Com o objetivo de proteger a biodiversidade marinha da Baía de Todos-os-Santos (BTS), uma grande operação foi iniciada na Ilha de Itaparica, nesta quarta-feira (08), para combater o octocoral invasor Chromonephthea braziliensis. A ação acontece até fevereiro, resultado de uma parceria entre a Secretaria do Meio Ambiente (Sema), o Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema), a ONG PRÓ-MAR e instituições federais de pesquisa, com previsão de erradicar essa espécie que tem ameaçado os ecossistemas locais.
O coral invasor foi avistado há cerca de um ano pelos pescadores da ilha de Itaparica. Nesta fase inicial, as remoções estão sendo realizadas exclusivamente por pesquisadores habilitados e a equipe ambiental da Bahia. O superintendente de Políticas e Planejamento Ambiental da Sema, Tiago Porto, destacou que foi identificado os métodos mais eficazes para a remoção do bioinvasor, com uso de sal azedo e o tratamento manual de raspagem. “Essa ação é realizada em parceria com a PRÓ-MAR, instituição que já possui experiência na remoção do bioinvasor na região”.
Porto também reforçou que apenas equipes capacitadas devem realizar essa atividade, garantindo segurança e eficiência.
A bióloga da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Tatiane Aguiar, esclareceu que no monitoramento realizado pelos pesquisadores no píer em Itaparica, onde se encontra o experimento, foram aplicadas três substâncias químicas: sal azedo, água doce e vinagre. “Além dessas substâncias, utilizamos um método físico, que é a remoção manual com espátula. O objetivo foi avaliar a eficácia dos métodos aplicados no manejo e controle do coral invasor, que chegou de regiões distantes (oceano índico) e está afetando a área de Itaparica”.
Já a oceanógrafa da Sema, Alice Reis, reforçou que espécies invasoras empurram as espécies nativas para fora do ambiente que antes ocupavam. No caso dos corais, o espaço é crucial, pois eles funcionam como a base para outras formas de vida. “Se uma espécie invasora ocupa esse espaço, impede que as espécies nativas se estabeleçam, comprometendo a complexa teia de relações do ecossistema. Sabemos que essa espécie já está estabelecida no Rio de Janeiro, o que nos fornece um comparativo para entender os possíveis impactos aqui. Mesmo que os efeitos possam variar em intensidade, sabemos que ela compete com as nativas e altera a estrutura dos recifes de coral, que são fundamentais para proteger a zona costeira”.
O Inema tem colaborado ativamente com a operação, fornecendo suporte técnico e operacional no manejo do coral exótico invasor, em parceria com a Pró-Mar. A bióloga da Diretoria de Sustentabilidade e Conservação (DISUC) do Inema, Carolina Prudente, alertou sobre os impactos ambientais e econômicos da invasão. “Esse octocoral ameaça a biodiversidade marinha, pois compete com espécies nativas, alterando o equilíbrio do ecossistema e prejudicando as atividades pesqueiras”, explicou.
“A realização de uma pesquisa que integra a Área de Proteção Ambiental (APA), uma unidade de conservação de uso sustentável instituída pelo governo do Estado em 1999 é fundamental, pois contribui para a gestão eficaz e a formulação de estratégias de proteção dos recursos e atributos ambientais que justificaram a criação da unidade”, acrescentou.
Além do suporte das forças de segurança da Companhia de Polícia de Proteção Ambiental (COPPA), da Marinha e da Capitania dos Portos da Bahia, que estão fornecendo embarcações e tripulação de apoio, o projeto conta com a participação de especialistas da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Universidade Federal de Alagoas (UFAL), Universidade de São Paulo (USP), Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), Centro Universitário Senai/Cimatec e da organização socioambiental Pró-Mar.
O coral invasor, Chromonephthea braziliensis, apresenta impactos significativos tanto a curto quanto a longo prazo na Bahia, especialmente na Baía de Todos-os-Santos. A curto prazo, a espécie compete com nativas como o baba-de-boi, coral-casca-de-jaca e coral-de-fogo por espaço em substratos, além de liberar metabólitos que causam necrose em octocorais e dificultam a predação. A longo prazo, o Chromonephthea braziliensis pode causar perda de biodiversidade marinha, comprometendo a estrutura ecológica do ecossistema recifal e os serviços ecossistêmicos, como proteção costeira e manutenção de habitats pesqueiros.
Fotos: Tiago Dantas/ASCOM