Os Festejos Populares de Irará estão de volta! De 27 a 30 de janeiro o município celebra a sua padroeira, Nossa Senhora da Purificação dos Campos, realizando a Lavagem de Irará, na última sexta-feira do mês de janeiro, que este ano cai no dia 27. A festa centenária começa às 16h com o cortejo saindo com a Charanga de Irará da frente à casa de Mãe Melânia, senhora que durante muitos anos comandou os festejos, com as baianas e seus potes de flores e água de cheiro. Com a participação de manifestações culturais da região, da população da cidade e de turistas, o cortejo segue com todos cantando e dançando em direção à igreja, que fica localizada no centro da cidade. Lá chegando, as baianas lavam a escada e o adro celebrando a devoção a Nossa Senhora da Purificação dos Campos.
“Zé, Zé, Zé Popô, Foguete do ar me anunciou, Irará é meu namoro e a lavagem é meu amor.” Já dizia Tom Zé, filho da terra, na música “Lavagem da Igreja de Irará”
Shows gratuitos – Os Festejos Populares de Irará também promovem uma rica programação de shows, com atrações bem variadas, de sexta-feira (27) até segunda-feira (30). Sempre a partir das 21h, haverá na sexta (27) show de Os Boyzinhos, Escandurras e Tayrone; Sábado (28) shows de Dom, Parangolé, Nenho e Oh Polêmico; Domingo (29), de Swing CS, Van Júnior, Adão Negro e Lá Fúria. Ainda no domingo (29), durante o dia, desfilam pelas ruas da cidade irreverente “Bloco das Nigrinhas”, com homens vestidos de mulher, o animado “Bloco Abre Alas”, que toca músicas dos antigos carnavais, e acontece o Encontro de Paredões, que reúne os carros de som da cidade. O encerramento dos Festejos Populares de Irará se dará na segunda-feira (30) com o Leilão de Prendas e a Festa do Cruzeiro que terá um trio elétrico onde cantarão Saulo Fernades e Beto Santana.
História dos Festejos Populares de Irará – Irará é uma cidade que fica a cerca de 137Km de Salvador, tem pouco mais de 25 mil habitantes, e sedia uma das festas mais importante da região, a Lavagem das Escadarias da Igreja de Irará ou a Lavagem de Irará. Esta é uma manifestação cultural que acontece há mais de 100 anos na cidade, sempre antecedendo os festejos de Nossa Senhora da Purificação dos Campos, que é a padroeira do município. É um evento que é sempre realizado na última sexta-feira do mês de janeiro e atrai milhares de fiéis e turistas. A Filarmônica 25 de Dezembro, que em 2023 completa 69 anos, é motivo de orgulho para a cidade e dela saem os músicos que formam a Charanga de Irará que igualmente enche de alegria a população, inclusive ao realizar as Alvoradas nos domingos de janeiro, quando acordam a cidade ao som de suas músicas.
As pessoas que residem em Irará contam que essa festa começou quando algumas senhoras de elite, consideradas como mães de família da cidade, resolveram homenagear a padroeira lavando a igreja para que no dia santo ela estivesse arrumada. Porém, foram as mulheres do povo, mães solteiras, que se tornaram personagens principais dessa festa. Elas saíam vestidas de baianas com seus potes e seguiam o estandarte da Virgem da Purificação. Até hoje é o que se vê: baianas com seus potes seguindo a procissão e lavando a Igreja, além de oferecer o “banho de cheiro” aos participantes. É assim, a festa da Lavagem de Irará, uma festa bem eclética, cheia de sincretismo religioso, de elementos tradicionais, de muita música e principalmente, de muita alegria.
Mãe Melânia, que já faleceu e passou o estandarte para Maria Helena, foi durante muitos e muitos anos a baluarte, a referência da mais tradicional festa de Irará. Melânia dos Reis foi uma mulher negra, parteira, e líder religiosa, Ministra Extraordinária da Eucaristia, muito conhecida e respeitada. Ela foi a segunda porta-bandeira da Lavagem, herdando o estandarte da lavagem que era de Sinhá Inácia. Mãe Melânia faleceu em 2008 e deixou como legado o modo generoso de olhar as minorias. Por isso é personagem no cordel de Kitute de Licinho…
“Nossa porta estandarte
Mulher de garra e guerra
Inicia a festança que cedo
Não se encerra
Não tem Canô nem Betânia
Quem manda é Mãe Melânia
Na lavagem dessa terra”
E na música de Tom Zé …
“Melânia porta-bandeira
Com mais de cem companheiras
Lá vem puxando o cordão
Com estandarte na mão”
Confira a programação cultural dos Festejos Populares de Irará:
27/01- sexta
16h – Lavagem da Nossa Senhora da Purificação dos Campos. Concentração em frente à casa de Mãe Melânia.
21h – Os Boyzinhos
22h20 – Dança: Swing Dance
22h30 – Escandurras
00h20 – Dança: Black on White
00h30 – Tayrone
28/01 – sábado
21h – Dom
23h20 – Dança: Feelings Dance
23h30 – Parangolé
01h20 – Dança: The Queens
01h30 – Nenho
03h30 – Oh Polêmico
29/01 – domingo
21h – Swing CS
22h20 – Dança: Iradance
22h30 – Van Júnior
23h50 – Dança: FS Dance
00h00 – Adão Negro
02h – Lá Fúria
30/01 – segunda
Festa do Cruzeiro
11h – Leilão
16h – arrastão com o cantor Saulo Fernandes e Beto Santana, no trio elétrico.
Horários e ordem de apresentações sujeitos a alterações.
Música Lavagem da Igreja de Irará – Tom Zé – https://youtu.be/E8CIXwvoz8Q
Zé, Zé, Zé Popô
Foguete do ar me anunciou
Irará é meu namoro
E a lavagem é meu amor
Na Quixabeira eu ensaio
Na Rua de Baixo eu caio
Na Rua Nova eu me espalho
Na Mangabeira eu me atrapalho.
Pulo pra Rua de Cima
Valei-me Nossa Senhora
Arrepare o remelexo
Que entrou na roda agora.
Arriba a saia, peixão
Todo mundo arribou, você não.
Melânia, porta-bandeira
Com mais de cem companheiras
Lá vem puxando o cordão
Com o estandarte na mão
Em cada bloco de cinco
Das quatro moças bonitas
Tem três no meu coração
Com duas já namorei
Por uma eu quase chorei.
Na Lavagem minha alma
Se lava, chora e se salva
Segunda, lá no Cruzeiro
Eu me enxugo no sol quente.
No céu, na porta de espera
Sinhá Inácia foi louvada
Vendo os pés de Zé-Tapera
São Pedro cai na risada.
Pé dentro, pé fora
Quem tiver pé pequeno
Vai embora.
Quem chegou no céu com atraso
Foi Pedro Pinho do Brejão
Que se demorou comprando
Quatro peças de chitão.
Mas logo em sua chegada
Duzentas saias rodadas
Ele deu ao povaréu
E organizou todo mês
Lavagem da porta do céu.
Por favor me vista
Não me deixe à toa
Lá naquela loja
Tem fazenda boa
Tem fazenda boa
Pra sinhá-patroa.
Tem capa e chapéu
Para os tabaréu
Tem fazenda fina
Pra moça grã-fina,
Tem daquela chita
Pra moça bonita.