Temporada integra comemorações de 13 anos do Coletivo DUO, que traz a circulação de cinco espetáculos do repertório por 13 cidades baianas até junho de 2023
“Quem não está, cotidianamente, sentindo-se engolido por um grande peixe que nos devora sem mastigar?”, questiona Saulus Castro, multiartista e integrante do COLETIVO DUO, ao falar sobre “Jonas: Dentro do Grande Peixe”, solo em que é atuante e estará em temporada no Teatro Sesc Senac Pelourinho no mês de março, dentro da programação do projeto de circulação DUO 13 anos. Inspirada no mito “Jonas e a baleia”, o espetáculo, que tem dramaturgia de Denisson Palumbo, estará em cartaz dias 16 e 17 de março, às 15h, com entrada gratuita e exclusiva para escolas públicas, ongs e projetos sociais, e 18, 23, 24, 25, 30 e 31 de março, 19h, com ingressos a valor R$10 (meia) e R$20 (inteira).
Com encenação de Rino Carvalho e direção musical de Luciano Salvador Bahia, a peça traz Jonas sendo despertado numa noite de lua cheia pelo som de uma baleia encalhada à beira-mar. Ao tentar ajudá-la, ele é sugado para dentro de seu ventre, sendo afastado de sua noiva grávida. Dentro do grande peixe, Jonas vivencia por três dias uma jornada de dificuldades, descobertas e revolução pessoal, trazendo a todos um recado da baleia.
Através de uma dramaturgia e encenação que trazem a poética do Realismo Fantástico, Jonas – a personagem de Dentro do Grande Peixe – assim como o Jonas do mito bíblico, mito este que perpassa diversas culturas, mergulha em profundezas do seu inconsciente para levantar questões sobre o indivíduo, a solidão, o renascimento e a sociedade com suas estruturas de poder.
O intérprete Saulus Castro, que estreou a obra em 2021 em plataforma digital, conta que a dramaturgia de Palumbo em Jonas: Dentro do Grande Peixe traz um indivíduo engolido pelos acontecimentos de uma sociedade adoecida, que ao ser colocado em “isolamento” – vale lembrar que a obra foi criada em meio a pandemia do covid-19 – questiona a si e o meio. Uma trajetória em solidão vivenciada em coletivo. “Há uma confusão, mas eu estou aqui também, junto contigo, em meio às cinzas, dentro do grande peixe”.
“Quem não está à escuta das cinzas em que nosso país foi deixado, cozinhando pedras, possivelmente, não reconhecerá este paralelo. As obras do Coletivo DUO são parábolas que trazem à tona uma complexidade de temáticas que fazem parte de um espaço-tempo vivenciado pelo COLETIVO DUO. Voltar em cartaz agora com este solo, neste tempo-espaço sócio-político em que estamos imersos é reabrir-me, é colocar o eu atuante para visitação”, explica Castro.
A encenação, aposta na rica visualidade, no lirismo e musicalidade da dramaturgia, para uma atuação que expõe ao espectador uma mistura de fantasia, drama e comicidade através de um profético, mas também singelo e empático Jonas. “Jonas: Dentro do Grande Peixe” é o oitavo espetáculo do Coletivo Duo – grupo formado em 2010 – e o segundo solo de Saulus Castro (Bacharel em Artes Cênicas – Interpretação e Direção Teatral – pela Universidade do Estado da Bahia). Vale lembrar que o espetáculo foi indicado em 4 categorias pelo Prêmio Braskem: Direção, Ator, Texto e Cenografia.
Jornada Dupla
O primeiro solo de Saulus Castro é “Memórias do Fogo”, espetáculo que também assina encenação e dramaturgia. A peça integra a programação de circulação DUO 13 anos, com temporada em Abril de 2023, no mesmo palco do Teatro Sesc Senac Pelourinho. “‘Memórias do Fogo’ é uma obra de 2019 e costumo brincar que ela foi engolida também pelo grande peixe. Uma parte do cenário e figurino daquele estão com o Jonas, dentro da baleia. O teatro é a ‘ilha flutuante’ do DUO. A única coisa da qual tenho plena convicção e certeza é: o que faço nessa ilha, nesse coletivo, é porque fui também incendiado, virei fogueirinha. Às vezes, Vesúvio”.
Memórias do Fogo é um mirante-espelho da América do Sul; é uma obra que traz em sua dramaturgia motes que ainda são vivenciados atual e cotidianamente, estampados nas capas e manchetes de jornais: a exploração do Ser e Natureza pelas estruturas de poder, a usurpação das terras de comunidades originárias por criminosos dos garimpos, etc..
Se pensarmos no paralelo entre as obras, Castro declara: “muita coisa volta como uma cobra mordendo o rabo infinitamente, as cinzas desse fogo incendiário voltam sempre para nos lembrar que precisamos sempre estar atentos e questionando”. Sobre as temporadas seguidas dos dois solos, Saulus Castro declara que está muito concentrado, disciplinado na volta dos treinamentos.
Circulação
Dos cinco espetáculos que compõem o projeto de circulação DUO 13 anos, o coletivo traz três solos: “O Barão nas Árvores”, com Marcos Lopes; “Jonas: Dentro do Grande Peixe” e “Memórias do Fogo”, com Saulus Castro. “Estas obras colocam em cena uma necessidade coletiva e/ou individual de lançar uma percepção sobre (in)determinado tema, situação, questão para e com o teatro, encontrar pessoas. Um mirante-espelho”, contextualiza Saulus Castro, que integra o DUO desde a sua formação.
Após temporadas dos solos, o projeto parte para o interior da Bahia, para apresentar os infantis O Barão nas Árvores e Em Busca da Ilha Desconhecida. Em Maio, de 11 a 14, passará pela região da Chapada Diamantina – Rio de Contas, Andaraí, Morro de Chapéu e Lençóis. De 25 a 28 de maio, o Sul da Bahia recebe o repertório DUO 13 ANOS – Itabuna, Camacan, Canavieiras e Ilhéus. Por fim, em Junho, de 08 a 11, o Sertão – berço inspirador de algumas obras do Coletivo – será palco para os espetáculos – Ribeira do Pombal, Tucano, Cícero Dantas e Euclides da Cunha.
A criação
Criado em 2010, o Coletivo DUO se inicia com o objetivo de aprimorar a prática teatral dos seus integrantes e o local de encontro foram salas cedidas pelo Colégio Central da Bahia. Depois da entrada de Saulus Castro na Escola de Teatro da Universidade Federal da Bahia, o trabalho passa a focar o treinamento/vivência do(a) atuante. Foi quando surgiu a primeira obra, ‘deriva’ (2014 – com Saulus e Uerla Cardoso). Compõem ainda o repertório do grupo, os espetáculos À flor da pele, da dramaturga Consuelo de Castro (2017); Arturo Ui – uma parábola, obra baseada no texto de Bertold Brecht no qual a chantagem, a corrupção e a violência dão o tom (2017); Arraial, adaptado da obra Antônio Conselheiro, de Joaquim Cardozo (2018); e o solo de Israel Barretto, O Avô e o Rio (2019).
Serviço
O quê: DUO 13 anos – temporada Jonas: Dentro do Grande Peixe, com Saulus Castro
Quando: 16 e 17 de março, às 15h, com entrada gratuita e exclusiva para escolas públicas, ongs e projetos sociais, e 18, 23, 24, 25, 30 e 31 de março, 19h, com ingressos a valor R$10 (meia) e R$20 (inteira)