Estatística mostra que os casos de suicídio entre adolescentes vêm aumentando de forma mais acelerada, comparando com outras faixas etárias, segundo estudo da Fiocruz. Com foco na prevenção e no acolhimento de casos de depressão e outras doenças psiquiátricas, o programa Educaê, executado pelo ISEN – Instituto de Saúde e Educação do Nordeste, em parceria com a prefeitura de Coração de Maria, desenvolve um programa de apoio individualizado e aconselhamento psicológico nas escolas municipais, além de intensificar ações da campanha Setembro Amarelo.
Desde 2014, a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), em parceria com o Conselho Federal de Medicina (CFM), promovem a campanha Setembro Amarelo, cujo foco é a prevenção do suicídio. “Esse é um tema de extrema importância, que ainda é tabu dentro das escolas, mas com grande necessidade de ser debatido, haja vista, a dificuldade dos profissionais da educação na condução do assunto e quando sinais são percebidos”, comenta a psicóloga do programa Educaê, Clafylla Luiza Cruz de Oliveira.
“Considerando que tal intervenção visa a desatar nós em nível técnico e repercussões subjetivas para conflagrar ações adequadas, a campanha do Setembro Amarelo para o projeto Educaê vem viabilizando aproximação e jogando luz no objeto da campanha, abrindo espaços para discussões e permitindo aprimoramento mais alinhado para frear os efeitos nocivos de um problema tão sensível”, resume. Clafylla também conduz o programa de apoio individualizado e aconselhamento psicológico nas escolas municipais de Coração de Maria.
De acordo com a OMS, a cada ano, mais de 700 mil pessoas morrem como resultado do suicídio em todo o mundo, sendo que 77% dos casos ocorrem em países de baixa e média renda. O suicídio é a quarta causa de morte entre pessoas de 15 a 29 anos. Para cada suicídio, estima-se que ocorrem outras 20 tentativas. A maioria dos casos está relacionada a transtornos mentais, como a depressão, em primeiro lugar, seguida do transtorno bipolar e do abuso de substâncias.
No Brasil, em 2022, 16.468 óbitos por suicídio foram notificados no Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM). Durante este mês realizamos, nas escolas da rede, intervenções voltadas ao trabalho de conscientização e sensibilização sobre condições de vida, com a abordagem sob o prisma do Setembro Amarelo. Respeitando o manejo para transmitir pontos pertinentes à temática sensível, que versa não exclusivamente sobre suicídio, mas, também, as dificuldades no atravessar o estado de sofrimento psíquico, rede de apoio, fortalecimento de vínculos e afins”, explica a psicóloga.
O público-alvo das ações são alunos (contemplando público infanto-juvenil e com tratamento dos pontos pensados para cada faixa etária), corpo docente e demais funcionários das instituições de ensino. “Dessa forma estão sendo realizadas rodas de conversa, exposição de material audiovisual, discussões teóricas e prática, objetivando preparar o público em como disponibilizar manejo de acolhimento, direcionamento para rede de apoio institucional, reconhecer sinais de riscos e de comportamentos protetores”, resume Clafylla.
Suicídio entre jovens no Brasil
A taxa de suicídio entre jovens cresceu 6% por ano no Brasil entre 2011 a 2022, enquanto as taxas de notificações por autolesões na faixa etária de 10 a 24 anos de idade evoluíram 29% ao ano no mesmo período. Os números apurados superam os registrados na população em geral, cuja taxa de suicídio apresentou crescimento médio de 3,7% ao ano e de autolesão de 21% ao ano, no período analisado, pela Fiocruz.
“Em contato com a rede educacional do município em que o projeto Educaê está inserido, percebe-se que o tema ainda é um tabu para grande parte dos educadores – que, por vezes, sinalizaram entraves não só para abordagem, como para condução de situações sinalizadoras de atenção. Logo, ficou claro que os docentes necessitavam de orientações sobre direção, tratamento do tema e procedimentos necessários para articulação com a rede de dispositivos que o munícipio disponibiliza. O repertório de manejo percebido não os preparava nem em teoria, nem em prática para contato com essas sensíveis demandas”, pondera a psicóloga.
Ela explica que os alunos apresentam, em casos específicos, comportamentos de comprometimento da qualidade das relações sociais, reflexos em processos diretos e indiretos do ensino e aprendizagem (diminuição do rendimento escolar, prejuízo das relações afetivas, comprometimento da interação, posicionamentos e afins), históricos com situações de bullying e “decorrentes impactos no que corresponde a aspectos de sofrimento psíquico, acarretando, muitas vezes, em processos de autolesões, suicídio ou mesmo mudança comportamental, denunciantes da dimensão sociopolítica dessa temática”, conclui Clafylla.
SOBRE O ISEN: O Instituto de Saúde e Educação do Nordeste (ISEN) é uma organização do terceiro setor fundada em 20 de agosto de 2005, mas que adquiriu a atual denominação e conformação jurídica e legal em 20 de outubro de 2021, com sede em Salvador (BA), com experiência comprovada e qualificação técnica para desenvolver projetos com foco em eficiência da saúde pública, educação, assistência social e combate à pobreza. Atualmente, desenvolve projetos em parceria com o poder público nos estados da Bahia, Maranhão e Alagoas.