A eletricidade parece ser o combustível do futuro para os carros, um caminho quase irreversível diante da necessidade de se reduzir a emissão de gases nocivos ao meio ambiente. Mas a Nissan trabalha em uma tecnologia que tem a marca do Brasil. Em maio, a montadora encerrou a primeira fase de testes do protótipo e-Bio Fuel Cell, van elétrica que bebe etanol.
O Brasil foi escolhido como berço do e-Bio Fuel Cell por oferecer etanol em abundância e já possuir uma rede de abastecimento abrangente e consolidada. O protótipo é baseado na e-NV200, versão elétrica da minivan de sete passageiros que é comercializada na Europa, mas traz uma Célula de Combustível de Óxido Sólido (SOFC), que converte o álcool combustível em hidrogênio.
Na prática, a van movida a bioetanl não opera por combustão, mas por reações químicas que geram eletricidade, que por sua vez é enviada ao motor. Funciona assim: o etanol é transformado em hidrogênio, que é enviado à celula de combustível. Lá, o gás é convertido em eletricidade, que abastece as baterias responsáveis por alimentar o motor que traciona as rodas.
No final do processo, o veículo emite calor e vapor d’água (H2O), que são reaproveitados pelo reformador, onde o etanol é convertido em hidrogênio. Os gases emitidos pelo sistema são “limpos”, uma vez que são reabsorvidos pela natureza — o chamado “ciclo neutro do carbono”, onde o gás carbônico (CO2) é regenerado pelas plantações de cana-de-açúcar, matéria-prima do nosso etanol.
Segundo Ricardo Abe, gerente de engenharia de produto da Nissan do Brasil, o aspecto mais interessante do sistema é a facilidade de abastecimento combinada à autonomia, que supera os 600 km. Por outro lado, o engenheiro reconhece que a aplicação ainda está distante, porque depende de outros fatores e possui um custo elevado, que inevitavelmente impactaria no preço final dos veículos.
— O etanol é uma fonte renovável, então é algo viável e sustentável. O maior impasse é desenvolver fornecedores. Temos também a questão da infraestrutura, que no Brasil ajudou muito, já que existe uma malha de distribuição, o que torna o perfil do consumidor igual ao dos carros a combustão. Pensamos nesta aplicação para além de 2020, há muitas variáveis que precisam ser arredondadas.
Como funciona?
O reformador trabalha como uma espécie de catalizador. O etanol é misturado ao vapor d’águo emitida no ciclo, e a reação química usa o calor gerado no processo. O gás carbônico é separado do hidrogênio, que é enviado à célula de combustível SOFC, onde é combinado ao oxigênio para produzir eletricidade (eletrólise). Esta abastece as baterias responsáveis por alimentar o motor que traciona as rodas.
Como é acelerar?
Nossa experiência ao volante do e-Bio Fuel Cell foi bem curtinha, em torno de dois minutos. Resumiu-se a duas voltas em torno do canteiro central de fronte à entrada do estádio do Pacaembu, na zona Oeste de São Paulo. Em termos gerais, a minivan movida a bioetanol funciona como um carro elétrico. Dá-se a partida por botão e o motor não faz qualquer barulho ou ruído.
Tal como no elétrico Nissan Leaf, o torque é instantâneo. Basta pressionar o acelerador e toda a energia gerada pelo motor é enviada às rodas, proporcionando boa saída. Segundo a montadora, a minivan leva em torno de 10 segundos para ir de 0 a 100 km/h, e atinge velocidade máxima de 140 km/h. Seu diferencial é a autonomia de mais de 600 km, que é superior à maioria dos carros elétricos.
Por dentro, o protótipo é igual à minivan elétrica e-NV200, que a Nissan vende na Europa. Só perde a terceira fileira de bancos para acomodar a enorme caixa que agrupa o reformador e a célula de combustível. O box pesa em torno de 250 kg. O tanque de 30 litros de etanol também foi adaptado. De resto, é como um carro a combustão, demonstrando que a solução é sim um caminho possível.
R7