O ministério da Saúde anunciou, na última terça-feira (9), uma nova campanha de vacinação contra a febre amarela, que fraciona o estoque da vacina. A ideia é atingir 19 milhões de pessoas e frear o avanço da doença em São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia.
O fracionamento já foi adotado em outros países e ampliará a cobertura da imunização. Com a estratégia, o governo visa garantir os estoques casos surjam surtos em outras regiões do país. A duração da imunização da dose fracionada é estimada em, pelo menos, oito anos.
Além da vacinação, os governos devem investir também na erradicação do mosquito transmissor. “Fala-se muito no macaco, mas quem transmite o vírus às pessoas é o mosquito que vive na floresta”, afirma Francisco Ivanildo de Oliveira Júnior, infectologista e supervisor médico do ambulatório do Hospital Emílio Ribas.
Hoje, apenas mosquitos Haemagogus e Sabethes transmitem a doença. “Se não for feito o controle dos mosquitos, uma pessoa contagiada pela febre amarela poderá ser picada pelo Aedes aegypti”, diz o médico. “Com isso, ele também poderá ser o transmissor e o ciclo urbano da doença terá início.”
Abaixo, confira as principais perguntas e respostas respondidas pelo infectologista ao R7.
R7 – Quando a vacina será oferecida?
Francisco Ivanildo de Oliveira Júnior — A campanha de vacinação contra a febre amarela começa por São Paulo (de 03 a 24 de fevereiro) e ocorrerá em 53 cidades. No Rio de Janeiro, ocorrerá em 15 dias (de 19 de fevereiro a 09 de março) e na Bahia, em 8 cidades (de 19 de fevereiro a 09 de março). O objetivo é vacinar 19,7 milhões de pessoas. Entre elas, 15 milhões com a vacina fracionada.
R7 – O que é a vacina fracionada?
Oliveira Júnior — A dose antes oferecida para uma pessoa poderá vacinar até quatro pessoas. Alguns grupos, porém, continuarão recendo a dose padrão. Crianças de nove meses a dois anos, pessoas com aids ou que tenham terminado um tratamento com quimioterapia, grávidas e quem viaja e precisa da vacina. Idosos serão avaliados caso a caso. A dose inteira vale para a vida toda. A dose fracionada terá um selo na carteira de vacinação e cadastro no Ministério da Saúde. O fracionamento é uma medida preventiva para garantir cobertura rápida em um curto período de tempo. Ela protege por, pelo menos, oito anos. Alguns especialistas explicam que pode funcionar como uma estratégia de curto prazo para vacinar um grande número de pessoas.
R7 – A dose fracionada perde a eficácia?
Oliveira Júnior — Não. Existem experiências no Congo que comprovam a eficiência da vacina. Mesmo com a dose fracionada, esse vírus consegue se multiplicar e o indivíduo vacinado se torna protegido. Os estudos mostram que essa proteção dura até oito anos. Ainda não há respostas para além desses oito anos.
R7 – Como a doença evolui no organismo?
Oliveira Júnior — A doença ocorre em duas fases. A primeira tem sintomas inespecíficos. O fígado é um dos órgãos mais afetados pelo vírus da febre amarela. O vírus ataca também as células do sistema digestivo, rins, coração, pulmões e até do cérebro. Alguns pacientes podem chegar à falência hepática aguda, ou seja, o fígado para de funcionar e precisa ser transplantado.
R7 – Quais são as fases da doença?
Oliveira Júnior — Nos primeiros dias, a febre amarela apresenta febre alta, náuseas, mal estar e dor de cabeça intensa. No quarto dia, existe uma melhora, um intervalo assintomático, seguido de uma piora com muito mais força. É uma doença bifásica, com urina escura e icterícia. Há risco de hemorragia, quadro de choque e quadro hepático grave. A evolução é rápida e a morte acontece entre o 7º e o 10º dia. A prevenção se dá com a vacina.
R7 – Quem não pode tomar a vacina de forma alguma?
Oliveira Júnior — Crianças menores de seis meses, pessoas que estejam fazendo quimioterapia e radioterapia, pessoas com alergia a ovo, pessoas que vivem com HIV e tem contagem de células CD4 menor do que 350 e pessoas com doenças ativas ou condições que diminuem as defesas do corpo. Quem tiver dúvidas pode esclarecer no próprio posto de saúde.
R7 – A dose fracionada vale para a emissão do certificado internacional?
Oliveira Júnior — A dose fracionada ainda não serve para a emissão do certificado internacional. À medida que surgirem mais estudos, será possível afirmar ou não se quem recebeu essa vacina terá de tomar uma dose reforço. Quem for viajar para algum lugar de risco precisa tomar a vacina 10 dias antes da viagem.
R7