A Bahia registrou ao menos quatro crimes violentos com vítimas pertencentes a comunidades ciganas neste ano. Dois deles, a morte da adolescente Hyara Flor, de 14 anos, e a chacina que vitimou seis pessoas da mesma família, tiveram repercussão nacional.
O primeiro dos quatro crimes violentos teve como vítima Dione Pereira da Silva, de 29 anos. Ele foi morto a tiros no dia 26 de abril, na Avenida Almirante Barroso, no centro de Teixeira de Freitas, extremo sul da Bahia.
Segundo a Polícia Civil da cidade, três homens foram presos em flagrante pelo crime. A suspeita é de que a morte de Dione Pereira da Silva foi motivada por vingança.
Um conflito entre grupos de povos ciganos teria começado depois da morte de outro homem, identificado como Deolan Pereira da Silva, de 36 anos. O crime aconteceu no dia três de abril, dentro de um lava-jato, no bairro Redenção, também em Teixeira de Freitas e teria desencadeado a morte de Dione Silva.
Não há detalhes se os suspeitos de serem responsáveis pela morte de Dione também pertenciam aos povos ciganos.
Caso Hyara Flor
Hyara Flor Santos Alves, de 14 anos, foi morta em julho deste ano em uma comunidade cigana, na cidade de Guaratinga, no sul da Bahia. O marido da adolescente, que também tem 14 anos, era considerado o principal suspeito do crime.
O adolescente chegou a ser apreendido no dia 26 de julho, em Vila Velha, no Espírito Santo. Após a conclusão do inquérito, ele foi liberado.
A investigação inicial apontava que o crime teria sido cometido por vingança após um relacionamento extraconjugal entre a mãe do adolescente e o tio da vítima. No entanto, conforme a polícia, a versão não se sustentou com provas.
O inquérito da Polícia Civil concluiu que o disparo que matou a vítima foi feito de forma acidental pelo cunhado dela, uma criança de nove 9 anos, enquanto os dois brincavam com uma arma de fogo. Após o documento, o marido de Hyara Flor foi liberado.
Inconformada com o inquérito da Polícia Civil, a família de Hyara Flor contratou um perito que emitiu um parecer que contesta a versão apresentada pela instituição.
O parecer técnico foi entregue ao Ministério Público da Bahia (MP-BA) e o órgão pediu novas investigações para a Polícia Civil. O Departamento de Polícia Técnica (DPT) da Bahia informou que a Coordenadoria Regional de Polícia Técnica de Porto Seguro recebeu o ofício e assim que o trabalho for concluído, a resposta será devolvida.
Chacinas
Menos de dois meses separaram duas chacinas com vítimas de comunidades ciganas nas cidades de Feira de Santana e Jequié.
No dia 14 de agosto, quatro pessoas foram mortas após um ataque de um grupo armado em um restaurante no centro de Feira de Santana, a 100 quilômetros de Salvador. Três vítimas morreram no local e uma quinta foi baleada na perna. A motivação do crime ainda não foi revelada e ninguém foi preso suspeito de cometer o crime.
As vítimas foram identificadas como Amilton Valadares, de 50 anos, Agnaldo Souza Júnior, de 35 anos, Altamir Santos, 27, e Jofre Souza, de 49 anos. Uma mulher de 40 anos que foi atingida é esposa de um dos mortos. Ela sobreviveu.
A Polícia Militar informou que quatro homens encapuzados entraram no restaurante e atiraram contra o grupo de ciganos. Em seguida, os suspeitos, que usavam distintivos de polícia, fugiram.
Na quinta-feira (5), seis pessoas da mesma família foram mortas a tiros na cidade de Jequié, no sudoeste da Bahia. As idades das vítimas variavam entre 5 e 65 anos e todos pertenciam a comunidade cigana.
A Polícia Civil da cidade investiga o crime, que aconteceu apenas dois dias depois de um outro familiar, Iomar Barreto Cabral, ser encontrado morto dentro de um carro em Rafael Jambeiro, cidade que fica a 202 km de Jequié.
Todas as vítimas estavam na mesma casa, no bairro Amaralina, no momento do crime. Elas foram identificadas como:
- Natiele Andrade de Cabral, de 22 anos (grávida de nove meses): mãe de Laiane e esposa de Iomar;
- Laiane Andrade Barreto, 5 anos: filha de Natiele e Iomar;
- Sulivan Cabral Barreto, de 35 anos: mãe de Elismar e Iomar;
- Elismar Cabral Barreto, de 23 anos: filho de Sulivan e irmão de Iomar;
- Lindinoval de Almeida Cabral, de 66 anos: avô de Natiele e bisavô de Laiane;
- Maiane Cabral Gomes, de 45 anos: ainda não se sabe ao certo a relação de Maiane com as outras vítimas, mas a polícia acredita que ela era irmã de Sulivan.
Segundo o delegado Roberto Leal, que investiga o caso, ainda não é possível dizer se os crimes têm alguma relação. Isso porque as motivações e os suspeitos de ambos os casos não foram identificados.
Até então, a polícia não descarta nenhuma linha de investigação, como disputas por terras, latrocínio e vingança.
G1