Chico Araújo
Ver todos os integrantes do Titãs juntos resgata muito da minha própria história.
Tomei coragem e fui a ver a maior banda de todos os tempos da última semana no show “Encontro”, na Arena Fonte Nova. Uma reunião de classe onde faltava um integrante original, Marcelo Fromer, morto num acidente de trânsito em 2001.
A banda foi se desintegrando, primeiro com a saída de Arnaldo Antunes, o poeta, depois com o romântico Nando Reis, Paulo Miklos foi fazer cinema e a banda vinha seguindo estrada com Sérgio Dias (a voz mais punk), Branco Melo (orgulhoso de ter recuperado a voz após um câncer), do eterno marido de Malu Mader, Toni Belotto e da bateria poderosa de Charles Gavin.
A chuva forte não estragou o espetáculo, mesmo com a plateia tendo o maior público de coroas já reunido em um show em Salvador. Eu estava entre eles. Curto a banda desde os anos 1980, começando por Sonífera Ilha, que vi até no Chacrinha. Mas sempre gostei da pegada punk de músicas de letras simples e de protesto. Uma delas, “nome aos bois” foi atualizada com a inclusão de um personagem recente da história política brasileira.
Do meu lado, um seguidor do guru das armas reclamou. A mulher mandou ele calar a boca. Mas os 99,99% dos presentes o ignoraram, como deve ser.
Mas tinha muita coisa na bagagem de mais de três dezenas de anos de estrada. A primeira parte do show foi de “porrada”, mas, claro, rocks baladas não podiam faltar, principalmente na voz de Nando Reis. De quebra, um clássico da dupla Roberto/Erasmo, com direito a homenagem ao Tremendão: Saber Viver ganhou sua melhor versão na pegada pop.
A chuva insistente estragou penteados, ensopou roupas e documentos, mas público foi chegando para a beira do palco exigindo “Bichos”, “Cabeça Dinossauro”… Uma menina mais nova que minha filha começou a gritar “toca Marvin”. O namorado não entendia.
Acompanhei os seus gritos, sem revelar para ela que era a minha balada preferida. Marvin é minha música de sentimento. Chorei na primeira vez que ouvi. Sempre me remete ao meu pai.
Debaixo de um aguaceiro, Nando Reis atendeu. Perdi a voz, não sem gritar antes “Bora Bahêa”, já que na última parte do show Carles Gavin apareceu vestindo um manto tricolor.
Foi um show que ficou pra história e você contou direitinho. Só faltou falar da exploração do bar… R$13 uma Itaipava e R$ 15 a Black Princess não dá, né?? E ainda perdi três fichas de Black.