do Brasil, país que registra mais de 16,7 mil casos por ano, com cerca de 6,5 mil óbitos
Pacientes com câncer de câncer de colo de útero persistente, com recidiva ou metastático contam com um novo e forte aliado. No final de 2021, foi aprovado pela Food and Drug Administration (FDA), agência federal do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos, um tratamento que pode reduzir em 36% o risco de morte. A expectativa é que a combinação do imunoterápico pembrolizumabe com a quimioterapia seja adotada também no Brasil, que registra mais de 16,7 mil casos/ano, com 6,5 mil óbitos/ano, segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca).
Exceto o de pele não melanoma, o câncer de colo de útero (ou cervical) é o terceiro tumor maligno mais frequente entre as mulheres brasileiras, atrás do câncer de mama e do colorretal, e a quarta causa de morte de mulheres por câncer no país. É causado pela infecção persistente por tipos oncogênicos do Papilomavírus Humano (HPV), como observa a oncologista da Clínica AMO, Aknar Calabrich, dentro das ações da campanha Março Lilás, mês dedicado à saúde da mulher, com atenção a este tipo de câncer.
“Consideramos uma grande conquista no tratamento do câncer cervical metastático. O estudo conduzido em vários países do mundo demonstrou que o uso de imunoterapia com pembrolizumabe associado a quimioterapia aumentou significativamente a sobrevida livre de progressão e a sobrevida global das pacientes, reduzindo o risco de morte em 36%, independentemente do uso concomitante de bevacizumabe [medicamento que pode também ser utilizado durante o tratamento]”, explica a especialista, acrescentando que os oncologistas aguardam com grande expectativa essa aprovação para uso no Brasil.
Diagnóstico e cura
O câncer de colo de útero é uma doença típica de países pobres e subdesenvolvidos. “No entanto, quando diagnosticado na fase inicial, as chances de cura chegam a 100%”, reforça Aknar Calabrich, que é oncologista clínica, chefe da divisão dos tumores ginecológicos da Clínica AMO e diretora de planejamento do grupo EVA – Grupo Brasileiro de Tumores Ginecológicos.
O exame preventivo, chamado Papanicolau, é o principal aliado para detectar as lesões que antecedem o tumor e é feito em consultas ginecológicas. É indicado para pacientes com colo do útero, entre 25 e 64 anos, e que já tiveram atividade sexual. Vale destacar que a recomendação inclui homens trans e as consultas com o ginecologista devem ser feitas anualmente, quando é determinado o intervalo entre o exame preventivo.
O câncer de colo de útero pode não apresentar sintomas na fase inicial, por isso a importância dos exames preventivos para a detecção das lesões pré-malignas ou malignas em estágios iniciais. Nos casos mais avançados, a paciente pode ter sangramento vaginal intermitente ou após a relação sexual, secreção vaginal anormal e dor abdominal associada a queixas urinárias ou intestinais, como explica a especialista.
Vacina contra HPV
Está relacionada à diminuição do risco de contágio pelo HPV a chamada prevenção primária. A transmissão da infecção ocorre por via sexual, por lesões microscópicas na mucosa ou na pele da região anogenital. O uso de preservativos durante a relação sexual protege parcialmente do contágio pelo HPV, mas a vacina é considerada a principal estratégia na prevenção da infecção e consequente desenvolvimento do câncer de colo de útero.
Em 2014, a vacina tetravalente contra o HPV foi inserida no calendário de imunizações do Brasil para meninas de 9 a 13 anos. Em 2017, o Ministério da Saúde (MS) liberou o acesso gratuito para meninas de 9 a 14 anos e meninos de 11 a 14 anos. A vacina protege contra os tipos 6, 11, 16 e 18 do HPV. Os dois primeiros causam verrugas genitais e os dois últimos respondem por cerca de 70% dos casos de câncer do colo do útero, segundo o Inca.
Como a imunossupressão é reconhecida como um dos principais fatores de risco para infecção crônica pelo HPV, em março de 2021, o MS ampliou a vacina contra HPV até 45 anos para mulheres com HIV/Aids, transplantadas de órgãos sólidos e medula óssea e em tratamento para câncer (radio e/ou quimioterapia).