De acordo com dados da Associação Brasileira da Indústria de Canabinóides (BRcann), as vendas de produtos à base de cannabis medicinal cresceram 201% em volume nas farmácias no primeiro semestre de 2023, em comparação ao mesmo período do ano passado. Na Bahia, de acordo com a Agência Tatu, as importações cresceram 7000% entre 2018 e 2022, passando de 54 para 3.790. A baixa quantidade de efeitos colaterais e seu uso como alternativa aos medicamentos tradicionais são algumas justificativas para o crescimento da procura.
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Já segundo a pesquisa do Portal Cannabis & Saúde, o número de médicos que prescrevem produtos à base de canabidiol para compra em farmácia passou de 6,3 mil em 2021, para 15,4 mil no ano passado, representando o aumento de 146%. Entre esses profissionais está a médica de família e comunidade, Mariane Ventura. “É uma medicação natural com poucos efeitos adversos, segura e eficaz para muitos sintomas relacionados a diversas patologias, como insônia, ansiedade, alterações do humor, da concentração, da atenção, entre outros”, explica a médica.
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No tratamento de patologias psiquiátricas, como ansiedade e depressão, existem diversas opções terapêuticas convencionais utilizadas, como os antidepressivos, ansiolíticos e benzodiazepínicos, que estão sendo substituídos por uma parcela dos pacientes pelos fitocanabinoides, como Tetrahidrocanabinol(THC) e Canabidiol(CBD),.
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”O maior benefício que tive foi a melhoria da qualidade de vida. Entre os anos de 2013 e 2016 eu sofria com muita ansiedade, desenvolvi fobia social, passava mal só de pensar em sair de casa. Às vezes saía, mas tinha crise na rua e voltava pra casa. Depois do tratamento eu consigo ter uma vida completamente normal, de cumprir com o trabalho, voltei a ter vida social e as crises são bem menos frequentes e intensas”, declara a bióloga Elisa Maria Silva, uma das pacientes de Mariane Ventura.
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Outra paciente da médica é sua ex-professora, Roberta Lordelo, que a buscou quando morava no exterior e tinha crises de ansiedade por causa do doutoramento e da pandemia de COVID-19. O uso de medicamentos à base de cannabis associado à terapia, alimentação saudável e atividade física, trouxe a melhora que ela tanto desejava.
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“Quando estava na fase final do doutorado tive uma crise que fiquei paralisada por 4 horas. Lendo, estudando, encontrei esse caminho e, como já conhecia Mari, marquei uma consulta. Com o tempo, com o tratamento, consegui ter mais esse estado de tranquilidade para poder viver minha vida, com as dificuldades, com tudo que a vida tem. Eu recomendo muito o tratamento e quando eu falo com as pessoas, elas ficam animadas em saber dos benefícios”, destaca a paciente.
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No Brasil, apenas médicos e dentistas estão autorizados a prescrever medicamentos à base de canabidiol e a compra pode ser feita de três maneiras: apresentando receita médica em farmácias, tornando-se associado de organizações como a Associação Brasileira de Apoio Cannabis Esperança (ABRACE) – autorizada desde 2017 pela Justiça brasileira a cultivar e fornecer derivados da Cannabis sativa em forma de óleos e pomada-, ou importando a partir do preenchimento de um formulário da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que tem validade de 2 anos.
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“O paciente vai começar a usar com a dose baixa e vai progredindo aos poucos porque a dose que vai funcionar depende de algumas características como, por exemplo, idade, peso corporal, metabolismo, se usa outras medicações. Então, observamos como o paciente vai se adaptar e o nosso parâmetro é sempre a melhora clínica sem o efeito colateral”, finaliza a médica.