Terceiro adversário do Brasil na fase de grupos da Copa do Mundo do Qatar, a equipe de Camarões não esteve no caminho dos brasileiros em 2018 como Sérvia e Suíça, mas tampouco trata-se de um rival estranho para a seleção em Mundiais.
O confronto, que acontecerá no dia 2 de dezembro, uma sexta-feira, no Lusail Stadium, será o terceiro entre eles na história das Copas.
O primeiro duelo aconteceu em 1994, vitória do time de Carlos Alberto Parreira por 3 a 0, na fase de grupos da edição dos Estados Unidos. Romário, Márcio Santos e Bebeto marcaram os gols do Brasil, que contou com a expulsão do zagueiro Rigobert Song, que tinha apenas 17 anos na ocasião, para facilitar as coisas.
Song, aliás, é o fio condutor entre aquela partida e o encontro no Qatar daqui a oito meses. Capitão da equipe nacional no passado e atual treinador de Camarões, o ex-defensor recolocou o país no Mundial depois que os africanos não conseguiram a classificação para a Rússia, há quatro anos.
Em 2014, no segundo enfrentamento em jogos de Copa do Mundo, a seleção brasileira goleou os camaroneses por 4 a 1, no estádio Mané Garrincha, em Brasília. Neymar abriu o placar e Joel Matip chegou a empatar o jogo, mas outro gol do camisa 10, além dos de Fred e Fernandinho, definiram a vitória dos comandados de Felipão.
Astro da equipe à época, Samuel Eto’o não enfrentou o Brasil pois havia se lesionado depois da primeira rodada do Mundial, contra o México. Com um problema no joelho, acabou perdendo o restante da competição. Hoje, Eto’o, bicampeão da Copa Africana de Nações e participante de quatro Copas do Mundo com seu país (1998, 2002, 2010 e 2014), é o presidente da federação nacional de futebol.
Este ano, Camarões busca uma campanha melhor do que as registradas em 2014 e 1994, quando perdeu seus três compromissos e não passou da fase de grupos.
Nos Estados Unidos, após a goleada por 6 a 1 para a Rússia (com 5 gols de Oleg Salenko, até hoje recorde em um único jogo no torneio), a casa do então goleiro titular Joseph-Antoine Bell, em Douala, foi incendiada por torcedores revoltados.
Bell havia enfrentado Suécia e Brasil, mas foi sacado para a terceira partida com os russos. Em seu lugar entrou Jaques Songo’o, que foi vazado seis vezes.
A goleada sofrida intensificou as tensões políticas que o país vivia à época. O presidente Paul Biya precisou deixar a capital Yaoundé e se refugiar em sua cidade natal, Mvomeka. Biya, que assumiu o poder em 1982, segue à frente do país com seus 89 anos e, depois de ter alterado a Constituição, o presidente pode se candidatar à reeleição sempre que quiser.
A lembrança de uma boa apresentação de Camarões em Copas remete a 1990, na Itália. Na ocasião, os africanos surpreenderam logo na estreia ao vencer a Argentina, então campeã do mundo. Com um triunfo diante da Romênia, não só garantiram a classificação, como também lideraram o grupo que ainda tinha a União Soviética.
Nas oitavas de final, Camarões venceu a Colômbia por 2 a 1 (dois gols de Roger Milla, o maior ídolo do futebol no país). Nas quartas, enfrentou a Inglaterra e foi derrotado por 3 a 2.
Foi a primeira vez que uma seleção africana alcançou as quartas de final de um Mundial, feito repetido por Senegal, em 2002, e Gana, em 2010.
A classificação para o Qatar, garantida no último mês de março, veio após uma vitória emocionante sobre a Argélia nas Eliminatórias. No primeiro confronto entre as equipes, os argelinos venceram fora de casa, em Douala, por 1 a 0, gol de Slimani.
No jogo da volta, disputado em Blida, na Argélia, os camaroneses abriram o placar com Eric Maxim Choupo-Moting, vice-campeão da Champions League com o Paris Saint-Germain em 2020, atualmente no Bayern de Munique.
A vitória no tempo normal levou o duelo para a prorrogação, e Ahmed Touba anotou para os argelinos faltando dois minutos para o fim da partida. No quarto minuto dos acréscimos, porém, gol de Karl Toko-Ekambi, jogador do Lyon, deu o triunfo para Camarões e, ajudado pelo gol fora de casa, a vaga na próxima Copa do Mundo.
“A coisa mais interessante não foi o fato de termos vencido, mas o espírito que eu passei aos meus jogadores, que foram ao limite e conseguiram o resultado no final”, afirmou o técnico Rigobert Song, que diz não temer um grupo com Brasil e mais dois adversários europeus.
“É ótimo enfrentar jogadores que têm uma reputação. É sempre motivador.”
Além de Choupo-Moting e Ekambi, outro dos destaques de Camarões é o goleiro André Onana, do Ajax, que enfrentou seguidos dramas até a classificação para a Copa do Mundo.
Em outubro de 2020, o arqueiro foi pego no exame antidoping, que encontrou a presença de furosemida (um componente diurético) em seu organismo. A suspensão, inicialmente de um ano, foi reduzida para nove meses.
Onana retornou ao Ajax em outubro do ano passado e pôde participar das fases finais das Eliminatórias Africanas para a Copa do Mundo. Dias antes dos confrontos com a Argélia, contudo, sofreu um acidente de carro em uma estrada de seu país, mas não sofreu ferimentos.
Titular nas duas partidas, foi determinante para a classificação dos camaroneses ao Qatar.
No futebol local, a principal equipe é o Coton Sport, da cidade de Garoua, maior campeão da liga nacional com 16 títulos, seguido pelo Canon Yaoundé, com cinco taças.
Em meio à pandemia do coronavírus, que já registrou pouco mais de 120 mil casos no país e 1.927 mortes de acordo com a Universidade Johns Hopkins, Camarões enfrenta agora um surto de cólera, que tem pressionado o sistema de saúde do país, especialmente nas cidades de Limbe, Buea e Tiko.
É a segunda crise da doença em dois meses. Em fevereiro, um outro surto de cólera afetou 1.300 cidadãos e matou cerca de 40 pessoas, segundo o site Cameroon Online.
Bahia Notícias