O sentimento de insegurança na cidade de Salvador se espalha a partir dos seus bairros. O bairro hoje retratado é o da Boca do Rio, onde seus casos evidenciam cada vez mais uma crise de segurança na capital baiana.
Nas últimas semanas, os moradores do bairro da Boca do Rio enfrentaram tiroteios e confrontos com a polícia que deixaram vítimas, além do linchamento que é uma ação por parte da justiça pelas próprias mãos. Acontecimentos dessa natureza destacam a carência da população com uma segurança pública presente, e a descrença na mesma, a ponto de recorrerem à justiça própria.
Segundo dados publicados em 7 de setembro pela Secretaria da Segurança Pública (SSP) no Diário Oficial da Bahia, o Bairro da Boca do Rio obteve no primeiro semestre de 2024 um aumento de mais de 42,86% em assassinatos em relação ao mesmo período no ano passado, compreendendo também a área do Imbuí. A região contém 114.163 mil habitantes e nas últimas semanas forma registrados caso que evidenciaram a falta de segurança na localidade.
No último dia 04 (quarta-feira) um homem foi detido após ser capturado por moradores que o acusaram de realizar assaltos no bairro da Boca do Rio, em Salvador. O incidente ocorreu pela manhã na área do Alto do São Francisco e foi registrado tanto por moradores quanto por câmeras de vigilância.
De acordo com informações, o suspeito estaria roubando celulares quando foi perseguido por pessoas indignadas com a situação. Em vídeos, aproximadamente 10 pessoas cercam o homem, agredindo-o com socos, chutes e até mesmo com o uso de um pedaço de ferro. Após um período de agressões, alguns moradores da região tentaram intervir para evitar que a violência continuasse. Esse ato gerou um desentendimento entre os que queriam interromper o espancamento e aqueles que insistiam em continuar a agressão.
Testemunhas relataram que os assaltos teriam acontecido na Avenida Octávio Mangabeira, na orla da Boca do Rio, especificamente próximo ao ponto de ônibus localizado atrás do Instituto Municipal de Educação Professor José Arapiraca (Imeja). O suspeito foi capturado pelos populares no Alto do São Francisco após uma perseguição.
Equipes da Polícia Militar (PM-BA) foram acionadas e estiveram no local. O homem foi encaminhado por agentes da 39ª Companhia Independente (CIPM) para atendimento médico e, em seguida, conduzido à Central de Flagrantes para as devidas providências.
Já no dia 7 (sábado) um homem morreu após troca de tiros com a Rondesp na região do Bate Facho, na Boca do Rio, em Salvador. Durante uma operação de patrulhamento, policiais militares foram atacados por suspeitos armados que dispararam contra a viatura. Em resposta, os PMs efetuaram disparos, resultando em um confronto no qual um dos suspeitos foi ferido. O suspeito identificado como Luan foi socorrido ao Hospital Roberto Santos, mas não resistiu aos ferimentos. Com ele, foram apreendidos uma pistola com a numeração raspada, munições de calibre 380, dois tabletes e 133 porções de maconha prensada, além de um rádio comunicador.
No dia 15 (segunda-feira) Um homem popularmente conhecido como ‘Kannário’ foi morto a tiros a noite, no bairro. O crime ocorreu próximo a uma praça localizada na Rua Cristóvão Ferreira, em uma área chamada de ‘Cajueiro’. A vítima, identificada como Deivide Aragão da Silva, de 26 anos, foi alvejada por vários disparos e morreu no local.
De acordo com informações fornecidas pela Polícia Civil, Deivide era residente da região. Agentes da 39ª Companhia Independente da Polícia Militar (CIPM) foram acionados e estiveram presentes no local do crime. Em seguida, o Serviço de Investigação de Local de Crime iniciou as primeiras diligências. Ainda não há informações sobre a autoria, motivação ou circunstâncias exatas do crime, que estão sendo investigadas pelo Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP).
Outro tiroteio no bairro, no dia anterior, domingo (14), um homem morreu após confronto com a Polícia Militar. Ele fazia parte de um grupo de sete suspeitos de envolvimento com o tráfico de drogas na área.
O suspeito, identificado apenas como Gabriel, foi baleado durante a troca de tiros e levado ao Hospital Geral Roberto Santos (HGRS), onde não resistiu aos ferimentos. As investigações continuam para localizar os demais envolvidos.
Para entender melhor qual a sensação da população em relação a segurança, entrevistamos 3 moradores locais:
– Como você e sua família se sentem em relação à segurança no dia a dia?
Marta – Comerciante
“Olha, a gente vive com medo, né? Eu já nem saio de casa à noite mais, e quando meu marido fecha o mercadinho, ele vem direto pra casa, sem dar bobeira. A gente escuta tiro quase toda semana, e isso mexe muito com a cabeça da gente. Nossos filhos nem brincam mais na rua como antigamente. Eu, como mãe e comerciante, fico sempre com aquela sensação de que algo pode acontecer. Não é mais só medo de assalto, mas dessa violência toda que está virando rotina. A polícia até faz ronda, mas a gente sabe que, muitas vezes, é depois que o estrago já foi feito.”
– Qual insegurança você enfrenta no dia a dia com a criminalidade?
Jorge – Aposentado
“Aqui a insegurança é constante. Todo dia, quando eu saio pra dar uma volta ou ir ao mercado, fico preocupado com quem pode me abordar ou tentar me assaltar. Já ouvi histórias de vizinhos que perderam seus celulares ou até dinheiro por causa de assaltos relâmpagos. E não é só isso, não. Tem a questão dos jovens se envolvendo com drogas e a violência que vem junto, o que torna o ambiente ainda mais complicado. Muitas vezes, eu prefiro ficar em casa. Com tudo isso acontecendo, a gente acaba se fechando, e a insegurança só aumenta.”
– Decorrente a criminalidade da região você gostaria de mudar a sua moradia?
Ana Paula – Professora
“Eu já pensei várias vezes em mudar. Cada dia que passa, fico mais preocupada com a segurança da minha família. Às vezes, parece que estamos vivendo em um filme de terror, com a violência tão perto. Eu adoraria encontrar um lugar mais seguro, onde eu pudesse levar meus filhos pra brincar na rua sem medo. No entanto, mudar não é tão fácil, sabe? A gente também tem raízes aqui, amigos, a escola das crianças… Mas, honestamente, se eu encontrasse uma oportunidade em um lugar mais tranquilo, eu consideraria, sim. A qualidade de vida é muito importante, e eu quero o melhor para eles.”
– Como você avalia a atuação da polícia e das autoridades locais em relação à segurança no bairro?
“Os policiais passam, fazem rondas, mas não vejo uma real mudança na segurança do bairro. A gente precisa de uma presença mais ativa e de ações que realmente ajudem a prevenir a criminalidade. Muitas vezes, eu mesmo presenciei a polícia chegando depois de um tiroteio, mas cadê a prevenção? Além disso, a confiança na polícia tá abalada, já que tem muitos relatos de violência policial também. As autoridades precisam entender que a gente quer segurança de verdade, não só a sensação dela. Sem uma abordagem mais humana e eficaz, a situação só tende a piorar.”
Fonte:
Estatística criminal da Secretaria da segurança pública da Bahia – https://ssp.ba.gov.br
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