O colorido e o ritmo ancestral do Afro Bankoma tomaram conta das ruas de Portão, em Lauro de Freitas, nesta Quarta-feira de Cinzas (22). Após dois anos sem o tradicional desfile por conta da pandemia do coronavírus, o Furacão da Alegria emocionou a todos, que seja da sacada de seus prédios, varandas ou janelas das casas, assistiam o maior e mais tradicional bloco da cidade passar.
Adultos, crianças ou idosos, como uma grande família, no Afro Bankoma há espaço para todos. Este ano, o bloco nascido dentro do Terreiro São Jorge Filhos da Goméia, trouxe como tema central “Salve os Caboclos! Xetu Marromba Xetu”. A mameto da casa, Mãe Lúcia, explica que a reverência é destinada aos caboclos e povos indígenas. “Nós nos irmanamos diante das dificuldades enfrentadas ainda hoje. Os indígenas são os donos desta terra e aqui nos ensinaram sobre a utilização das folhas e a cura das doenças entre tantas outras coisas. Então nosso intuito é homenagear, elevar essa voz e dizer que é preciso cuidar dos povos indígenas, das matas e das florestas”, destacou.
O bloco é dividido em alas e na frente as baianas abençoam a caminhada com propriedade matriarcal. Em seguida, vem os dançarinos, onde os pequenos têm espaço. É comum nessa ala encontrar crianças, como Ana Victoria, de 7 anos. Acompanhada pelos olhos atentos da avó Lígia Conceição, a menina é a terceira geração da família a desfilar no Afro. “Bankoma é tradição, somos uma família. Eu saio no bloco e vi minha filha desde pequena ser inserida nas oficinas de dança e hoje trago minha neta. Isso é cultura, é história e acima de tudo é resistência”, disse a avó emocionada.
Da janela de sua casa e de seus respeitáveis 94 anos de vida, Phamenes Conceição, nascida no Quingoma e criada em Portão, conta que sentiu falta de ver o Furacão da Alegria passar nestes últimos anos. “Eu não perco um desfile, o Bankoma é o amor de Portão e nosso maior orgulho”, declarou, ao lado do neto Jeziel Conceição, que contou que já foi dançarino do bloco. “O Bankoma é muito importante para nós, eu hoje estou afastado porque tive um acidente, mas se Deus quiser eu vou voltar”, ressaltou.
A rainha traz as cores do Bankoma
Este ano, Stephanie Freitas, foi coroada rainha do Afro Bankoma. A menina de apenas 17 anos, conta que o título sempre foi sonhado por ela. “Eu vim para o Bankoma ainda muito nova e sempre soube da responsabilidade de uma rainha e da importância que é manter o nosso legado vivo e forte”, disse.
Ainda no São Jorge Filhos da Goméia, a jovem era preparada para desfilar pelas ruas do bairro. Na maquiagem ela destacou o verde das matas e no alto da cabeça o cocar fazia reverência aos povos indígenas. No dia a dia ela conta que atua com os pequenos. “Eu sou monitora das oficinas de dança e me inspiro nas crianças para me fortalecer”, declarou.
Assim como na roupa da rainha, nos abadás a estampa de um rosto metade negro, metade indígena traduzia o sentimento da homenagem. “Além de ser um centro de acolhimento, o terreiro é um lugar propagador da nossa cultura. O caboclo é um pertencimento nosso de matriz africana banto. E negro na mata também vira índio. É essa fusão de identidades que queremos homenagear”, explicou a muzenza do Terreiro, Soraia Gonçalves.
Todos somos um
Enquanto aguardavam o desfile do bloco chegar, as matriarcas sentadas à porta do Terreiro falavam sobre a importância do fortalecimento da fé e da união entre os adeptos das religiões de matriz africana. “Somos um só, um só povo e um só coração. Estar aqui hoje é entender que precisamos estar unidos para manter nossa fé viva”, declarou Ebomi Nice de Iansã.
Texto – Giovanna Reyner
Foto – Danilo Magalhães