Assim como diversas capitais e até algumas pequenas cidades brasileiras, Salvador vive um dilema relacionado à segurança pública, principalmente nas comunidades mais carentes, mas que não deixa de atingir também os bairros mais nobres. Assaltos, mortes violentas, crimes de assédio, principalmente contra a mulher, são alguns dos piores casos. No entanto, listar todos esses problemas é algo presente em muitos debates, sendo importante pensar em como solucioná-los.
Usando Salvador como referência, uma das teclas que mais precisam ser batidas é o domínio do crime organizado nos bairros. É a pior capital em taxa de homicídio de jovens (322,5 a cada 100 mil habitantes) e tem altos números de assassinatos (foram 1.568 em 2022, segundo o Atlas da Violência). Muito disso tem relação justamente com as facções que controlam o tráfico de drogas e outras atividades criminosas.
Prefeito reeleito na capital baiana, Bruno Reis (União) aposta em um Plano Municipal de Segurança, que custa R$5 milhões e deve ser concluído no início de 2025. Ele também promete seguir fortalecendo a Guarda Civil Municipal e investir em câmeras corporais “para trazer segurança ao cidadão, implantar rondas para garantir a segurança de mulheres vítimas de violência doméstica, aos estudantes, porque as escolas vinham sendo arrombadas frequentemente”, disse em entrevista ao Projeto Prisma.
Grande rival e opositor de Bruno nas urnas, Geraldo Júnior (MDB) prometia uma secretaria específica para o enfrentamento à violência em Salvador. A nova pasta teria o nome de Secretaria Cidadã e seria ligada às secretarias estaduais da Justiça e de Segurança Pública e ao Ministério da Justiça. Abrigaria a GCM (Guarda Civil Municipal), que é administrada atualmente pela Semop.
Surpreendente segundo colocado nas eleições, Kleber Rosa (Psol) diz que a violência não deve ser tratada apenas com políticas de enfrentamento policial, mas também envolvendo questões sociais e estruturais. Uma das principais ideias do psolista era incluir a GCM em um sistema local integrado, junto com Conselhos Regionais Populares de Segurança Pública, também com representantes de instituições religiosas, associações de moradores e comerciantes. A ideia era debater propostas pensadas individualmente para cada localidade, com todas essas esferas em conjunto.
Major da PM explica sobre medidas alternativas
Major da Polícia Militar (PM) e lotado no Comando Especializado de Policiamento Rodoviário (CEPRV), Pablo Araújo concedeu entrevista à reportagem. Ele citou que ações de inteligência e prevenção, orientação e ambientação espacial são fundamentais para ser executado um policiamento ostensivo de qualidade, mas destaca também a Base Comunitária de Segurança (BCS).
De acordo com o major, a BCS serve principalmente para aproximar a corporação do cotidiano dos moradores de uma determinada comunidade. “Não é para reprimir, é a polícia para acolher”, iniciou.
“As bases comunitárias trabalham basicamente através dos projetos sociais, em que rodavam projetos na parte de luta, de artes marciais. Tinha capoeira, caratê, judô. Tinha também outras coisas como pintura”, descreveu.
Major Pablo explicou que o principal objetivo das bases é trazer alternativas sociais que possam transformar vidas. “O sentido é gerar um meio para tentar buscar aquela criança, aquele adolescente, para não migrar para o mundo das drogas, e consequentemente para os outros delitos”.
O policial ainda explicou sobre outra vertente do projeto. “A outra linha da ação das bases comunitárias é a que a gente chama de Patrulha Solidária, o que é isso? É você fazer um esforço de busca ativa. Demanda de saúde, de assistência social, entre outras. Então assim, o policial ia até as residências no sentido de saber como é que estavam as pessoas, se estava tudo muito bem, se estava precisando de alguma coisa”, comentou.
“A gente começou lá em 1997 com o projeto Polícia Cidadã, depois avançou aí para esse conceito de Bases Comunitárias. Mas a ideia de policiamento de proximidade é você ser um elo de representação do estado, para ser um elo de comunicação da comunidade para os outros serviços públicos e sociais”, finalizou o policial.
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Fala povo
Empregada doméstica e moradora do bairro de Pau da Lima, Cleuza Leite, de 48 anos, explicou sua opinião sobre como melhorar a segunda em Salvador. “Eu acho que uma maneira de melhorar a segurança é a polícia não chegar sempre atirando dentro da comunidade, mas sim o governo pensar em maneiras de gerar mais emprego e melhorar a educação para diminuir o número de pessoas entrando no crime”, disse.
Estudante de psicologia de 24 anos, Yuri Cajado acredita em soluções como a uniformização dos sistemas utilizados entre a Polícia Militar, a Polícia Civil e a Polícia Rodoviária Estadual, para facilitar o compartilhamento de informações sobre delitos. No entanto, ele afirma que parte da violência também passa pela atuação das próprias Forças de Segurança.
“O Governo da Bahia, principalmente em Salvador, tem uma política muito rígida quando se trata de segurança e policiamento. Vejo que em muitas situações onde a polícia ultrapassa o papel de fazer a segurança da cidade, e parte para agressões e humilhações quando se trata de pessoas pretas e da periferia. Não é de hoje que casos assim são registrados e é inadmissível que continuem acontecendo. Eu acredito que uma das formas seja a educação e formação continuada da polícia sobre temas relacionados ao nosso cotidiano e a mudanças societárias, como forma de preparação e fortalecimento e valorização dos profissionais que fazem a segurança pública”, opinou.