O que as baianas de acarajé tem a dizer sobre aquilo que se costuma dizer sobre elas? Com esse questionamento, a relações públicas Renata Dias apresenta a pesquisa resultante do seu mestrado no Programa de Pós-Graduação em Comunicação (PPGCOM) da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (URFB). A defesa será no dia 23 de março de forma online e aberta ao público.
Com o título “O que é que a baiana diz? Enunciações de identidade e memória das baianas de acarajé”, Renata Dias faz uma análise cultural das narrativas autobiográficas de três baianas de acarajé de diferentes municípios: Dulce Mary (Salvador), Rosilene Santana (Vitória da Conquista) e Sueli Silva (Cachoeira). Em comum, as três guardam um vínculo profundo com os territórios onde nasceram e se criaram, critério que proporcionou à pesquisadora interrogar as bases da noção de baianidade.
Inédita no campo da Comunicação, a análise cultural realizada se debruça sobre as narrativas destas baianas para apurar como elas elaboram essa representação de si, revelando suas percepções de mundo. “O imaginário que se projeta sobre estas sujeitas dá a entender que a sociedade as valoriza, e não é isso que se enuncia nestas falas. Sustentar o cotidiano do lugar de ‘ícone da cultura baiana’ é muito mais complexo do que imaginamos”, diz Renata. Com isso, Renata quer destacar a oralidade enquanto processo de comunicação que integraliza as narrativas sobre as experiências do cotidiano de mulheres negras.
As falas autobiográficas das baianas entrevistadas tiveram como foco suas trajetórias, e foram observadas a partir de uma observação interseccional entre Gênero, Raça e Religiosidade. “Baianas profundamente conectadas com seus lugares e que me instigaram a observar outro enquadramento que não aquele do lugar tradicional. São muitos atravessamentos possíveis entre essas histórias. A pesquisa se interessa pela análise do que estas mulheres enunciam e em que medida o que elas falam revelam a incidência dos mecanismos disciplinares do poder”, explica Renata Dias.
“O propósito da pesquisa é estimular os profissionais da Comunicação e áreas afins, e que ocupam os diferentes níveis das estruturas técnicas que tradicionalmente operam na difusão do discurso hegemônico – as agências de publicidade, as redações dos jornais, a gestão pública, agência política, as universidades – ao questionamento daquilo que parece essencial e ampliar suas referências para a o desenvolvimento de conteúdos e programas que falem sobre e para a mulher negra de maneira condizente com as suas realidades cotidianas”, diz a pesquisadora.
Renata teve dentre as referências a bibliografia de autoras como, Lélia Gonzalez, Grada Kilomba, Patricia Hill Collins, bell hooks, além de referências baianas, como Milton Santos e Carla Akotirene. A dissertação teve orientação da Profa. Dra. Daniela Matos. A Profa. Dra. Jussara Maia (UFRB) e o Prof. Dr. Gerson de Sousa (UFU) irão compor a banca examinadora.
Sobre Renata
Com 41 anos, Renata Dias é natural de Salvador, graduada em Comunicação Social com Habilitação em Relações Públicas pela Universidade Salvador, especialista em Marketing e mestranda em Comunicação na Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB). Reúne experiências profissionais no âmbito da comunicação institucional e da gestão pública. Em 2017 assumiu a diretoria geral da Fundação Cultural do Estado da Bahia, autarquia vinculada à Secretaria de Cultura do Estado (Secult/BA) e responsável pelo desenvolvimento de políticas públicas para as artes produzidas na Bahia.
A pesquisa será apresentada via Zoom e poderá ser acompanhada por interessados, que deverão solicitar link da transmissão no e-mail [email protected].
SERVIÇO
O que: Comunicadora baiana apresenta estudo sobre narrativas de baianas de acarajé
Quando: 23 de março (quarta-feira), às 9h
Onde: via Zoom (link deverá ser requisitado pelo e-mail [email protected])
Fotos anexas: Matheus Leite