Os alunos da Escola Municipal Eugênia Anna dos Santos, situada dentro do terreiro Ilê Axé Opô Afonjá, no São Gonçalo do Retiro, tiveram uma aula especial na tarde desta quarta-feira (6). Na ocasião, o escritor e ativista beninense Tèju Baba leu e interpretou parte de sua obra “Os 50 Pioneiros Africanos” para a turma.
O livro é uma coletânea onde são retratados a vida e o legado de líderes africanos e afrodescendentes que se destacaram em diferentes áreas da cultura, da arte e do conhecimento. A atividade faz parte das ações do Festival Salvador Capital Afro 2024.
“Foi muito prazeroso e um privilégio poder dedicar um tempo para as crianças. Eu amo estar com as crianças para falar sobre o meu livro, que é sobre sonhos de pessoas africanas, de pessoas negras. Então, eu contei algumas histórias que fazem parte do meu livro e que são de pessoas negras que fizeram grandes coisas, compartilhando com essas crianças sonhos de pessoas que são como elas e inspirando-as, assim, a seguir os seus sonhos. Foi um momento muito especial”, contou.
Antes de iniciar a atividade lúdica com os alunos, Tèju Baba foi recepcionado pela ialorixá do Ilê Afonjá, Mãe Ana de Xangô e pelo presidente da Sociedade Beneficente Cruz Santa do Axé Opô Afonjá, Ogan Emanuel. Também estiveram presentes as titulares da Secretaria Municipal da Reparação (Semur), Ivete Sacramento, e da Secretaria Municipal de Políticas para Mulheres, Infância e Juventude (SPMJ), Fernanda Lordêlo, e o subsecretário de Cultura e Turismo (Secult) e coordenador do Novembro Salvador Capital Afro, Walter Pinto Júnior.
“É um momento de grande importância para o Ilê Axé Opô Afonjá, uma casa matriarcal, fundada em 1910 por Mãe Menininha e hoje escolhida para a apresentação deste livro. O sonho de Mãe Menininha não é sonho para ficar apenas na palavra, mas sim o sonho concreto do nosso dia a dia. Temos a Escola Eugênia Anna, implantada na nossa terra sagrada e gerenciada pela gestora, professora e pedagoga Iraildes Santos Nascimento. Para nós, do Ilê Afonjá, essa escolha é um mérito que demonstra reconhecimento da educação e qualidade de ensino. Essa é uma escola que traz a origem e tradição da cultura afrodescendente e que conta com professores qualificados para fazer essa comunicação com os alunos”, afirmou a ialorixá Mãe Ana de Xangô.
A secretária Ivete Sacramento definiu o evento como um momento de reencontro entre a África real e a África brasileira. “Eu espero que esses negros de anéis que estão aqui hoje possam influenciar essas crianças para que, a partir do anel, contribuir mais para que mais negros e negras cheguem a lugares que outros não conseguiram chegar. Agradeço muito à Mãe Ana e toda a comunidade do Ilê Axé Opô Afonjá por ter nos recebido, nos dando esse presente”, declarou.
Aprendizagem – Durante a apresentação do livro, o escritor e ativista fez várias perguntas e contou com a participação dos alunos, que ouviram atentamente a história de personalidades como a da atriz Lupita Nyong’o, da modelo e advogada Elizabeth Edith Bagaaya e do físico Erasto Mpemba. As crianças com idades entre 9 e 12 anos permaneceram sentadas em uma área externa à escola e dentro do Ilê Axé Opô Afonjá.
Todos ficaram encantados e levantaram as mãos para fazer perguntas sobre os países africanos e sobre as personalidades apresentadas. Alguns também revelaram a carreira que queriam seguir. Ao final, uma grande fila se formou para pedir o autógrafo de Tèju Baba.
A diretora Iraildes Nascimento contou que, durante a semana, falou para os estudantes sobre a vinda do escritor à escola e todos ficaram muito encantados, pesquisaram em casa sobre a vida e obra do autor e compartilharam as informações com a família. “Agora elas vão poder compartilhar esse conhecimento com os familiares e amigos. É algo que vai ficar registrado na memória delas. Então somos muito gratos pela escolha da nossa escola e as crianças tiveram a oportunidade, nesta tarde, de conhecer a história dos 50 pioneiros africanos”.
Eduardo Santana, coordenador de Relações Étnico-Raciais da Secretaria Municipal da Educação (Smed), lembrou que a Escola Municipal Eugênia Anna dos Santos foi a primeira e única municipal dentro de Salvador a funcionar dentro de um terreiro de candomblé. “Temos associadas duas questões importantes: o espaço da matriz religiosa, mas também a responsabilidade de uma escola que está inserida em um território como esse e que precisa dialogar com esses saberes. Uma ação como essa, dentro de uma instituição com toda essa história e representatividade, reforça a importância de pensarmos toda essa dimensão de Salvador Capital Afro também à luz da educação”, refletiu.
Fotos: Jefferson Peixoto/Secom PMS